sábado, 27 de fevereiro de 2016

Fraternidade e meio ambiente [D. Demétrio Valentini]


Blog Pjoteiro

<br>Fonte: http://revistacrescer.globo.com/
Como poucas vezes, a Campanha da Fraternidade aponta para realidades tão concretas. Mesmo com a evidente abrangência do seu tema central - o planeta Terra visto como “casa comum” - a Campanha aborda a questão do saneamento básico, em torno do qual vai desdobrando os seus objetivos.

Neste sentido, a Campanha sobre o planeta terra mantém os pés no chão. E centra suas propostas de atuação em torno do saneamento básico.

Dava para imaginar que a Campanha nos levasse a abordar as grandes questões, que o despertar da consciência ecológica vem levantando com insistência em nosso tempo. De tal modo que nos sentiríamos contemplando do alto de um satélite, a girar velozmente em torno do nosso globo terrestre.

Sem desconhecer a problemática ecológica, que jaz como pano de fundo de toda a Campanha, os objetivos específicos insistem em abordar aspectos práticos do saneamento básico.

Começa por apresentar o saneamento básico como um direito de todos os cidadãos. Mas um direito a ser conseguido pelo trabalho e esforço comum.

Percebe-se, então, qual a intuição central que levou os promotores da Campanha a insistir no saneamento básico. É que ele se constitui num objetivo que decorre da consciência política dos cidadãos, que despertam para urgir a implementação do saneamento básico. E que, por sua vez, a abordagem deste assunto leva a aprofundar a consciência, para assim ter força para realizar tal objetivo.

Encontramos aqui um desafio, que cabe ser colocado no contexto da Campanha deste ano. Acontece que as obras de saneamento básico exigem vultosos recursos financeiros, cujos resultados não aparecem tão claramente. Os políticos não gostam de aplicar recursos no saneamento básico, pois preferem obras que dão mais visibilidade, que lhes rendam mais reconhecimento.

A Campanha deste ano pretende incentivar os investimentos em saneamento básico, mostrando as consequências positivas que decorrem de políticas guiadas para o bem comum da população.

Um dos objetivos específicos desta Campanha propõe “apoiar e incentivar os municípios para que elaborem e executem o seu Plano de Saneamento Básico”.

A Campanha quer, portanto, despertar uma consciência política, que garanta respaldo às boas iniciativas em torno de projetos de saneamento básico. E assim levar à superação dos critérios superficiais de avaliação das administrações municipais.

Outro posicionamento se refere a eventuais projetos de privatização dos serviços de saneamento básico. Pois dada a importância deste assunto, o Estado não pode se eximir de administrá-lo diretamente, como política pública a ser assumida pelo Estado. Daí o claro posicionamento contrário às tentativas de privatizar os serviços de saneamento básico.

Temos, portanto, uma Campanha com amplos horizontes na sua temática central, mas com propostas bem concretas de implementação dos seus objetivos.

Um tema amplo, do tamanho de nosso planeta. Mas com propostas bem concretas, que nos levam a perceber melhor a importância de urgir políticas públicas voltadas para o saneamento básico, que tem tanta incidência na vida das pessoas.

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br

CFE 2016: Sua cidade ainda tem esgoto a céu aberto?

blog pjoteiro



Você sabia que muitas famílias ainda convivem com esgoto a céu aberto, falta de coleta regular de lixo e de água potável? Essa cena não fica restrita a lugares menores, de interior, que possuem menos visibilidade. Também fazem parte da realidade de periferias dos grandes centros urbanos.
 
No estado do Maranhão, por exemplo, cidades de diferentes tamanhos possuem este cenário que mescla falta de informação, de atuação das autoridades e de recursos melhor aplicados. “Praticamente nenhuma cidade do Maranhão tem saneamento básico”, afirma a coordenadora estadual da Pastoral da Criança, Adriana Aleixo. Nos últimos anos, ela tem conversado com os demais coordenadores e líderes do estado e percebido o quanto essa situação afeta as famílias, gerando riscos para a saúde e o bem estar, especialmente para as crianças.
 
Impossibilidades ou descaso?
 
No município de Itinga, que possui uma população de aproximadamente 25 mil habitantes (IBGE), já foi observada a relação da falta de condições adequadas de saneamento e a ocorrência de casos de diarreia. “Não há visita dos órgãos da saúde no Vale do Itinga e no assentamento Santa Maria. Algumas comunidades, por mais que a Pastoral visite e oriente, não é o suficiente. Com esgoto a céu aberto e água de poço não tratada, até os adultos adoecem”, informa a coordenadora, a partir dos relatos locais e visitas à Paróquia Bom Jesus da Lapa.
 
Em Pindaré Mirim, onde moram mais de 30 mil pessoas, a situação não é muito diferente. O esgoto corre pelas ruas e fica acumulado junto com o lixo que não tem um descarte correto. É o que mostram as fotos da região. “Semelhante à capital São Luís”, compara.
 
Incomodar para mudar
 
O saneamento básico deve ser uma preocupação dos órgãos de todas as cidades. Se não for, cabe aos cidadãos não se conformarem e se unirem para cobrar seus direitos.
 
“Nossa participação tem sido em alguns Conselhos de Saúde”, conta Adriana. E, também, a partir do contato frequente com a coordenação nacional da Pastoral da Criança, para que o assunto seja lembrado em reuniões, encontros, viagens e outras oportunidades para trazer à tona o assunto e promover mudanças. O processo é lento, mas não se pode desistir.
 
Com a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano e o envolvimento de todas as religiões, mais uma força é somada a essa luta. “A Pastoral da Criança sempre lutou pelo cuidado do planeta, pelo cuidado da natureza, pelo cuidado da vida e sempre lutou pelos saneamento básico, que traz vida. Por isso, este tema da Campanha da Fraternidade 2016 nos estimula a realizar ações concretas”, afirma Lenita Gripa, coordenadora diocesana da Pastoral da Criança no munício indígena de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
 
Por lá, o caso também é alarmante, segundo o relato da coordenadora: “Não tem água encanada e nem esgoto. Existe uma captação de água do Rio Negro, que chega até algumas casas, sem tratamento algum. O esgoto está a céu aberto. O lixo da cidade é jogado num espaço chamado “Lixão”, na frente de uma comunidade acompanhada pela Pastoral  da Criança. A Câmara de Vereadores, juntamente com algumas entidades locais, está denunciando e procurando caminhos de saída”.
 
Com isso, as famílias acompanhadas pela Pastoral da Criança sofrem pela situação de descaso do poder público. As crianças e os adultos são afetados por verminoses, doenças de pele e outras. “Vamos, nesse ano, investir forças no trabalho de conscientização sobre o cuidado da casa comum e os direitos garantidos na Constituição Federal a cada pessoa. A Pastoral da Criança, por meio dos líderes e dos articuladores dos Conselhos Municipais, quer apresentar questões práticas, concretas, organizando reuniões, levantando quais são os problemas que existem na comunidade e tentando encontrar saída para que haja saneamento básico, para que haja coleta de lixo, para que as pessoas possam transitar livremente numa rua saudável”, acredita Lenita.

Fonte: Pastoral da Criança

A alegria pela IV Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE)



1. As Igrejas que integram o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) assumem como missão expressar em gestos e ações o mandato evangélico da unidade, que diz: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti; que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).

2. O testemunho ecumênico coloca-se na contramão de todo tipo de competição e de proselitismo, tão frequentes no nosso contexto religioso. É uma clara manifestação de que a paz é possível. É um apelo dirigido a todas as pessoas religiosas e de boa vontade para que contribuam com as suas capacidades para a promoção do diálogo, da justiça, da paz e do cuidado com a criação. É, também, uma comprovação de que Igrejas irmãs são capazes de repartir dons e recursos na sua missão.

3. A caminhada ecumênica realizada pelo CONIC tem mais de três décadas. É uma trajetória marcada por fraternidade, confiança, parceria e protagonismo. Dessa trajetória, podem ser destacados como expressões concretas de comunhão fraterna as três Campanhas da Fraternidade Ecumênicas, realizadas nos anos 2000, 2005 e 2010. Todas elas marcaram profundamente a vida das Igrejas que nelas se envolveram.

4. A motivação para essas Campanhas fundamentou-se na compreensão de que, no centro da vivência ecumênica está a fé em Jesus Cristo. Isso se deu porque o movimento ecumênico está marcado pela ação e pelo desafio de construir uma Casa Comum (oikoumene) justa, sustentável e habitável para todos os seres vivos. Essa luta é profética, pois questiona as estruturas que causam e legitimam vários tipos de exclusão: econômica, ambiental, social, racial, étnica. São discriminações que fragilizam a dignidade de mulheres e homens.

5. É exatamente isso que acontece quando, neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) coloca outra vez à disposição do CONIC a Campanha da Fraternidade, seu mais conhecido projeto de evangelização.

6. Com esse espírito, no ano 2000, na virada do milênio e no contexto do Grande Jubileu, foi realizada a primeira Campanha da Fraternidade Ecumênica com o tema “Dignidade Humana e Paz” e com o lema “Novo Milênio sem Exclusões”. No ano de 2005, foi realizada a segunda Campanha da Fraternidade Ecumênica. O tema foi “Solidariedade e Paz” e o lema: “Felizes os que promovem a paz”. A Campanha Ecumênica de 2010 provocou o debate sobre o papel da economia na sociedade. O tema foi “Economia e vida” e foi aprofundado com o lema bíblico “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24c).

7. A Campanha da Fraternidade de 2016 apresenta o tema “Casa Comum, nossa responsabilidade” e tem como lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O objetivo principal é assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum.

8. Nesse tema e nesse lema, duas dimensões básicas para a subsistência da vida são abarcadas a um só tempo: o cuidado com a criação e a luta pela justiça, sobretudo dos país pobres e vulneráveis. Nessa Campanha da Fraternidade Ecumênica, queremos instaurar processos de diálogo que contribuam para a reflexão crítica dos modelos de desenvolvimento que têm orientado a política e a economia. Faremos essa reflexão a partir de um problema específico que afeta o meio ambiente e a vida de todos os seres vivos, que é a fragilidade e, em alguns lugares, a ausência dos serviços de saneamento básico em nosso país.

9. Perguntamos: como estão estruturadas as nossas cidades? Quem realmente tem acesso ao saneamento básico? No ano de 2014, o sudeste do Brasil viveu uma das maiores crises hídricas já registradas na história recente do país. Quem foi responsabilizado por isso? Por que os serviços de saneamento básico, considerados como direito humano básico pela Organização das Nações Unidas estão em disputa?

10. Com essa CFE colocamo-nos em sintonia com o Conselho Mundial de Igrejas e também com o Papa Francisco. Ambos têm chamado a atenção para o fato de que o atual modelo de desenvolvimento está ameaçando a vida e o sustento de muitas pessoas, em especial as mais pobres. É um modelo que destrói a biodiversidade. A perspectiva ecumênica aponta para a necessidade de união das Igrejas diante dessa questão. Nossa Casa Comum está sendo ameaçada. Não podemos, portanto, ficar calados. Deus nos convoca para cuidar da sua criação. Promover a justiça climática, assumir nossas responsabilidades pelo cuidado com a Casa Comum e denunciar os pecados que ameaçam a vida no planeta é a missão confiada por Deus a cada um e cada uma de nós.

11. É uma alegria compartilhar que nessa CFE, além das cinco Igrejas que integram o CONIC, somaram forças também: a Aliança de Batistas do Brasil, o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP) e a Visão Mundial. Outra novidade é que a IV Campanha da Fraternidade Ecumênica será internacional, porque a Misereor, organização dos bispos católicos alemães para a cooperação e o desenvolvimento, integrou-se nesse mutirão. Nossa oração e desejo é que mais Igrejas e religiões entrem nessa caminhada.

Fonte: https://cebirs.wordpress.com

Vaticano recebe Conferência Internacional para debater fim da pena de morte


“Por um mundo sem pena de morte” é tema da Conferência Internacional promovida pela Comunidade de Santo Egídio. O evento ocorre hoje, 22 de janeiro, no Vaticano, com proposta de estabelecer compromisso com a abolição da pena capital. Participam representantes de diversos países e lideranças internacionais. 

Durante a oração do Angelus, no domingo, 21, o papa Francisco disse ter esperança no fim da pena de morte, recordando que as sociedades modernas têm a capacidade de lidar com o crime sem remover permanentemente a quem o tenha cometido uma chance de se redimir.

“Um problema deve ser visto no contexto de um sistema de justiça penal cada vez mais em linha com a dignidade humana e ao plano de Deus para o homem e a sociedade. O mandamento ‘não matarás’ tem um valor absoluto e abrange tanto os inocentes como o culpado”, pontuou Francisco.

Na ocasião, fez apelo aos governantes para um consenso internacional sobre a abolição da pena de morte. Pediu, em particular, aos governantes católicos, para não autorizarem nenhuma sentença durante este Ano Santo da Misericórdia.

“O Jubileu especial da Misericórdia é uma ocasião propícia para promover no mundo formas sempre mais maduras de respeito pela vida e pela dignidade de cada pessoa. Mesmo o criminoso mantém o direito inviolável à vida, dom de Deus. Faço um apelo à consciência dos governantes, de modo que se possa alcançar um consenso internacional para a abolição da pena de morte. E proponho àqueles que de entre esses sejam católicos a cumprirem um gesto corajoso e exemplar: que nenhuma sentença seja executada neste Ano Santo da Misericórdia”, desejou o papa.

* Por CNBB com informações do News.va. 

Fonte: http://www.cnbb.org.br

Os três caminhos da mudança e da conversão [Carlos Mesters]


O caminho da justiça

Justiça existe quando tudo está no lugar onde Deus o quer; quando tudo é como deve ser. Os profetas lutam para que tudo e todos ocupem novamente o seu lugar conforme o projeto da Aliança. Não são pregadores teóricos, mas denunciam bem claramente as injustiças e apontam as causas. Não tem medo de dizer o que está errado na organização do país, tanto por parte das pessoas responsáveis como por parte das instituições.

A denúncia dos profetas, feita a partir da retomada da aliança, levou a criação de novas leis a fim de, por meio delas, instituir uma ordem que favorecesse a vida do povo e o levasse á observância plena da aliança. Uma destas leis, por exemplo, é a Lei do Ano Jubilar ou do Ano Sabático (Lv 25; Dt 15) que visa criar uma estrutura agrária mais justa no país.

O caminho da solidariedade

Nem toda a pobreza é fruto da injustiça, mas todos os pobres merecem ser acolhidos. A comunidade do povo de Deus deve ser uma amostra daquilo que Deus quer para todos. Ela deve ser aliança de Deus com os seres humanos contra tudo aquilo que estraga a vida e marginaliza as pessoas. Ela deve saber acolher as vítimas do empobrecimento, causando tanto pela injustiça como por outras coisas.

Na comunidade do povo de Deus, não pode haver pobres (Dt 15,4). Todos devem poder viver na partilha perfeita dos bens. Mesmo assim, “pobres sempre vão existir” (Dt 15,11; Mt 26,11), pois a comunidade, sendo pequena, não controla a vida do mundo, nem consegue eliminar todas as causas econômicas, sociais e políticas que produzem a pobreza. Mas, na medida em que estes pobres do mundo entrarem em contato com a comunidade, esta, sem diminuir em nada a luta pela justiça, deverá acolhê-los, pois dentro da comunidade “não pode haver pobre” (Dt 15,4).

O caminho da mística

A injustiça básica é a consciência roubada dos pobres. Neles foi colocada uma consciência de inferioridade. O sistema injusto, procurando neutralizar o grito do pobre, fez do pobre um ser inferior; um preguiçoso e até um pecador que não merece vida melhor do que a que tem. Sendo assim, o rico pode continuar tranquilo na posse da sua riqueza, sem ser incomodado pelo grito do pobre, pois o pobre é, ele mesmo, o culpado da sua própria pobreza!

Aqui entra a certeza básica da fé do povo da Bíblia, a saber, Deus ouve o grito dos pobres! O pobre já não grita para o rico, mas grita para Deus, e Deus ouve o seu grito e lhe diz: “Eu estou aqui com vocês!”. É daí, desta certeza de Deus, que nasce nele a nova consciência de gente e de filho de Deus, consciência da própria dignidade. É como se fosse uma nova criação!

Mudai de vida e produzi frutos! (Lc 13,1-9) - [Ildo Bohn Gass]



Estamo-nos aproximando do terceiro domingo da Quaresma. Este é um tempo de graça (kairos), um tempo oportuno para a conversão, a mudança de vida. E a liturgia nos propõe, como luz no caminho, o texto de Lucas 13,1-9. Encontramos esta narrativa somente no evangelho segundo Lucas.

Vamos refletir sobre este relato em dois momentos. Primeiro, a partir do diálogo de Jesus com algumas pessoas que o procuraram. Depois, a partir da parábola que ele lhes contou.

Mudai de vida!  (Lucas 13,1-5)

Esta narrativa situa-se na caminhada de Jesus com seu grupo desde a Galileia (Lucas 9,51) até Jerusalém (Lucas 19,28), onde autoridades do sinédrio e da ocupação romana o condenarão à morte na cruz. Porém, a vida vencerá a morte. Nesse sentido, o evangelho deste final de semana é um convite para a conversão, a mudança de direção em nossas vidas, de modo a andar no mesmo caminho de justiça proposto por Jesus. Porém, ontem e hoje, rejeitado pelos poderosos deste mundo. É o caminho em que Jesus vai formando seus discípulos e suas discípulas.

O texto não informa quem são as pessoas que procuraram Jesus para falar do massacre que Pilatos promovera no pátio do templo junto ao altar, onde galileus estavam oferecendo sacrifícios. Provavelmente, é uma referência à chacina de galileus executada pelo interventor romano, quando estes resistiram contra o saque do tesouro do templo que Pilatos havia feito, a fim de construir um aqueduto. 

Pela resposta de Jesus, podemos entender o contexto. Eram pessoas que queriam saber sua opinião a respeito de quem era o pecado para tamanho “castigo”. O caso trata da mesma questão de João 9, onde os discípulos perguntam a respeito do cego de nascença: “quem pecou, ele ou os pais dele?” (João 9,1). Ao que Jesus responde: “nem ele, nem seus pais, mas para que nele se manifestem as obras de Deus” (João 9,2). Assim, vemos que Jesus concorda com os autores dos livros de Rute, Jó, Eclesiastes e Jonas. Também eles discordam da teologia da retribuição, isto é, da experiência com um Deus que castiga os pecadores e abençoa os justos. A resistência indignada de Jó contra a catequese oficial do templo, representada por seus “amigos”, questiona a imagem de Deus tipo “toma lá, dá cá”. E Jesus se insere nessa mesma experiência com um Deus de ternura, e não um Deus sempre a postos para castigar ou abençoar, de acordo com os méritos de cada pessoa. Em vez da experiência com a teologia da retribuição que gera medo nas pessoas, Jesus faz a experiência com o Deus da graça.

Por isso, ele logo responde que o massacre dos galileus não é por serem pecadores. É que Jesus sabia muito bem qual era a prática dos romanos diante de quem resistia à sua dominação: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as oprimem, e seus grandes as tiranizam” (Marcos 10,42). Além do fato lembrado pelos interlocutores de Jesus, ele recorda também a morte dos dezoito trabalhadores na torre de Siloé em Jerusalém (Lucas 13,4). No entanto, Jesus aproveita aqueles dois fatos para chamar à conversão (metánoia), isto é, à mudança de mentalidade, à mudança de vida. Converter-se é não se amoldar aos esquemas deste mundo (Romanos 12,2). Na carta aos efésios, Paulo ou seus discípulos escreveram que o modo de vida deste mundo vem do maligno (cf. Efésios 2,2). E o modo de vida deste mundo, entre outras práticas, é de discriminação e de violência, de injustiça e de ódio, de busca de riquezas e de poder. Portanto, Jesus propõe outro espírito de vida, outro caminho. São atitudes de acolhida e de ternura, de justiça e de amor, de partilha e de serviço. Neste relato, duas vezes Jesus pede aos que o procuraram, e hoje a nós, para seguirmos por seu caminho: “mudai de vida!” (Lucas 13,3.5).  

Aqui, convém lembrar que Jesus passa toda sua vida lutando contra uma teologia que impõe medo. Por isso, o vemos tantas vezes dizendo: “não tenhais medo!” (cf. Lc 5,10; 8,50; 12,4-7.32). Ou ainda: “Coragem!” (cf. Mt 9,2.22; 14,27).

Mudai de vida e produzi frutos! (Lucas 13,6-9) 

Depois do duplo chamado à mudança de vida, Jesus ainda conta uma parábola: a figueira plantada em meio a uma vinha. Tanto a vinha (Isaías 5,1-7) como a figueira (Joel 1,7) eram imagens do povo da aliança. Por ser um povo em aliança com o Deus da vida, sua missão no mundo é, tal como a vinha e a figueira, produzir frutos, e frutos de justiça (Isaías 5,7) e de amor (João 15,1-17), em profunda comunhão com o Deus da aliança. Mas, a figueira não produziu os frutos desejados. 

Interessante notar que Marcos (11,12-14.20-24) e Mateus (21,18-22) situam a parábola da figueira em íntima conexão com a expulsão dos vendilhões do templo. Ou seja, a figueira é símbolo do sistema do templo que manipula a aliança com Deus, de modo a não mais gerar os frutos que deveria. Em vez de promover a vida em comunhão com o Pai, foi transformado em covil de ladrões (Lucas 19,46). Em Marcos e Mateus, portanto, a figueira seca representa toda estrutura do templo que não gera mais frutos de justiça. E aqui, temos um julgamento severo e indignado de Jesus sobre a instituição oficial judaica ao amaldiçoar a “figueira”. 

Diferentemente, Lucas insere a parábola da figueira em outro contexto e apresenta Jesus revelando a misericórdia de Deus. Mais do que os outros evangelhos, Lucas resgata esse rosto misericordioso de Deus (cf. Lucas 6,36; 15,11-32). Na parábola, o dono da vinha representa Deus. E, como em Mateus e Marcos, seu julgamento é severo: “podes cortá-la” (Lucas 13,7). Mas Jesus, que é representado pelo vinhateiro, pede a seu Pai mais uma chance para o povo: “Senhor, deixa-a ainda este ano, para que eu escave ao redor dela e ponha estrume” (Lucas 13,8). Jesus revela outra imagem de Deus: misericordioso, compassivo, cheio de ternura e de perdão. Como o pai misericordioso, sempre dá uma chance e espera a volta do filho, pronto para festejar o seu retorno (Lucas 15,11-32). 

É esse convite que Jesus também nos faz nesta Quaresma e em todos os dias de nossa vida. Ele quer a vida e não a morte. “Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor. Portanto, mudai de vida e vivei” (Ezequiel 18,32; cf. v. 23).

Antes que seja tarde [José Pagola]



Tinha passado já bastante tempo desde que Jesus se apresentara na sua terra de Nazaré como Profeta, enviado pelo Espírito de Deus para anunciar aos pobres a Boa Nova. Continua a repetir incansavelmente a Sua mensagem: Deus está já próximo, abrindo-se caminho para fazer um mundo mais humano para todos.

Mas Jesus é realista. Sabe bem que Deus não pode mudar o mundo sem que nós mudemos. Por isso se esforça em despertar nas pessoas a conversão: "Convertei-vos e acreditai nesta Boa Nova". Esse empenho de Deus em fazer um mundo mais humano será possível se respondemos acolhendo o seu projeto.

Vai passando o tempo e Jesus vê que as pessoas não reagem à chamada como seria o seu desejo. São muitos os que vêm escutá-Lo, mas não chegam a abrir-se ao "Reino de Deus". Jesus vai insistir. É urgente mudar antes que seja tarde. 

Em certa ocasião, Jesus conta uma pequena parábola. Um proprietário de um terreno tem plantado uma figueira no meio da sua vinha. Ano após ano, vem à procura de fruto e nela não o encontra. A sua decisão parece a mais sensata: a figueira não dá fruto e está a ocupar inutilmente um terreno, o mais razoável é cortá-la.

Mas o encarregado da vinha reage de forma inesperada. Por que, afinal, não deixá-la? Ele conhece aquela figueira, viu-a crescer, cuidou-a, não a quer ver morrer. Ele mesmo lhe dedicará mais tempo e mais cuidados, a ver se dá fruto.

O relato interrompe-se bruscamente. A parábola fica aberta. O dono da vinha e o seu encarregado desaparecem de cena. É a figueira quem decidirá a sua sorte final. Entretanto, receberá mais cuidados que nunca desse vinhador o qual nos faz pensar em Jesus: "O que veio procurar e salvar o que estava perdido".

O que necessitamos hoje, na Igreja, não é só introduzir pequenas reformas, promover o "aggiornamento" ou cuidar da adaptação aos nossos tempos. Necessitamos de uma conversão em nível mais profundo, um "coração novo", uma resposta responsável e decidida à chamada de Jesus a entrar na dinâmica do Reino de Deus.
Temos de reagir antes que seja tarde. Jesus está vivo no meio de nós. Como o encarregado da vinha, Ele cuida das nossas comunidades cristãs, cada vez mais frágeis e vulneráveis.Ele alimenta-nos com o seu Evangelho, sustenta-nos com o seu Espírito.
Temos de olhar o futuro com esperança, ao mesmo tempo em que vamos criando esse clima novo de conversão e renovação de que necessitamos tanto e que os decretos do Concílio Vaticano II não puderam até agora consolidar na Igreja.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

Mecanismos globais de proteção aos direitos humanos estão sob ameaça, diz Anistia Internacional




Os mecanismos globais de proteção aos direitos humanos estão sob ameaça, principalmente por causa de conflitos entre Estados e grupos extremistas e pelas consequências que tais conflitos provocam, aponta a ONG Anistia Internacional em seu relatório anual de 2015/2016, publicado nesta quarta-feira (24/02).

“As ações destes grupos [extremistas] não podem ser usadas como justificativa por nenhum governo para violar os direitos humanos ou a lei internacional para conquistas a curto prazo”, disse à imprensa o secretário geral da Anistia Internacional, Salil Shetty.

Shetty afirmou também que "milhões de pessoas sofrem terrivelmente nas mãos de Estados e grupos armados enquanto governos qualificam sem nenhum pudor a proteção dos direitos humanos como uma ameaça para a segurança, a ordem pública e os valores nacionais".

O levantamento, que coletou dados de 160 países, indica que pelo menos 113 países restringiram arbitrariamente a liberdade de expressão de seus cidadãos e da mídia. Pelo menos 55% de todas as nações analisadas conduziram julgamentos considerados injustos e 61 dos países mantêm “prisioneiros de consciência” — pessoas que tenham defendido uma causa ou uma crença sem utilizar violência, mas, mesmo assim, foram detidas. Além disso, pelo menos 30 países forçaram, de maneira ilegal, que refugiados voltassem para lugares onde estariam em perigo.

"Os direitos humanos sofreram graves ataques nos últimos 12 meses. Inclusive os países que tradicionalmente levantam a bandeira da defesa dos direitos humanos ficaram comprometidos", declarou Shetty. Para ele, os mais de 70 anos “de duro esforço e avanços estão na corda bamba”.
Segundo a organização, conflitos como o da Síria, junto com a ameaça de grupos extremistas, provocaram a crise humanitária de refugiados na Europa. Esta demonstrou a incapacidade das instituições internacionais — estatais ou não — de proteger a população civil e fazer com que leis que tutelam direitos humanos ao redor do mundo fossem respeitadas.

“Proteções multilaterais, como a convenção de refugiados das Nações Unidas e a convenção contra a tortura, e mecanismos especializados não tiveram sucesso em prevenir ou conter crises humanitárias, nem em proteger civis contra violações”, afirma o relatório.

O documento da Anisita Internacional ressalta que, enquanto o trabalho de movimentos sociais é essencial para garantir os direitos humanos, os governos precisam permitir que ativistas façam seu trabalho. A organização pede que os países garantam que a resolução da Assembleia Geral da ONU realizada em novembro do ano passado que estabelece a proteção dos defensores dos direitos humanos seja implementada com responsabilidade e transparência.

“Na situação atual, proteger e fortalecer os sistemas de direitos humanos e de proteção a civis não pode ser visto como algo opcional. É literalmente uma questão de vida ou morte”, afirmou o secretário geral da organização.

Fonte: http://operamundi.uol.com.br

América Latina: as bases sociais da nova direita



Manifestante pró-impeachment faz selfie com policiais. Para Zibechi, classes médias “Já não têm como referência as camadas de profissionais que se formaram em universidades públicas; que liam livros e continuavam estudando ao encerrar suas carreiras”<br>Fonte: http://outraspalavras.net
Manifestante pró-impeachment faz selfie com policiais. Para Zibechi, classes médias “Já não têm como referência as camadas de profissionais que se formaram em universidades públicas; que liam livros e continuavam estudando ao encerrar suas carreiras”

Para explicar contra-ataque conservador, não basta culpar a mídia. É hora de examinar transformações da classe média e desarticulação dos setores populares.

O artigo é de Raúl Zibechi, publicado por Outras Palavras, 23-02-2016. A tradução é de Inês Castilho.

Eis o artigo.

Uma nova direita está emergindo no mundo e também na América Latina, região onde ela apresenta perfis próprios e uma nova e inédita base social. Para combater essa nova direita é necessário conhecê-la, evitar as avaliações simplistas e entender suas diferenças com relação às velhas direitas.

Mauricio Macri, [o atual presidente argentino], é bem diferente de Carlos Menem, [que governou entre 1989 e 99]. Este introduziu o neoliberalismo, mas era filho da velha classe política, a ponto de respeitar algumas normas legais e tempos institucionais.

Macri é filho do modelo neoliberal e comporta-se segundo o modelo extrativista, fazendo da espoliação seu argumento principal. Não lhe altera o pulso passar por cima dos valores da democracia e dos procedimentos que a caracterizam.

Algo semelhante pode ser dito sobre a direita venezuelana. Trata-se de alcançar fins sem reparar nos meios. O modo de operar da nova direita brasileira diferencia-se inclusive do governo privatizador de Fernando Henrique Cardoso.

Hoje os referentes são personagens como Donald Trump e Silvio Berlusconi, ou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, militarista que não respeita nem o povo curdo nem a oposição legal, cujas instalações e encontros são sistematicamente atacados.

Estas novas direitas têm Washington como referência, mas é de pouca utilidade pensar que atuam de maneira mecânica, seguindo as ordens emanadas de um centro imperial. As direitas regionais, sobretudo as dos grandes países e que se apoiam num empresariado local mais ou menos desenvolvido, têm certa autonomia de voo em defesa dos próprios interesses.

Mas a grande novidade são os amplos apoios de massas que conseguem. Como se disse, nunca antes a direita argentina havia chegado à Casa Rosada pela via eleitoral. Esta novidade merece explicações que não se esgotariam neste breve espaço. Tampouco parece adequado atribuir à mídia todos os avanços da direita. Que razões haverá para sustentar que os eleitores da direita são manipulados e os da esquerda são votos conscientes e lúcidos?

Há duas questões que seria necessário esclarecer antes de entrar numa análise mais ampla. A primeira são os modos de fazer, o autoritarismo quase sem freios nem argumentos. A segunda, as razões do apoio de massas, que inclui não só as classes médias, mas também parte dos setores populares.

Sobre as decisões autoritárias de Macri, o escritor Martín Rodríguez sustenta: O macrismo atua como um Estado Islâmico: sua ocupação do poder significa uma espécie de profanação dos templos sagrados kirchneristas (Panamarevista.com, 28/01/16). A decisão pelas demissões em massa apoia-se na firme crença das classes médias de que os trabalhadores estatais são privilegiados que recebem sem trabalhar. Por isso, o custo político dessa decisão terrível foi até agora muito baixo.

A comparação com os modos do Estado Islâmico soa exagerada, mas tem um ponto de contato com a realidade: as novas direitas chegam arrasando, tirando da frente tudo o que se interpõe no seu caminho, desde os direitos adquiridos pelos trabalhadores até as regras de jogo institucionais. Para eles, ser democráticos é apenas contar as células nas urnas a cada quatro ou cinco anos.

A segunda questão é compreender os apoios de massa obtidos. O antropólogo Andrés Ruggeri, que investiga empresas recuperadas, ressalta que a direita pode construir uma base social reacionária capaz de mobilizar-se, com base nos setores mais retrógrados da classe média. Tais setores sempre existiram e apoiaram a ditadura nos anos 1970 (Diagonal, 13/02/15). Essa base social está ancorada num eleitor-consumidor que adquire um voto como um produto de supermercado.

Ruggieri considera que o grande erro do governo de Cristina Fernández consistiu em não estimular o surgimento de um sujeito popular organizado. Ao invés disso, promoveu um conjunto social desagregado, individualista e consumista, que considerou as conquistas da luta de 2001, e as mudanças sociais alcançadas nos últimos doze anos, como direitos adquiridos que não estavam em risco. Convencer o eleitorado desta suposta garantia foi uma grande conquista da campanha da direita, chave para seu triunfo (Diagonal, 13/02/16).

As classes médias são muito diferentes das dos anos 1960. Já não têm como referência as camadas de profissionais que se formaram em universidades públicas; que liam livros e continuavam estudando ao encerrar suas carreiras; que aspiravam a trabalhar por salários medianos em repartições estatais e se socializavam em espaços públicos onde confluíam com os setores populares.

As novas classes médias têm como referência os mais ricos, aspiram a viver nos bairros privados, longe das classes populares e da trama urbana, são profundamente consumistas e desconfiam do pensamento livre.

Se há uma década parte dessas classes médias bateu panelas contra o corralito do ministro da Economia, Domingo Cavallo, e em certas ocasiões confluiu com os desempregados (piquete e panela, a luta é uma só, era o lema de 2001), agora sua única preocupação é com a propriedade e a segurança; e acredita que a liberdade consiste em comprar dólares e veranear em hotéis cinco estrelas.

Essas classes médias (e uma parte dos setores populares) estão modeladas, culturalmente, pelo extrativismo: pelos valores consumistas que o capital financeiro promove, tão distantes dos valores do trabalho e do esforço que a sociedade industrial promovia há apenas quatro décadas.

Os defensores do modelo neoliberal têm uma base de apoio em torno de 35% a 40% do eleitorado, como mostram todos os processos da região. Frequentemente não sabemos como enfrentar essa nova direita. Não é fazendo agitação contra o imperialismo que a derrotaremos, mas sim mostrando que se pode desfrutar a vida sem cair no consumismo, o endividamento e o individualismo.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/

Índios e campesinos são as principais vítimas de violações de direitos no Brasil


Indígenas e defensores de direitos humanos nas regiões rurais foram os grupos que mais sofreram violações de direitos humanos no Brasil em 2015, segundo o diretor executivo da Anistia Internacional, Atila Roque. A entidade divulgou hoje (23) seu relatório O Estado dos Direitos Humanos no Mundo – 2015.

“Eles são extremamente invisibilizados neste país. Vivemos uma situação de enorme conflito no campo brasileiro, de grande patamar de violência, inclusive letal, contra defensores de direitos humanos, lideranças indígenas, camponeses, quilombolas, que confrontam interesses de toda ordem, desde grandes proprietários a grandes empresas mineradoras ou do agronegócio, que acabam fazendo uso da violência para impor seus interesses e isso passa praticamente desapercebido pela sociedade”.
Brasília- Indígenas protestam no Congresso Nacional, contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que altera a demarcação de terras indígenas. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A violência no campo foi um dos pontos negativos registrados no Brasil pelo relatório anual da organização.

De acordo com a Anistia Internacional, as populações indígenas continuaram na longa espera por demarcação de suas terras indígenas no ano passado, “apesar de o governo federal contar com a autoridade legal e os meios financeiros para pôr em prática o processo”, aponta o documento.

Os ataques contra indígenas também persistiram impunemente em 2015, segundo o relatório. Um dos casos relatados no documento foi o ataque à comunidade Ñanderú Marangatú, no município de Antonio João, no Mato Grosso do Sul, no dia 29 de agosto do ano passado. Fazendeiros atacaram a comunidade, mataram um homem e deixaram mulheres e crianças feridas. Nenhuma investigação foi aberta sobre o ataque nem foram tomadas quaisquer medidas para proteger a comunidade contra novos atos de violência, de acordo com o relatório. 

PEC 215


Segundo o diretor executivo da Anistia, a piora da situação dos direitos humanos no campo está associada a retrocessos na esfera legislativa. “Como vemos, por exemplo, a PEC 215 [proposta de emenda à Constituição], que altera completamente a demarcação de terras, com grande perda para as populações indígenas e quilombolas e tradicionais”.

A PEC transfere do Executivo para o Congresso Nacional a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas. Além disso, a proposta proíbe a ampliação de áreas já demarcadas, entre outros.

Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br

domingo, 14 de fevereiro de 2016

"Queremos ver a casa comum cuidada de modo corresponsável”, diz presidente da CNBB


<br>Fonte: http://1.bp.blogspot.com
A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 foi aberta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), nesta Quarta-feira de Cinzas, 10, na sede da Conferência, em Brasília (DF).

O evento foi presidido pelo bispo da Igreja Anglicana do Brasil e presidente do Conic, dom Flávio Irala. Compuseram à mesa o arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, dom Sergio da Rocha; o ministro das Cidades, Gilberto Kassab; o diretor da Misereor, monsenhor Firmino Spiegel; o presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, pastor Nestor Friedrich; o arcebispo da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, dom Paulo Titus Hanna; o presidente da Aliança Batista, pastor Joel Zeferino; o moderador da Igreja Presbiteriana Unida, presbítero Wertson Brasil; e o representante da Igreja Anglicana, reverendo Arthur Cavalcante.

Saneamento básico

Na ocasião, o arcebispo de Brasília e presidente da entidade, dom Sergio da Rocha, ressaltou a atualidade e a urgência do tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, que tem como foco no saneamento básico. Ao denunciar a exposição da população ao mosquito aedes aegypit, vetor dos vírus da dengue, chikungunyae e zika, dom Sergio afirmou que a “falta de saneamento básico destrói a casa comum e a vida da família que habita essa casa”.

“O tema desse ano é de grande atualidade e urgência. O cuidado da casa comum, pondo em relevo o saneamento básico, não pode ser descuidado, nem pode ser deixado para depois, necessita da atenção e dos esforços de todos. Há muita coisa a ser feita por cada pessoa, espontaneamente, mas, embora seja sempre muito importante o que cada um pode fazer pessoalmente, nós necessitamos muito da vivência comunitária da Campanha, de iniciativas e de ações comunitárias, então, cada comunidade é convidada a refletir sobre o que fazer em sua realidade local, quais ações comunitárias realizar motivadas por esta Campanha”, disse dom Sergio.

“Estou certo de que queremos ver o direito brotar, não o lixo se espalhar; queremos ver a justiça e não o esgoto correr como riacho; queremos ver a água ser assegurada como direito e usada com responsabilidade; queremos ver a casa comum cuidada de modo corresponsável”, exortou ao lembrar do lema da Campanha “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24).

O bispo da Igreja Anglicana do Brasil e presidente do Conic, dom Flávio Irala, recordou que o tema aponta o saneamento básico como um bem essencial para a concretização de todos os direitos humanos. “Portanto, nenhuma pessoa pode ser privada do acesso aos benefícios de saneamento básico em função de sua condição socioeconômica”, disse. Para o bispo anglicano, o Conic compreende que o acesso ao saneamento deve ser considerado um “bem de caráter público destinado à inclusão social e a garantia dos principais instrumentos de proteção da qualidade dos recursos hídricos, dos inibidores de doenças, como cólera, febre amarela, dengue, diarreia, bem como para evitar a proliferação do vírus zika”.

Irala propôs três pontos para mobilização. Um relacionado à participação popular nos planos municipais de saneamento básico, outro que pede o fim dos “rios mortos” e, por fim, um pedido para que a construção de usinas no Rio Tapajós, em Santarém (PA), não seja realizada sem consulta à população.

Apoio internacional

O diretor geral da Misereor, entidade episcopal da Igreja Católica na Alemanha que trabalha na cooperação para o desenvolvimento de países da Ásia, da África e da América Latina, monsenhor Pirmim Spiegel, falou sobre as bases que as raízes do tema da CFE 2016. Spiegel citou o acordo Rio 92, o subtítulo da encíclica do papa Francisco sobre o cuidado da casa comum e o apelo das Nações Unidas para que as religiões e as Igrejas contribuam para solucionar os grandes problemas do planeta. Ao recordar o Ano Santo e as palavras de dom Helder Câmara, afirmou que “como cristãos e cristãs não podemos ser indiferentes que o nosso próximo sofra”.

“Nós estamos convencidos que as verdadeiras fronteiras não são entre os países, mas, sim, quem é livre e não livre, entre ser rico e pobre, entre ter acesso e não ter acesso aos serviços essenciais. Por meio dessa CF, conjunta e internacional, queremos ser um sinal de esperança e abrir caminho para o sonho de Deus, que haja direito e justiça para todos”, afirmou monsenhor Pirmim.

Mensagens

Como de costume, o papa Francisco enviou uma mensagem aos brasileiros por ocasião da Campanha da Fraternidade. O pontífice recordou a responsabilidade pela Casa Comum e que envolve os governantes e toda a sociedade.

“Pessoas são chamadas a tomar iniciativas em que se unam as Igrejas e as diversas expressões religiosas e todas as pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico. O acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação da pobreza e da fome, para a superação dos altos índices de mortalidade infantil e de doenças evitáveis, e para a sustentabilidade ambiental”.

Em seu texto, o papa apontou para a abordagem da encíclica Laudato Si’, que colabora com as reflexões da Campanha. São indicados alguns parágrafos que abordam o acesso à água potável como “direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”. Francisco também falou sobre a ecologia integral e a cultura ecológica, às quais “não pode se limitar a respostas parciais, como se os problemas estivessem isolados”.

No período da Quaresma, o papa convidou ao redescobrimento de como a espiritualidade cristã “se aprofunda quando superamos ‘a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor’ e descobrimos que Jesus quer ‘que toquemos a carne sofredora dos outros’, dedicando-nos ao ‘cuidado generoso e cheio de ternura’ de nossos irmãos e irmãs e de toda a criação”.

O secretário do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Olav Fykse Tveit, também enviou mensagem. Ele sugeriu que o tema da CFE lembra que “a comunidade humana está inserida numa comunidade mais ampla na terra, que por sua vez, é parte da morada da vida de Deus”.

Tveit também analisou a necessidade de mudanças e transformações, apontando que ações unilaterais, isoladas de países não são suficientes para confrontar a situação os problemas mais profundos desta “crise múltipla da vida”. Ele considera necessário encontrar uma maneira de fechar o abismo que existe entre ricos e pobres.

Fonte: http://cimi.org.br

A persistência do ódio na sociedade brasileira [Leonardo Boff]



Ou alguém acha que os milhões de escravos humilhados e feitos "peças” e as mulheres à disposição da volúpia sexual dos patrões e de seus filhos, não provocava surdo rancor e profundo ódio? É o que explica as centenas e centenas de quilombos por todas as partes no Brasil. E o ódio dos patrões que com a chibata castigavam seus escravos desobedientes no pelourinho?

O ódio pertence à zona do de mistério. A própria Bíblia não sabe explica-lo e o vê já presente desde o começo, no jardim do Éden.

O primeiro crime ocorreu com Caim que por inveja, que produz ódio, matou a seu irmão Abel. O mandamento era claro: "Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo” (Levítico 19,18; Mateus 5,43). O ódio é inimigo dos homens e de Deus e ele semeia a cizânia na terra (Mt 13,19).

Mas eis que vem Jesus e reverte a lógica do ódio: "Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5, 44). Ele mesmo sucumbiu ao ódio de seus inimigos mas, aceitando livremente a morte, "venceu a morte pela morte” e assim derrubou "o muro da inimizade que dividia a humanidade” (Ef 2,14-16). Prega e vive o amor incondicional para amigos e inimigos. Inaugurou assim uma nova etapa de nossa humanização.

Mas esse ideal nunca se transformou em cultura nos países cristianizados. Estamos ainda no Velho Testamento do "olho por olho, dente por dente”.

No Brasil, a raiva e o rancor histórico foram acrescidos depois das eleições de 2014. Houve quem não aceitou a derrota e deslanchou uma torrente de raiva e de ódio que contaminou não apenas o partido vencedor, mas toda a sociedade. Inegavelmente criou-se um consenso ideológico-político de alguns meios de comunicação que, com total desfaçatez, difundem esse sentimento.

O que leva um radialista da Rádio Atlântica FM, ligada à RBS gaúcha, conclamar a população a "cuspirem na cara do ex-Presidente Lula”, senão um ódio explícito e incontido?

A verdadeira perseguição judicial que Lula está sofrendo, tentando enquadrá-lo em algum crime, é movida não tanto pela fome e sede de justiça, mas pela vontade de punir, de desfigurar seu carisma e liquidar sua liderança. Grassa um maniqueísmo avassalador que amargura toda a vida social. Bem dizia Bernard Shaw: "o ódio é a vingança dos covardes”.

Mas tentando ir um pouco mais a fundo na questão do ódio, precisamos reconhecer que ele se enraíza em nossa própria condição humana, um feixe de contradições. Somos, por natureza, e não por desvio de construção, seres contraditórios, compostos de ódios e de amores, de abraços e de rejeições. É a escolha que fizermos que irá dar rumo à nossa vida: ou a benquerença ou a aversão. Mesmo escolhendo o amor, o ódio nos acompanha como uma sombra sinistra. Se não cuidamos dele, ele invade nossa consciência e produz sua obra nefasta.

Esse realismo o encontramos na Bíblia. Mas também num pensador como Bertrand Russel que observou com acerto: "o coração humano tal como a civilização moderna o modelou, está mais inclinado para o ódio do que pra a fraternidade”.

Lógico, se ela colocou como eixo estruturador a concorrência e não a colaboração e a luta de todos contra todos em vista da acumulação privada, entende-se que predomine a tensão, a raiva, a inveja a ponto de o lema de Wall Street ser "greed is good”: a cobiça é boa.

Mas há um ponto que precisa ser referido, observado já por F. Engels quando escreveu uma introdução ao livro de Marx sobre "A luta de classes na França”: "Se houver alguma possibilidade de as massas trabalhadoras chegarem ao poder, a burguesia não admitirá a democracia sendo até capaz de golpeá-la”. Ora, através de Lula, o PT e seus aliados, vindo das massas trabalhadoras, chegaram ao poder. Isso é inadmissível pelos "donos do poder” (R. Faoro). Estes procuram inviabilizar o governo de cunho popular, desconsiderando o bem comum.

Aqui valem as palavras sábias do velho do Restelo de Camões: "Ó glória de mandar, o vã cobiça/Desta vaidade a quem chamamos fama./Ó fraudulento gosto, que se atiça/Com uma aura popular que honra se chama” (Cântico IV, versos 94- 95).

Por detrás da busca "da glória de mandar” e do poder, revestido de raiva e de ódio, se esconde, atualmente, a vontade daqueles que sempre o detiveram e que agora o perderam e fazem de tudo para recuperá-lo por todos os meios possíveis.

* Por Leonardo Boff, escritor e colunista da Adital.

Fonte: http://www.adital.com.br

“Casa comum, nossa responsabilidade” [Marcelo Barros]




Esse é  o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica que, em todo o Brasil, será aberta pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) nessa quarta feira, 10 de fevereiro ou, no próximo domingo, o 1o da Quaresma. De fato, desde o ano 2000, essa será a 4a Campanha da Fraternidade Ecumênica. Reúne cinco Igrejas cristãs e diversas organizações interconfessionais. Dessa vez, além das Igrejas, essa Campanha da Fraternidade envolve também a Misereor, organização dos bispos católicos da Alemanha. O tema geral é o cuidado com a Terra, especialmente no que diz respeito ao saneamento básico que inclui o abastecimento de água urbano e rural; a coleta e tratamento de esgoto; o manejo adequado dos resíduos sólidos (lixo) e a drenagem das águas de chuva. Certamente, na realidade que, nesses dias, enfrentamos no Brasil, não podemos esquecer o combate a mosquitos que transmitem doenças que assolam a nossa população e provocam tantos males.  

As estatísticas mostram que, no Brasil, apesar dos esforços do governo nos últimos dez anos, ainda temos um longo caminho a percorrer no cuidado com a terra e com os nossos rios. É difícil compreender como um país que produz até aviões comerciais de grande porte não consegue solucionar os problemas de saneamento nem em cidades centrais como São Paulo e Rio de Janeiro. Os centros metropolitanos de médio e de grande porte enfrentam cada vez mais problemas relacionados à poluição da água.
 
Nas cidades, a maior parte do esgoto residencial e industrial contamina todas as águas superficiais, como rios, lagos, e o próprio oceano. Nos grandes rios brasileiros, ainda se veem esgotos serem jogados in natura.

É uma graça divina que, no Brasil, ao menos as cinco Igrejas que participam do Conselho Nacional de Igrejas (CONIC) tenham um desafio tão concreto e urgente para ligar com a celebração da Quaresma e da Páscoa. De fato, a responsabilidade pela Terra como causa comum tem de unir dois aspectos: o cuidado ambiental e a ecologia social. Tanto o Conselho Mundial de Igrejas, em seus documentos, como  o papa Francisco, na sua encíclica Laudatum sii, têm insistido: não se pode separar o equilíbrio ambiental e o cuidado com a justiça. Por isso, nessa CF 2016, o lema é a palavra bíblica: “Quero ver a justiça brotar como fonte e o direito correr como riacho que não seca” (Am 5, 24). Essa profecia confirma: O que para Deus é mais importante não é o culto e nem atos de devoção individual e sim que todos cuidem da justiça social e trabalhem para que, no país e no mundo, todos tenham respeitados os seus direitos  individuais, sociais e de saúde. Só assim, as celebrações se tornarão profundas e chegarão aos ouvidos de Deus.

Ao falar em saneamento básico, muita gente dirá que isso é obrigação do governo e que, sobre isso, os cidadãos comuns podem fazer pouco. De fato, em termos estruturais, é verdade: a primeira obrigação é do governo. No entanto, a tarefa dos cidadãos é velar e exigir que os seus direitos sejam respeitados. O trabalho das autoridades deve ser complementado pelo cuidado de toda a população. A limpeza de córregos e rios feita pelas autoridades públicas só funciona se a população colabora e não joga lixo nas ruas. Nessa linha, o texto-base da CF 2016, dirigido aos cristãos de todas as Igrejas e pessoas de boa vontade, sugere várias ações simples e cotidianas.
 
O objetivo é criar uma nova consciência de cuidado com a terra e com a água, assim como uma maior solidariedade social. O texto propõe que as comunidades cristãs estimulem as pessoas a fazerem a coleta seletiva do lixo caseiro e a tratar a rua como espaço coletivo a ser cuidado por todos. Além disso, como gesto comum, nessa Quaresma, pede que evitemos o consumismo. Como, em muitas Igrejas, o jejum é um costume tradicional do tempo da Quaresma, a CF 2016 propõe que façamos um dia de jejum, repartindo com uma família mais pobre o alimento daquele dia. Que essa CFE nos ajude a aprofundar a unidade das Igrejas que Deus quer e pede que vivamos.
 
“Ó Deus da vida, da justiça e do amor, Tu fizeste com ternura o nosso planeta, morada de todas as espécies e povos. Dá-nos assumir, na força da fé e em irmandade ecumênica (com as outras Igrejas cristãs), a corresponsabilidade na construção de um mundo sustentável e justo para todos. No seguimento de Jesus, com a alegria do Evangelho e com a opção pelos pobres. Amém”. (oração da CFE – Texto base, p. 73). 

Onze:20 - Vida Loka





Eu vou vivendo ao vivo essa vida loka
Fazendo um bom uso da palavra fé
Não quero mais saber desse seu bate boca
Eu vim pra te mostrar que ainda tô de pé --
Eles dizem por aí que a fome é o que mata
Matam pra sobreviver antes que sorte mesmo faça
O seu erro é pensar que o povo é só mais um primata
Que tem que se calar pra não falar e obedecer

Eu vou mandar dizer
Pro meu povo que a gente não vai mais sofrer
Que o caminho agora é outro
Eu vou viver pra crer
Que o meu santo é forte e vai me proteger
Eu vou sair desse sufoco

O rei mandou a gente se ajudar
Fazer um só caminho em um só coração
Ter sabedoria pra poder lutar
E sua mente aberta em forma de oração
As suas atitudes vão fazer valer
As suas chances de poder ver
Classe A, classe B
Todos juntos eu ser
Vem que tá neguinho
É só querer

Eu vou mandar dizer
Pro meu povo que a gente não vai mais sofrer
Que o caminho agora é outro
Eu vou viver pra crer
Que o meu santo é forte e vai me proteger
Eu vou sair desse sufoco

Eu vou mandar dizer
Pro meu povo que a gente não vai mais sofrer
Que o caminho agora é outro
Eu vou viver pra crer
Que o meu santo é forte e vai me proteger
Eu vou sair desse sufoco

Eu vou... Eu vou... Eu vou
Eu vou sair desse sufoco

Eu vou... Eu vou... Eu vou
Eu vou sair desse sufoco