sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Oficio Divino da Juventude CIFRADO, EM PASTAS NOMEADAS



Tráfico humano, desperte para essa realidade!


Campanha da Fraternidade 2014 Musica, Cifra,









Tom: D

Bm                  Em             A7                D
É para a liberdade que Cristo nos libertou,
F#                  Bm
Jesus libertador!
                       C               F#7              Bm
É para a liberdade que Cristo nos libertou! (Gl 5,1)

CF 2014: A Vergonha Que Representa O Tráfico De Pessoas. Dom Odilo

Dom Odilo fala sobre a vergonha que representa o tráfico de pessoas

Poucas semanas antes de sua vinda ao Brasil, em julho passado, o papa Francisco esteve na ilha de Lampedusa, já próxima da África, no sul da Itália; ali aportam numerosos prófugos da miséria e da violência, procedentes da África e de outras partes do mundo, sonhando com a vida na Europa.
Muitos, de fato, nem conseguem chegar à terra firme e naufragam, ou são abandonados pelos modernos mercadores de escravos no meio do Mediterrâneo em barcos abarrotados e sem o mínimo respeito à sua dignidade. Isso, depois de terem pago caro a alguma organização criminosa pelo transporte e pela promessa de visto e emprego no lugar de destino. Milhares acabam morrendo e jogados ao mar, nada diferente do que acontecia durante séculos com os navios negreiros no período colonial.
O Papa jogou flores ao mar para lembrá-los; ao mesmo tempo, rezou pelos que pereceram e confortou sobreviventes; e denunciou o tráfico de pessoas como uma atividade ignóbil, uma vergonha para sociedades que se dizem civilizadas. Diante dessa questão, os governos muitas vezes ficam indiferentes ou sem ação. Francisco conclamou a todos à superação da “globalização da indiferença”.
Desde tempos imemoriais, o tráfico de pessoas era praticado amplamente e até aceito, geralmente, em vista do trabalho escravo. O Brasil conviveu por séculos com a escravidão de índios e africanos; estes últimos eram adquiridos, traficados e comercializados como “coisa” num mercado vergonhoso, mas florescente. Foram necessários séculos para que a escravidão fosse formalmente proibida e abolida. Um progresso civilizatório!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

As bem-aventuranças: Eu sou feliz é na comunidade! (Mt 5,1-12)


 OLHAR A PRÁTICA DA NOSSA COMUNIDADE
Hoje vamos meditar sobre o começo do "Sermão da Montanha". Certa vez, vendo aquela multidão imensa de gente que o seguia, Jesus subiu num pequeno morro para que todos pudessem vê-lo e ouvi-lo. Sentado lá no alto e olhando o povo, ele disse: "Felizes os pobres". Estas palavras de Jesus fazem a gente pensar e se perguntar: "O que é mesmo a felicidade? Quem é realmente feliz?" Vamos conversar sobre isto.

Jesus de Nazaré: jovem camponês da periferia, mártir e portador de uma pedagogia emancipatória

"Não sabem dialogar, mas só impor. "Que se calem!", gritam. Quem anuncia a paz como fruto da justiça testemunha fraternidade e luta por justiça, o que incomoda o status quo opressor. Mas Jesus, em alto e bom som, com a autoridade de quem vive o que ensina, profetisa: "Se meus discípulos (profetas) se calarem, as pedras gritarão." (Lc 19,40)",

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Quais “Herodes” querem matar a juventude?

Vivemos em tempos de morte de jovens. Além das mortes violentas, frutos da injustiça social, de um modelo público com falta de segurança e coerência, há mortes premeditadas, há mortes decididas em reuniões, há mortes institucionais, há mortes pastorais, há mortes com dia e hora marcadas para acontecer. Causando tudo isso, estão os “Herodes” que usando de seu poder de forma autoritária e opressora outorgam-se títulos divinos de decidir o que deve viver e o que deve morrer sem respeitar processo ou construção alguma, sem respeitar a vida.

Raquel Sá Negro Nagô


As bem-aventuranças como caminho de santidade. Mateus 5,1-12

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"Felizes os que são pobres no espírito, porque deles é o reino dos céus"
(Mateus 5,3).



Todas as pessoas são chamadas à santidade, a fim de serem bem-aventuradas. "Sede santos, porque eu, Javé vosso Deus, sou santo" (Levítico 19,2). A comunidade de Mateus faria uma releitura desse chamado da seguinte forma: "Sede perfeitos, como o Pai celeste é perfeito" (Mateus 5,48). Coerente com sua experiência com o Deus da misericórdia, a comunidade de Lucas formula assim o mesmo convite: "Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso" (Lucas 6,36).

A Juventude Quer Viver



Porque dizer não à redução da maioridade penal


SHOW ERON E ALEX


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Para não dizer que não falei das Martas e Marias


                 PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS MARTAS E MARIAS

(LC 10,38-42)

É muito comum, numa roda de amigos, num churrasco de domingo, ou na partilha da cuida de chimarrão, ouvir piadas. Nessas rodas, antes ou depois, se escutam piadas sobre mulheres.
Mulheres... nas piadas, elas são sensuais, burras, fofoqueiras... mulheres... Nos contos populares ou são boazinhas, só à espera de um príncipe encantado, ou malvadas bruxas, tramando algo de ruim contra outras mulheres. Estou vivendo nesta vida como mulher, construindo, nas relações cotidianas, a humanidade do meu viver mulher. Não é fácil viver como mulher neste mundo assim violentamente patriarcal! Estou tentando...
Tento de um jeito radicalmente desconfiado. Desconfiar é uma atitude de espiritualidade, de alma no corpo, de quem quer resgatar e construir uma história que devolva dignidade a todos e todas os pequenos, sem voz e vez. Desconfiar, para poder ouvir um canto desde sempre cantado baixinho e sufocado pelas "palavras de ordem" gritadas por quem tem poder. Como mulher carrego nos olhos o choro sufocado de milhões de mulheres. Como mulher carrego a ferida da história não contada e esquecida de milhões de mulheres. Sou mulher, por isto desconfio das histórias que ocupam as estantes oficiais das importantes bibliotecas. São histórias contadas a partir de quem? As "verdades" de quem? Crianças, mulheres e empobrecidos, onde estão nessas histórias? Sou mulher, por isso desconfio...
O outono tinha chegado de mansinho, trazendo alguns dias de frio. As oliveiras brilhavam grávidas ao sol doce daqueles dias. Dali a pouco, óleo novo encheria os odres de barro cozido. Óleo e vinho novos: fartura e comida para o inverno que estava se aproximando.
Todas as tardes, Marta guardava um punhado de azeitonas maduras. Em breve, seriam espremidas e transformadas em óleo. Um pouco de azeite é fundamental em casa. Um pouco de azeite reaviva o sabor da comida. O óleo de oliva não deixará azedar o vinho. Um pouco de azeite cura a dor de ouvido e de garganta, faz as crianças crescerem fortes e sadias. Um pouco de azeite deixa a pele macia e cheirosa para o amor...
Fazia muitas luas que Jesus não aparecia naquela região da periferia de Jerusalém chamada Betânia. Era homem do norte, lá da Galiléia, terra de curandeirosn e profetas, gente do campo em luta contra o poder romano e a hipocrisia do templo. Betânia não. Era uma pequena ilha de amor e ternura. Lá se encontravam a casa das discípulas e dos discípulos amados: Marta, Maria e Lázaro.
Era gostoso para Jesus ir à casa de Marta (provavelmente era a mais velha dos irmãos, por isso a casa tinha o seu nome). Crianças, mulheres e pobres se reuniam na casa de Marta. Havia carinho. Maria contava boas histórias que faziam a esperança brilhas nos olhos das pessoas. Marta bendizia Adonai, o Senhor, e repartia o pão. Lázaro e Jesus eram colo seguro para as crianças...
A casa de Marta, mesa da Palavra, do Carinho e da Fração do Pão. A casa de Marta, lugar de inclusão de mulheres, pobres e crianças. Maria e Marta, diáconas da igreja doméstica de Betânia.
Fazia muitas luas que Jesus não aparecia naquela região do sul chamada Betânia. Uma nova moda de pensamentos era trazida pelo exército romano, invadindo também aquelas regiões do sul da Palestina. Filosofia grega e desenvolvimento do pensamento judaico. Alma separada do corpo. Sagrado separado do profano. Céu separado da terra. Mulher inferior ao homem. Algumas pessoas do grupo de Jesus deixavam-se levar por esta nova onda. Diziam que lugar de mulher não era na diaconia, na coordenação da comunidade, no ministério da Palavra e da Fração do Pão. Diziam que mulher era para ficar cozinhando e ouvindo. Tinha até gente que dizia que mulher nunca dava certo porque sempre acabava brigando com outra mulher.
Jesus foi à casa de Marta. O coração estava molhado de tristeza. Sempre tinha desejado no seu grupo um discipulado de pessoas iguais, homens e mulheres vivendo o amor e o serivço aos pobres. E agora, em nome da filosofia dos poderosos romanos, queria-se expulsar as mulheres dos apostolado.
O coração de Jesus estava encharcado de tristeza. Naquele momento, Jesus se lembrou de uma palavra: Dabar - "o que diz acontece". Palavra ouvida e falad. "Maria, Marta, mulheres, não tenham medo. Continuem vivendo, ouvindo e anunciando a Palavra que gera vida nova. Novas relações! Uma Igreja e uma sociedade de iguais! É o fim do poder violento do patriarcado! Marta, não se desespere! Anuncie a Palavra que quebra o fetiche do poder. Palavra que resgata a memória dos pequenos... Maria escolheu a parte melhor... Sejam desconfiadas, afinem os ouvidos do coração para reconhecer as histórias escondidas, sufocadas, apagadas..."
Extraído de Luas... Contos e En-cantos dos Evangelhos, de Maria Soave

Capitalismo e política alimentar. O mundo não pode ser um grande supermercado


Chegamos a sete bilhões de seres humanos habitando nosso planeta. Mais da metade deles vive amontoados em grandes cidades. Distantes dos seus locais de origem. E pela primeira vez na história alcançamos a triste estatística de um bilhão de pessoas passando fome, todos os dias. Ou seja, 14% dos seres humanos não têm direito a sobreviver. E entre eles milhares de crianças e suas mães morrem a cada dia.
Adital
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Entre a população que consegue se alimentar, nos foi imposto uma padronização dos alimentos. Há quatrocentos anos, antes do advento do capitalismo, os humanos se alimentavam com mais de 500 espécies diferentes de vegetais. Há cem anos, com a hegemonia da revolução industrial, reduziu-se para 100 espécies diferentes de alimentos, que depois da lavoura passavam por processos industriais. E há trinta anos, depois da hegemonia do capitalismo financeiro em todo o mundo, hoje, a base de toda alimentação da humanidade está representada em 80% na soja, milho, arroz, feijão, cevada e mandioca. O mundo virou um grande supermercado, único. As pessoas, independentemente do lugar onde moram, se alimentam com a mesma ração básica, fornecida pelas mesmas empresas, como se fôssemos uma grande pocilga a esperar passivos e dominados a distribuição da mesma ração diária.
Uma tragédia, escondida todos os dias pela mídia a serviço da classe dominante, que se locupleta com o banquete de juros, lucros, contas bancárias, champagne, lagosta. Cada vez mais obesos e desumanizados. Empanturrados de injustiças e iniquidade. Por que chegamos a essa situação?
Porque o capitalismo, como modo de organizar a produção, a distribuição dos bens e a vida das pessoas baseada no lucro e na exploração, tomou conta de todo o planeta. E os alimentos foram reduzidos à mera condição de mercadoria. Quem tiver dinheiro pode comprar a energia para seguir vivendo. Quem não tiver dinheiro não pode continuar sobrevivendo. E para ter dinheiro é preciso vender sua força de trabalho, se tiver quem compre. Porque, ao redor de 100 empresas agroalimentárias transnacionais (como Cargill, Monsanto, Dreyfuss, ADM, Syngenta, Bungue, etc.) controlam a maior parte da produção mundial de fertilizantes, agroquímicos, agrotóxicos, as agroindústrias e o mercado de venda desses alimentos.
Porque agora, os alimentos são vendidos e especulados em bolsas de valores internacionais, como se fosse uma matéria-prima qualquer, como minério de ferro, petróleo, etc. e grandes investidores financeiros se transformam em proprietários de milhões de toneladas de alimentos, que especulam e aumentam os preços propositalmente para aumentar seus lucros. Milhões de toneladas de soja, milho, trigo, arroz, até as safras vindouras e ainda nem plantadas de 2018, ou seja 5 anos adiante, já foram vendidas. Esses milhões de toneladas de grãos, que não existem, já têm dono.
A fixação dos preços dos alimentos não segue mais as regras do custo de produção, somados os meios de produção e a força de trabalho. Agora são determinados pelo controle oligopólico que as empresas fazem do mercado, e impõem um mesmo preço para o produto, em todo mundo, e em dólar. E quem tiver um custo superior a isso, vai à falência, pois não consegue repor seus gastos.
Porque, nessa fase de controle do capital financeiro, fictício, sobre os bens, que circula no mundo em proporções 5 vezes maiores do que seu equivalente em produção (255 trilhões de dólares em moeda, para apenas 55 trilhões de dólares em bens anuais) transformou os bens da natureza, como a terra, água, energia, minérios, em meras mercadorias sob seu controle. Daí se produziu uma enorme concentração da propriedade da terra, dos bens da natureza e dos alimentos. E qual é a solução?
Em primeiro lugar precisamos repactuar em todo o planeta o princípio de que alimento não pode ser mercadoria. Alimento é a energia da natureza (sol mais terra, mais água, mais vento) que move os seres humanos, produzidos em harmonia e parceria com os outros seres vivos que formam a imensa biodiversidade do planeta. Todos dependemos de todos, nessa sinergia coletiva de sobrevivência e reprodução. Alimento é um direito de sobrevivência. E portanto, todo ser humano deve ter acesso a essa energia para se reproduzir como ser humano, de maneira igualitária e sem nenhuma condicionante.
Os governos têm adotado o conceito de segurança alimentar, para explicar esse direito, e assim dizer que os governos devem suprir de comida os seus cidadãos. É um pequeno avanço em relação à subordinação total ao mercado. Mas nós, dos movimentos sociais, dizemos que o conceito é insuficiente, porque não resolve o problema nem da produção dos alimentos, nem da distribuição e muito menos do direito. Porque não basta os governos comprarem comida, ou distribuírem dinheiro em "bolsas-famílias" para que as pessoas comprem os alimentos. Os alimentos seguem tratados como mercadorias e dando muito lucro às empresas que fornecem aos governos. E as pessoas seguem dependentes, subalternas, antes do mercado, agora dos governos.
Defendemos o conceito de SOBERANIA ALIMENTAR, que é a necessidade e o direito de que, em cada território, seja uma vila, um povoado, uma tribo, um assentamento, um município, um Estado e até um país, cada povo tem o direito e o dever de produzir seus próprios alimentos. Foi essa prática que garantiu a sobrevivência da humanidade, mesmo em condições mais difíceis. E está provado biologicamente que em todas as partes do nosso planeta é possível produzir a energia - alimentos - para reprodução humana, a partir das condições locais.
A questão fundamental é como garantir a soberania alimentar dos povos. E para isso devemos defender a necessidade de que em primeiro lugar todos os que cultivam a terra e produzem os alimentos, os agricultores, camponeses, tenham o direito à terra e à água. Como um direito de seres humanos. Daí a necessidade da política de repartição dos bens da natureza (terra, água, energia) entre todos, no que chamamos de reforma agrária.
• Precisamos garantir que haja soberania nacional e popular sobre os principais bens da natureza. Não podemos submetê-los às regras da propriedade privada e do lucro. Os bens da natureza não são frutos de trabalho humano. E por isso o Estado, em nome da sociedade, deve submetê-los a uma função social, coletiva, sob controle da sociedade.
• Precisamos de políticas públicas governamentais que estimulem a prática de técnicas agrícolas de produção de alimentos, que não sejam predadoras da natureza, que não usem venenos e que produzam em equilíbrio com a natureza e a biodiversidade, e em abundância para todos. Essas práticas adequadas é que chamamos de agroecologia.
• Precisamos garantir o direito de que as sementes, as diferentes raças de animais e seus melhoramentos genéticos feitos pela humanidade, ao longo da história, sejam acessíveis a todos os agricultores. Não pode haver propriedade privada sobre sementes e seres vivos, como a atual fase do capitalismo nos impõe, com suas leis de patentes, transgênicos e mutações genéticas. As sementes são um patrimônio da humanidade.
• Precisamos garantir que em cada local, região, se produzam os alimentos necessários que a biodiversidade local provê, e assim mantermos os hábitos alimentares e a cultura local, como uma questão inclusive de saúde pública. Pois os cientistas, médicos e biólogos nos ensinam que a alimentação dos seres vivos, para sua reprodução saudável, deve estar em convivência com o habitat e a energia do próprio local.
• Precisamos que os governos garantam a compra de todos os alimentos excedentes produzidos pelos camponeses e usem o poder do Estado para garantir-lhes uma renda adequada e ao mesmo tempo a distribuição dos alimentos a todos os cidadãos.
• Precisamos impedir que as empresas transnacionais continuem controlando qualquer parte do processo de produção dos insumos agrícolas, da produção e distribuição dos alimentos.
• Precisamos desenvolver o beneficiamento dos alimentos (no que se chama de agroindústria) na forma cooperativa sob controle dos camponeses e trabalhadores.
• Precisamos adotar práticas de comércio internacional de alimentos entre os povos baseadas na solidariedade, na complementariedade e na troca. E não mais no oligopólio das empresas, dominadas pelo dólar americano.
O Estado precisa desenvolver políticas públicas que garantam o princípio de que o alimento não é uma mercadoria, é um direito de todos os cidadãos. E as pessoas só viverão em sociedades democráticas, com seus direitos mínimos assegurados, se tiverem acesso ao alimento-energia necessário.
O alimento não é mercadoria, é um direito!
João Pedro Stédile - Brasileiro, cidadão do mundo e membro da Vía Campesina e do MST, São Paulo, SP  

Punir: o caminho mais fácil para o inferno (sobre Maioridade Penal) - Bispo Francisco Silva


Fico estarrecido com a apologia à campanha pela redução da maioridade penal. Os argumentos já são conhecidos por um silogismo perverso do tipo: se pode votar pode respeitar as leis, entre outros.
A sigla deveria se repensar. Um partido que se denomina Social e Cristão assume uma plataforma reacionária e de enfrentamento fácil do problema da criminalidade apontando uma solução meramente punitiva para a situação dos jovens e adolescentes em conflito com a lei.
Este é o tipo de proposta que é defendida por aqueles que ignoram completamente a responsabilidade do Estado e da sociedade com seus filhos. Num país como o nosso que pretende ingressar no seleto grupo das sociedades desenvolvidas é triste observar que alguns dos seus agentes públicos busquem o simplismo da lei sem assumirem a responsabilidade de oferecer as condições mínimas de educação e dignidade aos nossos jovens. Políticas públicas para a Juventude ainda estão no plano das intenções e se arrastam há anos dentro dos gabinetes dos políticos e das comissões legislativas sem no entanto serem assumidas com seriedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente, considerado marco de civilidade da sociedade brasileira, não tem sido implementado de fato para garantir o que ele próprio mais deseja assegurar. Não se garante direitos somente com textos jurídicos. Garante-se direitos com políticas efetivas.
Mas passemos agora para um outro aspecto. O das instituições que se encarregam de ressocializar os adolescentes e jovens em conflito com a lei. Estas estão sucateadas, dominadas pelo despreparo da maioria de seus agentes. Ao invés de garantir a ressocialização, acabam repetindo o modelo dos estabelecimentos prisionais do país: aguçam a revolta e a escolarização no crime.
É isso que queremos de verdade? O custo de uma opção punitiva para os de menor idade apenas aumentarão a espiral de internados e não garantirão um futuro mais seguro para a sociedade. A prática da violência custa muito mais aos cofres públicos do que implementar políticas públicas de base que garantam a dignidade de nossas crianças e jovens.
Numa sociedade dominada pela ideologia consumista, onde o mercado tudo vende, do lazer até a educação, que transforma nossas gerações mais novas em multidões de indivíduos seduzidos pelas "coisas" e serviços que não podem adquirir, sem oferecer adequados recursos de empoderamento dessas gerações, não pode simplesmente achar que instrumentos punitivos resolvam a questão da violência.
Chega a ser hipócrita o comportamento das elites em se garantir com seus privilégios e garantir-se por trás de um arcabouço legal que pune adolescentes em tenra idade sem que se garanta desde a infância, para estes, as condições de igualdade e dignidade. É mais fácil pagar impostos para fortalecer os aparelhos de segurança do que pagar impostos para educar com qualidade as novas gerações. Para estes segmentos talvez seja mais seguro investir em centros de ressocialização do que em salas de aula. Se esquecem, no entanto, que o custo com a repressão é maior do que o custo da educação.
Infelizmente, em nosso país, as crianças e adolescentes são mais vítimas da violência do que autores de violência. A meu ver, esta discussão de reduzir a maioridade penal é uma fuga articulada das responsabilidades que temos como sociedade com nossas crianças e adolescentes. Punir é o caminho mais fácil. Mas lembrando um ditado popular, repito: o caminho mais fácil sempre acaba levando ao Inferno!
Francisco é bispo da Diocese Anglicana de Santa Maria/RS

Outro consumidor (soberano) para a outra economia

Outro consumidor (soberano) para a outra economia


O consumo é uma cultura
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«A sociedade de consumo» pode ser entendida como um conjunto determinado de valores, crenças, ritos, linguagens, símbolos, instituições e as formas de as pessoas se relacionarem umas com as outras; uma forma de vida característica de um grupo humano, à qual os sociólogos dão o nome de cultura. O consumo é uma cultura, um modo de ver e entender o mundo, e dirigir o comportamento das pessoas.
Efetivamente, estamos organizados ao redor de ritos (ir às compras), instituições pelas quais nos exprimimos (centros comerciais, televisão), uma linguagem (a publicidade), uma forma de nos relacionarmos com os demais (comprar e vender, comparar o que outros têm), valores (propriedade privada, tanto tem, tanto vale...), símbolos. Estamos imersos em um sistema que invade cada vez mais os espaços da existência das pessoas, e procura dar sentido e reger a sua vida.
Valores entre os quais se poderiam mencionar as preocupações pela beleza e pela saúde, pela juventude, ou pelo que é natural, refletidos nas pautas de consumo ao buscar certo hedonismo e um sentir-se bem consigo mesmo, física, intelectual e espiritualmente. Assim, a composição, quantitativa e qualitativa do que se gasta na alimentação, na beleza, na cosmética e no esporte ou no ócio, demonstraria esta busca de evasão, de prazer. Demonstra-se assim que o consumo chega a ser o que dá o sentido final ao comportamento das pessoas, pois dele depende a possibilidade de cumprir o projeto de vida que se tem.
A cultura do consumo é uma cultura opressora
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Esta cultura da qual se fala, sem dúvida, só é possível para uma pequena parte da população: mil e setecentos bilhões (uma quarta parte da população mundial) é o que se calcula que forma a classe consumidora mundial. Efetivamente, segundo se conclui de dados que proporcionam o WorldWatch Institute em seu informe A Situação do Mundo 2004, somente 28% da população mundial vive nesta cultura. Nas zonas do mundo industrializado, essa classe chega a cerca de 80%, enquanto nos países em desenvolvimento representa apenas 17%.
Seria então possível falar de uma cultura opressora em três níveis:
• A do eu.Como bem expressaram Alicia Arrizabalaga e Daniel Wagman em seu livro Vivir mejor com menos (1997), é necessário passar do «já que não posso possuir aquilo que desejo, conformar-me-ei com o que tenho», o «posso viver melhor se aprendo que a felicidade não vem das posses, do consumo de dinheiro». Em plena crise de ideais em que parece ter entrado a nossa sociedade, o consumo se apresenta para muitas pessoas como um modo (talvez único) de chegar à felicidade. Como está refletido nas conclusões do grupo interdisciplinar de professores «Proyecto Deseo Hermanos»: Sabemos que queremos alguma coisa e o queremos com veemência e paixão, mas se tem a impressão de que não podemos saber do que se trata. Esta incapacidade nos faz sentir estranhos, sobretudo quando a nossa espécie está tão obsessivamente atenta a tudo que diz respeito à sua satisfação e quando a quantidade de coisas a adquirir, a fazer, a experimentar -a desejar- é maior do que nunca (...). Como o coração e a mente humana, a cultura do mercado -a vida como uma grande negociação do "quero isto, quero aquilo, vendo-lhe isto e você me vende aquilo"- ocupa quase todas as atividades humanas.
• O dos outros. O sistema de consumo mundial mantém relações de desigualdade com os países produtores de matérias-primas ou intensivas de mão de obra barata. As sociedades desenvolvidas demandam cada vez mais produtos a menor custo unitário de produção, enquanto vendem os seus produtos de alto valor aumentado ao mercado mundial. A liberalização à entrada de mercadorias de países em vias de desenvolvimento, a deteriorização das condições laboratoriais, inclusive a exploração da mão de obra dos países produtores, a concentração da riqueza, etc., são alguns dos exemplos como esta sociedade complexa aproveita dos demais.
• O do planeta. Os problemas ecológicos afetam todo o planeta, mas se suportam de modos distintos: enquanto nos países industrializados é essencialmente um problema de qualidade de vida, em outros menos desenvolvidos é um problema de sobrevivência. Na raiz de muitos problemas desses países está a deterioração ambiental que, em sua maior medida, é criada pelos países com maiores índices de consumo e resíduos. A causa da decadência do meio ambiente deve ser encontrada nos hábitos que caracterizam a sociedade de consumo, que se pode dizer que se baseiam na queda da energia.
Surgiram assim 4 grandes questões que devem enfrentar os consumidores/habitantes dessa cultura:
, está proporcionando o nosso crescente nível de consumo uma melhoria de qualidade de vida da classe consumidora mundial?
, pode a sociedade consumir de modo equilibrado, conseguindo harmonizar consumo e conservação do meio ambiente?
, podem as sociedades reorientar as opções que se oferecem aos consumidores para que sua capacidade de opção seja real?
, pode a sociedade conceder prioridade para satisfazer as necessidades básicas de toda a população?
A resposta obviamente é que deveria ser afirmativa às três últimas questões e negativa à primeira. O custo pessoal, que leva a um nível elevado de consumo (endividamento; substituição de efeitos...), unido ao desequilíbrio no meio ambiente e social, que provoca o elevado consumo da sociedade atual, obriga a serem dadas essas respostas e a haver novas propostas. Reorientando as prioridades da sociedade até uma melhora do bem-estar, em vez de a melhoria do bem-estar, poderia utilizar o consumo não como motor da economia, mas como ferramenta para melhorar a qualidade de vida.
Soberania consumidora
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Em economia, o consumidor sempre é tratado com respeito e carinho, pois não em vão ele é a razão de ser do mercado, a causa para a qual se produz e o objeto do desejo de marcas que competem por sua vontade, sua fidelidade e seu bolso. Quando se procura nos dicionários econômicos a definição de soberania do consumidor, costumam aparecer termos como «característica de um sistema de livre mercado, onde os consumidores orientam a produção»; «ideia segundo a qual os consumidores decidem em última instância o que se deverá produzir (ou não) mediante o ato mesmo de escolher o que se deverá comprar (e o que não)».
Definitivamente, se está falando de um aumento de poderio do consumidor convertido em indiscutível gestor do mercado.
Sem dúvida, a onipotente característica de um soberano que, com suas preferências, dirige a economia, não é totalmente certa nem defensável. Em um mundo competitivo e baseado no consumo aberto, o truque é fazer crer ao consumidor que ele é livre para escolher o que quiser, sempre que queira o que lhe é oferecido. Como os monarcas absolutos no Despotismo Ilustrado do século XVIII, que usavam a sua autoridade para introduzir reformas na estrutura política e social dos seus países, nós podemos estar assistindo atualmente a um Consumismo Ilustrado: «tudo para o consumidor, mas sem o consumidor».
Por outro lado, o consumidor supostamente sujeito a direitos e deveres, não pode (ou não quer) exercê-los. Em termos legais a cobertura é perfeita: qualquer cidadão tem direito a comprar só o que quer comprar. Na prática, porém, não é assim: são direitos geralmente desconhecidos, distantes, e redigidos pensando no consumidor individual. Proteger a sua segurança, sua saúde e seus interesses; promover a informação e a educação para escolher com liberdade (mas sem se esquecer de escolher), etc.
A respeito dos deveres a coisa é mais simples: o único dever do consumidor parece ser pagar. Não se costuma fazer referência ao dever de se informar sobre as condições sociais e de meio ambiente nas quais se produziu o que se está comprando.
À primazia do consumidor individual, dono e senhor do mercado, correspondia o novo conceito de Soberania Consumidora. Se a Soberania Alimentar é direito dos povos de controlar as suas políticas agrícolas; a decidir o que cultivar; a produzir localmente, respeitando o território; a ter em suas mãos o controle dos recursos naturais (água, sementes, terra), a Soberania Consumidora deveria ser entendida como o direito de as pessoas decidirem coletivamente o quê, por que e para que querem consumir.
O mecanismo do mercado deveria assim funcionar como forma de participação política na qual nós, consumidores, passemos da racionalidade e utilitarismo, de critérios de comportamentos fundamentais, para critérios de transformação global que coloquem as pessoas, o Planeta e suas relações de consumo no centro da decisão.
Fonte: www.adital.org.br 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O testemunho do Batista (Jo 1,29-34)

  Batista foi um grande mestre para Jesus. Segundo os evangelhos, Jesus foi sendo reconhecido por João como o discípulo que superou o seu mestre. E quando Herodes capturou João e o encarcerou, Jesus passou a assumir a liderança do movimento de renovação em Israel. Sua mensagem dava continuidade à missão de João. João e depois Jesus anunciavam: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (cf. Mt 3,1-2; 4,17). No Evangelho de João, história e símbolo se misturam. No texto de hoje, o simbolismo consiste, sobretudo, em evocações de textos conhecidos do Antigo Testamento que revelam algo a respeito da identidade de Jesus. Nestes poucos versos (João 1,29-34) existem as seguintes expressões com densidade simbólica: 1) Cordeiro de Deus; 2) Tirar o pecado do mundo; 3) Existia antes de mim; 4) A descida do Espírito sob a imagem de uma pomba; 5) Filho de Deus. Cordeiro de Deus (João 1,29) Este título evocava a memória do Êxodo. Na noite da primeira Páscoa, o sangue do Cordeiro Pascal, passado nos umbrais das portas das casas, e a refeição comunitária tinham sido sinais de libertação para o povo (Êxodo 12,1-14). Para os primeiros cristãos, Jesus é o novo Cordeiro Pascal que doa sua vida como servo e liberta o seu povo (1 Coríntios 5,7; 1 Pedro 1,19; Apocalipse 5,6.9). A partir dessa imagem da primeira Páscoa, Jesus atualiza o Êxodo libertador, promovendo vida, libertando de tudo o que escraviza e oprime. Hoje, tornar-se discípulo deste Cordeiro é segui-lo no caminho da defesa e cuidado da vida. “Depois de mim, vem um homem que passou adiante de mim” (João 1,30). Para o Batista, Jesus é um homem que o seguia, mas que agora vai além dele. Tirar o pecado do mundo (João 1,29) Evoca a frase tão bonita da profecia de Jeremias: “Ninguém mais precisará ensinar seu próximo ou seu irmão dizendo: ‘Procure conhecer a Javé’, porque todos, grandes e pequenos, me conhecerão, pois eu perdoo suas culpas e esqueço seus pecados” (Jeremias 31,34). Para a comunidade joanina, o pecado do mundo é o sistema que sustenta e justifica preconceitos e ódio, violência e exclusão, imperialismos grandes ou pequenos. Pecado é a ausência de amor e de justiça. Não é por acaso que este evangelho usa muito a palavra mundo: “Se o mundo vos odeia...” (João 15,18). E o mundo que odeia persegue e mata. Este mundo justamente está em pecado porque gera morte. O pecado está em todo o sistema e nas pessoas que diminuem a vida (cf. João 15,18-22). É por isso também que Jesus diz: “Meu Reino não é deste mundo” (João 18,36), isto é, seu reinado não é como este mundo em pecado, mas é alternativo, é de justiça, de amor e de partilha. Por Jesus doar-se ao cuidado da vida na construção de um mundo novo sob o reinado de Deus, ele foi morto pelos poderosos de seu tempo. Da mesma forma, o cordeiro na Páscoa judaica dá a vida como memorial da experiência libertadora com Deus no Êxodo. Hoje, está em pecado quem adere ao sistema do mundo, tornando-se colaborador de todos os seus males. Está em pecado quem entra na lógica do sistema pecaminoso que calunia e difama as pessoas que se engajam na promoção de um mundo mais justo, isto é, que lutam para eliminar o pecado deste mundo, fortalecidas com a presença do Cordeiro. Existia antes de mim (João 1,30) Evoca vários textos dos livros sapienciais, nos quais se fala da Sabedoria de Deus que existia antes de todas as outras criaturas e que estava junto de Deus como mestre-de-obras na criação do universo e que, por fim, foi morar no meio do povo de Deus (Provérbios 8,22-31; Eclesiástico 24,1-11). Jesus encarna essa Sabedoria divina, geradora de vida desde o início da criação (Gênesis 1). Mas não somente encarna a Palavra criadora. Ele também encarna a Palavra libertadora que “veio armar tenda no meio de nós” (João 1,14), tal como Deus habitara em uma tenda no meio do seu povo na caminhada pelo deserto em busca de vida digna na liberdade (cf. Êxodo 25,8). Descida do Espírito como imagem de uma pomba (João 1,32) Evoca a ação criadora onde se diz que “o espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2). O texto de Gênesis sugere a imagem de um pássaro que fica esvoaçando em cima do ninho. Imagem da nova criação em andamento através da ação de Jesus. Toda a vida de Jesus é animada pelo Espírito que o unge para a missão de comunicar a vida e o amor fiel de Deus. Jesus assumia tão intensamente o Espírito do Pai a ponto de se identificar com ele. E seu batismo é no Espírito, isto é, comunica o amor de Deus a quem adere a seu projeto de vida. Filho de Deus (João 1,34) Este é o título que resume todos os outros. O melhor comentário deste título é a explicação do próprio Jesus: “As autoridades dos judeus responderam: Não queremos te apedrejar por causa de boas obras, e sim por causa de uma blasfêmia: tu és apenas um homem, e te fazes passar por Deus. Jesus disse: Por acaso, não é na Lei de vocês que está escrito: Eu disse: vocês são deuses? Ninguém pode anular a Escritura. Ora, a Lei chama de deuses as pessoas para as quais a palavra de Deus foi dirigida. O Pai me consagrou e me enviou ao mundo. Por que vocês me acusam de blasfêmia, se eu digo que sou Filho de Deus? Se não faço as obras do meu Pai, vocês não precisam acreditar em mim. Mas se eu as faço, mesmo que vocês não queiram acreditar em mim, acreditem pelo menos em minhas obras. Assim vocês conhecerão, de uma vez por todas, que o Pai está presente em mim, e eu no Pai." (Jo 10,33-39). Se no início do texto de hoje João afirma a humanidade de Jesus (João 1,30), agora afirma a sua divindade (João 1,34). E, na medida em que vamos assumindo nossa condição de filhas e filhos de Deus, tornamo-nos sempre mais irmãs e irmãos de Jesus. Tornamo-nos também pessoas divinas, como reza o Salmo que Jesus recordou (cf. Salmo 82,6).

A Fé, a Vontade e a Coragem

A Fé, a Vontade e a Coragem


A Fé, a Vontade e a Coragem
Tenho buscado de todas as formas, preservar na minha vida de Poeta e Militante, mas sobretudo, na minha vida de educador popular, esta trilogia que defendo ser imprescindível ao trabalho profético-militante. Sem essa trilogia não pode haver poesia e sem poesia a fé definha, a vontade cansa e a coragem esmorece. Já não falamos mais assim de militância, mais de trabalho forçado. Já não falamos mais de fé, mas de ideologia apenas. Já não temos mais coragem, apenas instinto. A militância quando substituída por trabalho forçado torna-se um perigo. Porque o povo se torna objeto de manipulação. A coragem quando limitada ao instinto reduz a fé a um ideologismo ateísta e vingativo. Nesta situação o “eu” e o “meu” na prática, abortam o “nós” e o “nosso” e numa relação desingraçada – sem graça – anti-dialética onde, separados, os primeiros falam, falam..., nos cansam de tanto falar. Não convencem ninguém, nem a eles mesmos ou a quem fala por eles, tudo para que os outros não sejam ouvidos. Este é o principal objetivo. O silêncio do outro. São incapazes neste contexto de gerar mudança, porque além de jamais mudarem a si mesmos, seus ideólogos têm como meta maior, combater quem pensa diferente. Educar, para eles, por mais que digam sempre o contrário, é domesticar. Ensinar a pensar como eles pensam.
Logo na introdução do Dicionário Paulo Freire seus organizadores dizem,“Igualmente, o desafio de uma educação progressista é construir alternativas aos processos domesticadores da indústria cultural, que busca homogeneizar as formas de pensamento e alienar nossas consciências diante da realidade que constitui nosso ser no mundo” (STRECK, REDIN e ZITKOSKI, 2010, p. 20). Quem age ao contrário, construindo guetos, difamando e eliminando os diferentes, domestica e não liberta, padroniza tudo a partir de sua própria absolutização da verdade. E quando se faz isto em nome de Paulo Freire, da educação popular e da libertação dos oprimidos, aí é patologia. Haja Fé, Coragem e Vontade. Afastar-se destes laboratórios de “experiências” onde os fins justificam os meios, é sinal de serenidade.
Acontece que o lugar da militância é ocupado pela tarefa. O(a) militante assume o papel de tarefeiro(a). Esta, ao contrário daquela, não exige planejamento sério, efetivamente participativo, basta o instinto e a “vontade” de lutar, basta saber agitar, desagregar, o que é muito diferente de desacomodar. Basta saber destruir, o que é muito diferente do desconstruir freireano. Para a função de tarefeiro(a), não precisa ser educador(a). Basta ter disponibilidade, não é preciso amorosidade, nem disciplina, ou capacidade de conviver com a alteridade. Basta ter tempo e “vontade” para viajar e dormir fora, o que é absolutamente diferente de ter vocação para o serviço e coragem para correr riscos. Não sabe e não quer saber o que é o “Que Fazer” freireano, a tarefa lhe faz entretido(a) e é o que seu instinto pode ver e executar. O professor Danilo Streck em artigo sobre este tema freireano, “Que Fazer” no Dicionário Paulo Freire, por ele organizado, tem um significado de “Que Fazer” que nos ajuda a entender este conceito, “O Que Fazer freiriano implica na construção de uma pedagogia da libertação (...)” (AUTÊNTICA, 2010, p. 336). Neste sentido, sim, está muito além da tarefa, do “meu” grupinho “sagrado” e merecedor privilegiado dos desvios de recursos e tempo. Para cumprir uma tarefa pode ser qualquer um. Como o interesse não é o de quem a cumpre, mas de quem manda cumprir, a relação é de obediência e não de libertação.
Para quem é educador(a) popular, militante e não se prende às tentações do tal poder que envenena as “Boas Intenções”, desvia os propósitos, desmonta os coletivos e faz fracassar bons projetos e respeitadas instituições, a Fé é a maior de todas as exigências. Neste contexto é que a Fé, a Vontade e a Coragem, sempre juntas, lideradas pela Fé, claro, porque separadas elas até são fáceis de ser encontradas, são determinantes. Acontece que, a Fé sem a Vontade e a Coragem é quase uma fornicação; a Vontade sem a Fé e sem a Coragem, é mero instinto, não, precisa de militantes. Bastam-lhes aventureiras(os) sem causa e sem fé, tarefeiros; e a Coragem sem a Fé e sem a Vontade vira força bruta, terror que amedronta o povo. Truculência. A educação, sobretudo uma que se diga popular, freireana, libertadora, precisa nos colocar dentro da roda da vida. Não pode ser na “rodinha” de meus amigos. Além disto, tem que fazer nos vermos girando nesta roda, aprendendo e ensinando. Entrando e saindo em cada fase do processo educativo e saindo sempre diferente. Mais humilde, mais amoroso, mais compreensivo e compassivo, menos arrogante. Menos manipulador e, portanto, menos violento. Vejamos o que diz o professor Danilo Streck, em outro artigo seu no Dicionário Paulo Freire,
Para compreender o conceito de manipulação, em Freire, é preciso entender a relação política e pedagógica estabelecida com as classes populares. Relação que envolve oprimidos e opressores no interior de um país, entre países e que pode está presente, também na relação entre os oprimidos e os que com eles se comprometem, (STRECK, in DPF, 2010, p. 252).
Talvez se diga: entre os que dizem que se comprometem, porque em nome do diálogo, da dialética, da esperança e da libertação, também se oprime. Como ainda nos lembra Danilo Streck, “Do ponto de vista dos estudantes, um professor dialógico que é incompetente e que não é sério provoca conseqüências muito piores do que um educador `bancário` sério e bem informado” (STRECK in DPF, 2010, p. 362). A pergunta que decorre automaticamente desta afirmação é: é possível ser dialógico sem  ser sério e competente? Quem só tem vontade vive morrendo de inveja de quem tem fé, como se fé fosse uma força mágica. Quem só tem coragem é kamikaze, morre sem saber por quê? Mas sempre mata alguém antes. Quem tem fé, como esta aqui mostrada, necessariamente é movido por uma vontade cheia de coragem e não tem medo de recomeçar. Ter fé é está cheio de vontade de mudando-se mudar mundo. É está cheio de coragem de correr os riscos que a mudança exige. Inclusive o risco de ser ignorado.
João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante.
Educador Popular e assessor das CEBs-Pr
Assessor na Arquidiocese de Curitiba da CF2012
Mestrando em Teologia pela PUCPR.