terça-feira, 29 de julho de 2014

Pouco a pouco, Israel está apagando a Palestina do mapa [Eduardo Galeano]




      Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.

      Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou legitimamente as eleições em 2006. Algo parecido tinha ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.

      Banhados em sangue, os habitantes de El Salvador expiaram a sua má conduta e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem. São filhos da impotência os rockets caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desleixada pontaria sobre as terras que tinham sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à orla da loucura suicida, é a mãe das ameaças que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há muitos anos, o direito à existência da Palestina. Já pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está a apagá-la do mapa.

sábado, 26 de julho de 2014

Dados oficiais maquiam vários processos de remoção no país


Copa para que?<br>Fonte: Desconhecido
Em resposta à afirmação do Governo Federal de que “apenas” 10,8 mil famílias foram removidas de suas casas em virtudes das obras da Copa do Mundo, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP), vem a público afirmar:

1) Os dados do Governo infelizmente maquiam vários processos reais de remoção:

a) Diversas foram as alterações nas obras consideradas na “matriz de responsabilidade da Copa”. Todavia, existiram obras inicialmente pensadas para servir à Copa do Mundo, e que de fato atenderam ao modelo de cidade fortalecida pelo megaevento, que produziram processo de remoções forçadas. Em nosso levantamento, consideramos todas as obras que direta ou indiretamente foram em algum momento vinculada à Copa do Mundo para que, sob a desculpa dos jogos, forçasse a remoção das pessoas.

b) É necessário incluir as obras olímpicas, uma vez que também existe uma matriz de responsabilidade que envolve os três entes governamentais. Copa do Mundo e Olimpíadas fazem parte de um mesmo projeto de destruição e privatização do direto à cidade.

2) Os dados do Governo não consideram a violência dos processos de remoção

a) Muitas das obras foram feitas a toque de caixa, desconsiderando os procedimentos legais estabelecidos no Estatuto da Cidade ou, ainda, quando estes foram realizados, caso de algumas audiências públicas, serviram apenas como mero processo formal, sem nenhum impacto no processo decisório.

''Como Jesus, vou usar o bastão contra os padres pedófilos.'' Entrevista com o Papa Francisco.



Papa Francisco<br>Fonte: Acervo Livre.
"A pedofilia é uma lepra que há na Igreja e também afeta os bispos e os cardeais. Alguns sacerdotes passam por cima do fenômeno mafioso: a denúncia pública é rara".

São as 17 horas da quinta-feira, 10 de julho, e é a terceira vez que eu encontro o Papa Francisco para conversar com ele. Sobre o quê? Sobre o seu pontificado, que começou há pouco mais de um ano e que, em tão pouco tempo, já começou a revolucionar a Igreja; sobre as relações entre os fiéis e o papa que vem do outro lado do mundo; sobre o Concílio Vaticano II concluído há 50 anos e apenas parcialmente implementado nas suas conclusões; sobre o mundo moderno e a tradição cristã e, sobretudo, sobre a figura de Jesus de Nazaré.

Finalmente, sobre a nossa vida, sobre os seus afãs e as suas alegrias, sobre os seus desafios e o seu destino, sobre o que nos espera em um esperado além ou sobre o nada que a morte traz consigo.

Esses nossos encontros foram desejados pelo Papa Francisco, porque, entre as tantas pessoas de todas as condições sociais, de todas as fés, de todas as idades que ele encontra no seu apostolado cotidiano, ele também desejava trocar ideias e sentimentos com um não crente.

E eu o sou; um não crente que ama a figura humana de Jesus, a sua pregação, a sua lenda, o mito que ele representa aos olhos de quem reconhece uma humanidade de excepcional densidade, mas nenhuma divindade.

O papa considera que uma conversa com um não crente do gênero é reciprocamente estimulante e, por isso, quer continuá-la; digo isso porque foi ele quem me disse. O fato de eu também ser jornalista não o interessa especificamente; eu poderia ser engenheiro, professor escolar, operário.

CIMI lança relatório com dados de violência contra os povos indígenas em 2013



Capa do relatório.<br>Fonte: Assessoria de Comunicação - CIMI
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou, no dia 17 de julho, o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil que sistematiza os dados de violências cometidas contra os povos e comunidades indígenas em 2013. O panorama político explicita que as recentes investidas e ataques contra os direitos dessas populações têm um reflexo direto nas aldeias em todo o país. A paralisação das demarcações de terras, a tentativa de retirar direitos garantidos através de projetos de emenda à Constituição, portarias e decretos, a proposta de modificar o procedimento administrativo de demarcação das terras e as manifestações ruralistas realizadas em vários estados, dentre outros atos anti-indígenas, tiveram como consequência o acirramento dos conflitos que envolvem a disputa de terras.

Há mais de 20 anos o Cimi sistematiza informações levantadas por suas equipes espalhadas pelo Brasil, que atuam próximas ou até mesmo nas próprias áreas indígenas. Dados pesquisados junto aos órgãos públicos e notícias veiculadas pela imprensa também servem de base para o relatório.

Dividida em quatro partes, a publicação traz no primeiro capítulo as seguintes categorias: omissão e morosidade na regularização das terras indígenas; conflitos relativos a direitos territoriais; e invasões, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio. A segunda parte apresenta as violências cometidas “contra a pessoa”, dentre elas constam assassinato, ameaça de morte, abuso de poder, homicídio culposo, lesão corporal dolosa, racismo e discriminação e violência sexual, dentre outras. Já o terceiro capítulo traz dados sobre as violências causadas por omissão do poder público, como desassistência geral e desassistência nas áreas de saúde e educação, morte por desassistência, mortalidade infantil e suicídio. E, por último, há informações sobre os povos indígenas que vivem em situação de isolamento ou de pouco contato no Brasil e as principais ameaças a que estão sujeitos.

Mateus 13,1-23: A semente que cai em diferentes solos [Ildo Bohn Gass]



As parábolas revelam a força do Reino (Mt 13,1-3)

Parábola vem do grego parabolê, verbete formado por duas palavras. Uma delas é pará, cujo significado é “ao lado de”, “ao longo de”, “para além de”, como, por exemplo, em parapsicologia. A outra é bolê, que vem do verbo grego que significa “jogar”, “lançar”, como, por exemplo, em símbolo (jogar junto, unir) e diabo (do grego, diábolos, “jogar através”, “dividir”). Portanto, parábola quer dizer jogar para além de, lançar ao longo de. A parábola sinaliza algo além, provoca uma busca de algo mais profundo. É como o retrovisor de um carro. Olhamos para ele não para deter nosso olhar em seu formato, mas para alcançar o lugar além dele, para onde seu espelho orientar a nossa visão.

Os capítulos 11 e 12 de Mateus descrevem a prática libertadora de Jesus de Nazaré, a partir da qual “os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Essa prática provocou a oposição de autoridades que tentaram desacreditar Jesus e buscar uma forma de “levá-lo à morte” (Mt 12,1-2.14.24). 

No capítulo 13, Jesus ilustra essa prática contando parábolas, cuja mensagem principal é revelar o mistério e a força do Reino agindo como semente que fecunda a vida em meio a projetos em conflito. Parábolas são narrativas alegóricas, figuradas, e querem transmitir uma mensagem, como que “lançando a pergunta” para que a pessoa ouvinte conclua. Conduzem-nos para além da imagem, para realidades mais profundas. São um convite ao discernimento: “Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 13,9; cf. 11,15; 13,43). Busquemos, pois, o sentido dessas figuras na parábola da semente que cai em diferentes solos.


Quem compreende e quem não entende as parábolas (Mt 13,10-17)

Mateus 13,10-17 é uma inserção entre a parábola do semeador (vv. 4-9) e a sua explicação (vv. 18-23). Com essa narrativa, a comunidade mateana quer revelar-nos a razão pela qual há pessoas que, por não terem fé, não compreendem as parábolas. Por não acreditarem, não ouvem, nem veem (v. 13). Por isso, não aderem à boa nova libertadora de Jesus. Vale também o inverso: por terem outro projeto de vida, as pessoas acabam ou tapando os seus ouvidos ao entendimento, ou fechando seus olhos para não perceberem o óbvio e se manterem em seu projeto de sociedade excludente. Em consequência, por terem um coração insensível (v. 15), acabam perdendo o que têm, tornando-se pessoas alienadas que facilmente se vendem a qualquer projeto que lhes dê privilégios, pois rejeitaram Jesus. São como o terreno à beira do caminho, deixando-se levar pelo maligno e aderindo ao projeto dele, cujo fundamento é a injustiça. 

Por outro lado, a comunidade de Mateus mostra-nos por que são felizes as pessoas que aderem ao projeto do Reino. Compreendem, porque acreditam, confiam e têm espírito aberto. E por aderirem a Jesus, uma vez que têm coração sensível, seus ouvidos ouvem e seus olhos enxergam ainda melhor (v. 16). Com consciência esclarecida, buscam sempre mais aproximar-se da terra boa, que produz frutos, muitos frutos de justiça.

 
O Reino é dom e tarefa (Mt 13,4-9)

Ao contar a parábola do semeador e dos diferentes solos, Jesus revela sua consciência em relação à realidade dos camponeses de seu tempo. Ele mesmo era um deles. Nem todos os camponeses tinham acesso às terras boas, controladas pelos que tinham mais poder. Muitas famílias tinham que se contentar com terras pedregosas. Havia ainda aquelas famílias que não tinham terra, de modo que lhes restava semear à beira dos caminhos.

Com esta parábola, Jesus quer ensinar-nos que o Reino é dom de Deus e não depende só de nossos esforços. A semente, a sua Palavra de vida, é lançada pelo próprio Deus. A ação do Espírito é como a energia do vento que sopra em todas as partes (Jo 3,8). É como a semente que germina por si só (Mc 4,26-29). E ainda, a força do Reino é comparável com a energia da semente de mostarda que, sendo “a menor de todas as sementes, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças” (Mt 13,32). Portanto, fazer parte da comunidade de Jesus é acreditar nessa graça de Deus que age em e através de nós.

De outra parte, acreditar nessa graça de Deus atuante em nós é uma postura de fé, que depende do nosso compromisso com o projeto de Jesus, enquanto buscamos ser seus discípulos, acolhendo a Palavra e gerando frutos em terra boa. Os frutos do Reino não dependem somente do dom de Deus, mas derivam também de uma espiritualidade engajada. A força do Espírito é como a chuva que desce das nuvens. Se ela cai no asfalto, ali dificilmente fará germinar vida. No entanto, se ela cair sobre a terra, tornando-a fecunda, fará brotar a vida de múltiplas formas. Para ouvir a voz do vento (Jo 3,8), para ouvir a voz do pastor e abrir a porta (Jo 10,3-4; Ap 3,20) é preciso buscar, fazer silêncio para entrar em sintonia com Deus. 


As diferentes reações de quem escuta a Palavra (Mt 13,18-23)

Em dois momentos, as comunidades aplicam a parábola contada por Jesus à rejeição de sua Palavra, bem como ao seu seguimento.

Na primeira parte, as comunidades apresentam-nos três posturas de vida que tornam a Palavra infrutífera: (1) quem não entende a Palavra, (2) quem sucumbe frente à perseguição e (3) quem está apegado às riquezas. 

1)    Seremos como a terra da beira do caminho quando ouvimos a Palavra do Reino, mas não a compreendemos, fechando-nos ao discernimento. Logo, vem o maligno e arranca a Palavra semeada (Mt 13,19). O maligno é toda força inimiga da vida, adversária de Deus e que nos seduz, afastando-nos do caminho de vida para colocar-nos sob a escravidão da riqueza (Mt 6,24). Como exemplos de coisas que impedem a compreensão do projeto de Deus e tentam afastar-nos do seu caminho, citemos o espírito de consumismo e prestígio, de poder e cobiça. Essa ideologia diabólica tenta fazer de nós pessoas alienadas, dirigidas por forças externas, impedindo a ação do Espírito divino que nos torna livres, uma vez que “o Senhor é Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).

2)    Seremos como o terreno cheio de pedras (Mt 13,20-21), se ouvimos a Palavra com alegria, mas logo desistimos por medo da tribulação e da perseguição por parte das autoridades e de todos que não aceitam o projeto da justiça do Reino para todas as pessoas. Nesse caso, nosso testemunho não passa de “fogo de palha”. O contexto das comunidades, quando este evangelho é escrito, é de perseguição que levava muitos cristãos a voltar atrás em seu seguimento da boa nova do Nazareno.

3)    Seremos como o terreno entre espinhos (Mt 13,22), quando ouvimos a Palavra, mas deixamos dominar-nos pelas preocupações do mundo, pela ilusão da riqueza e outros desejos egoístas, como o luxo e a vida fácil. Dessa forma, a Palavra da boa semente não tem como produzir frutos, pois apegamos-nos a falsas seguranças.

Na segunda parte, as comunidades apresentam-nos a opção pelo seguimento da Palavra, gerando frutos de vida.

Por fim, seremos terra boa (Mt 13,23) quando ouvimos a Palavra e a acolhemos, isto é, comprometemo-nos com o projeto de Jesus. A semente germina, cresce e frutifica somente quando receber a chuva do alto e se for acolhida em terra boa, cá embaixo. A chuva do alto e a Palavra são graça, dom. Mas acolher a semente em terra boa para que dê frutos, isso está em nossas mãos.

Que a tua graça, ó Deus de amor, empodere-nos na luta contra o maligno, diante das perseguições deste mundo injusto e diante do desejo de todas as formas de riqueza. E que a tua ternura fortaleça-nos no seguimento de teu Reino, ao ponto de produzirmos frutos de justiça. Amém!

Fonte: Ildo Bohn Gass

Oração de intercessão [Rubem Alves]




Oração de intercessão
[Rubem Alves] 
 
 
      Ó Deus, lembro-me das pessoas que hoje não podem ter alegria: pais cujos filhos morreram; desempregados; os que estão nas prisões, sendo torturados; doentes, sentindo dor; velhos, na solidão; camponeses, sem terra; índios, vivendo os últimos dias do seu povo; aqueles que não têm o que comer. Que, de alguma forma, o sopro gentil do Espírito faça brilhar a esperança nos seus corações, e que eles tenham coragem para lutar por um mundo melhor, sacramento do reino de Deus. Lembro-me, também, daqueles que não podem ter alegria por estarem sob o domínio dos ídolos, possuídos pelos maus espíritos; aqueles que só pensam no seu lucro, e por isto exploram os pobres; aqueles que podem usar impunemente das armas e da violência, e por isto perfuram os corpos e zombam do direito; aqueles que, por só pensarem em si mesmos, estão impedidos de sentir a doce ternura da solidariedade com os que sofrem. Ajuda-me a regozijar-me na tristeza da qual brota a nostalgia pelo reino de Deus e a abominar a tristeza daqueles que só têm olhos para si mesmos. E que nunca falte aos tristes do teu reino o sacramento doce do sorriso de Deus. Amém.

Fonte: ALVES, Rubem. Creio na Ressurreição do Corpo; Meditações. 2. ed Rio de Janeiro, CEDI 1984.

“Vocês compreenderam tudo isso?” (Mt 13, 44-52) [Tomaz Hughes SVD]





Leia também a reflexão da Pa. Maristela Freiberg sobre este texto. 
 
    No décimo sétimo domingo comum, terminamos a leitura do capítulo treze de Mateus, com as últimas três parábolas do Reino – as dotesouro escondido, da pérola preciosa e da rede lançada ao mar. Nas primeiras duas, podemos notar duas ênfases – uma sobre o grande valor do achado (simbolizando o Reino) e outra sobre a atitude de quem o acha.  A parábola da rede no mar ecoa a mensagem da parábola do campo de trigo e joio, que fez parte do texto do domingo passado.

     O contexto histórico do tesouro achado é do Oriente Médio Antigo, palco de tantas invasões e guerras.  Era prática comum enterrar os valores diante da ameaça de uma invasão ou guerra.  Só que, muitas vezes, o dono morria na violência, e o tesouro ficava escondido por muito tempo, até ser achado por acaso.

     Usando este exemplo, Jesus nos ensina algo sobre o Reino e sobre a atitude do discípulo diante dele. O Reino de Deus é um valor tão incalculável, que uma pessoa sensata daria tudo para possuí-lo.  É importante notar que o texto enfatiza que “cheio de alegria” ele vende todos os seus bens, para poder possuir o valor maior, que é o Reino. A vivência dos valores do Reino, do seguimento de Jesus, deve ser uma alegria, jamais um peso.  Sem dúvida, é exigente, pois meias-medidas não servem (ele vende tudo o que tem), mas o resultado é uma alegria enorme.  Não a alegria falsa de um programa de Faustão ou Sílvio Santos, mas uma alegria que brota da profundeza do nosso ser, pois descobrimos a única coisa que não passa e que dá sentido a toda a nossa vida – o Reino de Deus.  É pena que com tanta frequência consigamos fazer do seguimento de Jesus um peso, uma chatice, um legalismo, que afasta de Deus em lugar de atrair para Ele.  É impressionante como se consegue fazer a Palavra de Deus algo tão insossa e irrelevante!

Mídia destaca aspectos punitivos do marco regulatório e reforça criminalização das ONGs





Mídia destaca aspectos punitivos do marco regulatório e reforça criminalização das ONGs

incidência MROSC
Entidades da Plataforma na Câmara cobrando 
aprovação do PL 7168: ações ignoradas pela mídia 
(Foto: Abong) 
     A aprovação, no último dia 2 de julho, do Projeto de Lei 7168/2014, que promove significativos avanços na relação entre Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e os órgãos da administração pública em níveis federal, estadual e municipal, recebeu atenção de diversos veículos de imprensa. No entanto, a abordagem escolhida pelos veículos da mídia tradicional dá destaque aos aspectos punitivos do projeto e ignora a luta das OSCs por sua aprovação, reforçando preconceitos e generalizações contra as organizações.
     Se por um lado, os fatos a respeito da lei e de seus efeitos foram apresentados de forma correta, as tentativas de contextualizar o processo de construção do PL pecaram ao ignorar o diálogo entre OSCs, governo federal e parlamentares. Ao tirar este protagonismo das OSCs em relação ao Marco Regulatório, a mídia colabora para a generalização que trata as organizações como “inimigas” do interesse público, contra as quais o Estado precisa se proteger.

Mateus 13.44-52 [Maristela L. Freiberg]




de Pe. Tomaz Hughes SVD  
 
Mateus 13.44-52

     1. Pra Início de Conversa

     O conjunto de nossos textos fala de discernimento e justiça. Através do Espírito Santo é que nós somos capacitados/as a optar pela justiça. Julgar não é função nossa, mas discernir, sim. Com a presença do Espírito, discernir é um processo inevitável e impulsionador, que gera mesmo as mudanças mais radicais.

     Neste texto o evangelista Mateus mostra um Jesus que dá ênfase ao ensino. O cap. 13 contém o terceiro grande discurso que reúne sete parábolas, das quais três estão em nosso texto. As parábolas mostram como a comunidade de Mateus entendia sua maneira de fazer teologia, como lidava com a sua fé. Nas parábolas, não só o conteúdo é importante, mas também a metodologia, a qual aponta para a formação da comunidade e sua mobilização no cotidiano para encontrar o tesouro: a presença de Deus. Nas três parábolas existe uma metodologia comum: primeiro, identifica-se o achado ou o separado com algo valioso. Segundo, o tesouro é encontrado no meio da ação. É o Espírito de Deus que nos invade e nos faz agir. Terceiro, o tesouro fixa as pessoas ao chão e não as arrebata ao céu.

     A intenção pedagógica de Jesus nas parábolas é levar as pessoas a pensar, ver, sentir, perceber, compreender. Não são apenas lições a serem aprendidas. As parábolas não surgiram dos discípulos com a intenção de animar as pessoas, mas surgiram da vida das pessoas e se tornaram liturgias para animar as comunidades. Como já disse anteriormente, nas parábolas não basta perguntar pelo conteúdo, por sua mensagem, mas é preciso estar atento àquilo que as pessoas experimentam. A razão perde seu papel hegemônico para a valorização da sensibilidade e da experiência!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Jo 4,1-42: À beira do poço do Bem Viver



La Samaritaine au puis via latina<br>Fonte: Desconhecida

 
Em tempos de crescimento de fundamentalismo e intolerância, de aumento de casos de homofobia e de xenofobia, o texto do encontro entre a Samaritana e Jesus se constitui numa boa oportunidade de conversa. Não existe Bem Viver sem respeito às diferenças. Mais do que isso, para que o Bem Viver aconteça, faz-se necessário ir ao encontro, mergulhar na outra pessoa e na outra cultura. A sociedade atual é cada vez mais plural e isso é possibilidade de enriquecimento. Sentemos à beira do poço para uma conversa em torno desse assunto.

Nossa tendência em ler o texto a partir de uma perspectiva unicamente cristocêntrica nos faz esquecer aspectos importantes: o encontro se dá na terra da mulher, a Samaria. O estrangeiro e diferente na história é Jesus. É ele que, exausto, no calor do meio-dia, sente fome e sede (Jo 4,6). Ele sequer tem um balde e, por causa da profundidade do poço (Jo 4,11), necessita da ajuda da mulher: Dá-me de beber (Jo 4,7). A arrogância e prepotência de correntes de um judaísmo excludente são colocadas em cheque: todo mundo precisa de ajuda!

João 4,1-42: A samaritana encontra Jesus: Em busca da fonte de água viva




Jesus e a Samaritana na interpretação de JesusMafa<br>Fonte: JesusMafa
Acolhida
1. Criar um bom ambiente. Dar as boas-vindas. Colocar as pessoas à vontade.
2. Canto inicial. Sugestão: “Eu vim para que todos tenham vida”.
3. Apresentar brevemente o assunto que vai ser refletido, meditado e rezado neste encontro.
4. Invocar a luz do Espírito Santo.

 
1. Olhar de perto os acontecimentos da nossa vida
Hoje vamos meditar sobre o encontro da samaritana com Jesus. Encontro inesperado de duas pessoas diferentes. Foi uma conversa difícil, tanto para Jesus como para a samaritana. Ambos tiveram que enfrentar uma série de  dificuldades. Jesus se encontrava num ambiente estranho, fora de casa. Não conhecia ninguém. A samaritana se encontrava no seu próprio ambiente, ambiente de casa e de trabalho. Mas, por ser mulher, ela não podia conversar assim com um homem estranho, judeu, de outra religião. Mesmo assim, os dois tentaram superar as barreiras. Após várias tentativas, a conversa finalmente engatou quando o assunto passou a ser a religião. Não é fácil acolher uma pessoa estranha e diferente e conversar com ela sem preconceitos. Hoje, nas nossas comunidades, às vezes, aparecem pessoas diferentes, de outras religiões, de outras mentalidades. Vamos conversar sobre isso. 
 
1. Você já esteve alguma vez num lugar estranho,  onde teve de conversar com pessoas desconhecidas? O que você precisou vencer dentro de você para poder puxar uma conversa?
2. Por que será que as pessoas gostam tanto de discutir religião?

Mateus 13,24-30: Joio e trigo crescem juntos [Mesters, Lopes e Orofino]




Parábola do Joio e do trigo, segundo He-qi.<br>Fonte: He-qi - www.heqiart.com
O evangelho para a liturgia deste domingo nos leva a meditar sobre a parábola do joio e do trigo. Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós, existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades, reúnem-se pessoas que vêm dos vários cantos do Brasil, cada uma com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Existem pessoas que não sabem conviver com as diferenças. Querem ser juízes dos outros. Acham que só elas estão certas, e os outros errados. A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como nós.
>Os empregados que aparecem na parábola representam certos membros da comunidade. O dono da terra representa Deus. Prestemos atenção nas atitudes dos empregados e na reação do Dono da terra.
O lugar da parábola no Sermão das Parábolas 
 
O capítulo 13 traz o Sermão das Parábolas. Seguindo o texto de Marcos (Mc 4,1-34), Mateus omitiu a parábola da semente que germina sozinha (Mc 4,26-29), ampliou a discussão sobre o porquê das parábolas (Mt 13,10-17) e acrescentou as parábolas do joio e do trigo (Mt 13,24-30), do fermento (Mt 13,33), do tesouro (Mt 13,44), da pérola (Mt 13,45-46) e da rede (Mt 13,47-50). Com as do semeador (Mt 13,4-11) e do grão de mostarda (Mt 13,31-32), são ao todo sete parábolas. Estamos aqui no centro do Evangelho de Mateus. O coração deste centro é a parábola do joio e do trigo. É nela que aparece a recomendação mais importante para as comunidades da época.

domingo, 6 de julho de 2014

Mapa da Violência 2014: Jovem, homem, negro é o perfil dos que mais morrem de forma violenta no país



Jovem negro na universidade.<br>Fonte: Octaviolopez - morguefile.com
Em média, 100 a cada 100 mil jovens com idade entre 19 e 26 anos morreram de forma violenta no Brasil em 2012, mostra o Mapa da Violência 2014, que considera morte violenta a resultante de homicídios, suicídios ou acidentes de transporte (que incluem aviões e barcos, além dos que ocorrem nas vias terrestres de circulação).

A reportagem é de Helena Martins, publicada pela Agência Brasil, 03-07-2014.

O estudo mostra que, nos anos 1980, a taxa de mortalidade juvenil era 146 mortes por 100 mil jovens, e passou para 149, em 2012. Se a média geral não mudou significativamente com o passar do tempo e o aumento populacional, a causa, sim. Naquela década, as causas externas, que independem do organismo, eram responsáveis pela metade do total de mortes dos jovens.

Já em 2012, dos 77.805 óbitos juvenis registrados pelo Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, 55.291 tiveram sua origem nas causas externas. Mais de 71% do total. Os homicídios e os acidentes de transporte são os dois principais responsáveis por essas mortes, segundo o relatório.

A diferença também é diagnosticada quando comparados homens e mulheres. Entre 1980 e 2012, no total das mulheres, as taxas passam de 2,3 para 4,8 homicídios por 100 mil. Um crescimento de 111%. Entre os homens, a taxa passa de 21,2 para 54,3. Um aumento de 156%.

Mateus 11,25-30: Jesus e os Pequenos. Comunidade, lugar de acolhida e de escuta [Mesters, Lopes e Orofino]



Jesus no templo, segundo He-qi.<br>Fonte: www.heqiart.com/2-the-life-of-jesus.html
Esta reflexão mostra a ternura com que Jesus acolhia os pequenos. Ele queria que os pobres encontrassem descanso e paz. Por causa disso, Jesus foi muito criticado e perseguido. Sofreu muito! O mesmo acontece hoje. Para uns, a comunidade é lugar de consolo, descanso e paz. Para outros, é lugar de crítica, desgaste e sofrimento.
 
Situando  
 
1. O Sermão da Missão ocupou o capítulo 10. A parte narrativa dos capítulos 11 e 12 descreve como Jesus realizava a Missão. Ao longo desses dois capítulos, aparece a contradição que a sua ação provocava. João Batista, que olhava Jesus com os olhos do passado, não conseguiu entendê-lo (Mt 11,1-15). O povo, que olhava para Jesus com finalidade interesseira, não foi capaz de entendê-lo (Mt 11,16-19). As grandes cidades ao redor do lago, que ouviram a pregação de Jesus e viram seus milagres, não quiseram abrir-se para a sua mensagem (Mt 11,20-24). Os sábios e doutores, que julgavam tudo com base em sua própria ciência, não foram capazes de entender a pregação de Jesus (Mt 11,25). Nem os parentes o entenderam (Mt 12,46-50). Só os pequenos o entenderam e aceitaram a Boa Nova do Reino (Mt 11,25-30). Os outros queriam sacrifício, mas Jesus quer misericórdia (Mt 12,1-8). A reação contra Jesus levou os fariseus a quererem matá-lo (Mt 12,9-14). Eles chamaram Jesus de Beelzebu (Mt 12,22-32). Mas Jesus não voltou atrás, e continuou assumindo a missão de Servo, descrita nas profecias (Mt 12,15-21).

2. Tudo isso era um reflexo do que se passava nas comunidades da época de Ma- teus. Certas atitudes, tomadas por alguns membros das comunidades da tendência dos fariseus, escandalizavam os pequenos. Já não se sentiam acolhidos na comunidade e procuravam outro abrigo. Novamente, Mateus oferece frases de Jesus para responder a esta problemática das comunidades.