Para os judeus, o templo era o lugar privilegiado de
encontro com Deus. Ali, colocavam-se as ofertas e sacrifícios levados
pelos judeus do mundo inteiro, formando, assim, um verdadeiro tesouro,
administrado pelos sacerdotes. A casa de oração tornara-se lugar de
comércio e de poder, disfarçados em culto piedoso.
Expulsando os comerciantes, Jesus denuncia a
opressão e a exploração dos pobres pelas autoridades religiosas.
Prevendo a ruína do templo, ele mostra que essa instituição religiosa
já estava falida. Doravante, o verdadeiro Templo é o corpo de Jesus,
que é morto, mas ressuscita. Deus não quer habitar em edifícios, mas na
própria pessoa. O apóstolo Paulo afirma que nosso corpo é templo do
Espírito Santo (cf. 1Cor 3.16; 6.20).
O Evangelho de João é conhecido como “Evangelho do
amor”. Nesse relato, no entanto, ele apresenta Jesus em um momento de
ira, de revolta. João aponta para um Jesus humano, que também teve seus
momentos de raiva e indignação. Ele estava ali para cuidar da casa de
seu Pai, para mudar práticas.
Por vezes, achamos tudo tão normal e relativizamos
tudo na vida e no mundo, que já não questionamos mais nada. Ouvimos
muitas vezes: “a vida é assim mesmo, não tem o que fazer”. Jesus muda a
realidade do templo e aponta um problema. O templo girava em torno da
economia e legitimava o sistema econômico, que por sua vez, justificava
o político e o ideológico. E sabemos que o econômico era decidido pelo
Império Romano. Eram suas autoridades que designavam o sumo sacerdote,
que por sua vez, legitimava a opressão via a religião. Jesus diz no
versículo 16: “Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai
um mercado!”. O problema não era somente vender algumas pombas e
cabritos, mas era, na verdade, a venda de todo um país, do povo e do
projeto de Deus. Assim, para Jesus, o templo era um empecilho para a
construção do Reino de Deus, quando deveria ser o contrário.
O texto do Evangelho de João leva-nos também a
refletir e questionar sobre a prática da Igreja hoje. Estamos num tempo
onde se vende de tudo nas igrejas, como sabonetes abençoados, espadim
para lutar com o diabo, envelopes para fogueira santa, enfim, uma
infinidade de ‘produtos’ para alcançar a salvação.
O tempo dos sacrifícios e holocaustos já passou.
Jesus veio ao mundo, cumprindo sua missão até o sacrifício derradeiro.
“Pois o sangue de touros e de bodes não pode, de modo nenhum, tirar os
pecados de ninguém. Por isso, Cristo, ao entrar no mundo disse: ‘Tu, ó
Deus, não queres animais oferecidos em sacrifícios nem ofertas de
cereais, mas preparaste um corpo para mim. Não te agradam as ofertas de
animais queimados inteiros no altar, nem os sacrifícios oferecidos
para tirar pecados’” (Hebreus 10.4-6).
Jesus quer que ofereçamos a nossa vida para cumprir a
vontade de Deus. Quer que o sirvamos com nossas bocas, nossas mãos,
nossos pés, nosso corpo inteiro, no cuidado aos menos favorecidos, na
busca por justiça, igualdade e vida abundante para todos e todas.
Creio que esta narrativa de João, situada no início
do ministério de Jesus, tem o propósito de mostrar, logo de cara, que
Jesus vinha para mudar as práticas religiosas. Vinha para mostrar ao
mundo que o amor às pessoas é o maior desejo de Deus. Que os
sacrifícios e holocaustos deveriam estar a serviço do próximo. Por
isso, ele mesmo doou sua via por amor ao Pai e ao mundo. Amém.
Fonte: Pa. Evelyne Regina Goebel/Caderno de Cultos 2015 da IECLB
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