sábado, 3 de outubro de 2015

CARTA ABERTA CONTRA A VIOLÊNCIA E O EXTERMÍNIO DE JOVENS






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No Brasil milhares de jovens são vitimas das diversas formas de violência todos os dias. Há no país uma cultura de extermínio dos e das jovens. Assistimos cotidianamente, na TV, reportagens que confirmam estas informações. Mesmo diante dos fatos apresentados pela mídia ou pelas pesquisas que tem sido feitas, os governos continuam inertes diante da barbárie cometida contra a vida da juventude brasileira. Isso quando esta barbárie não é respaldada ou praticada pelos próprios órgãos do Estado.
Parauapebas município situado à região sudeste do estado do Pará, encravado em uma das regiões mais ricas do planeta, se apresenta como um dos municípios brasileiros em que a juventude está mais exposta a violência, sobre tudo a violência letal. É assustador pensar que uma terra como esta que é tida como a terra da esperança de tantos homens e mulheres se traduza num espaço de violência e morte. É assustador saber que nós jovens não teremos um futuro se essa cultura de morte prevalecer. Nós, todos e todas, estamos morrendo!
Lorena Lima, jovem, mulher, negra e militante das causas sociais, sobretudo as de juventude, foi brutalmente assassinada. Lorena era assessora da Pastoral da Juventude de Parauapebas, uma ação articulada dos jovens da igreja católica que sempre se posicionou de diversas formas contra a violência e do extermínio dos e das jovens, e estava candidata a Conselheira Tutelar da cidade. Nos últimos meses tinha dedicado muitas e muitas horas ao estudo e a reflexão coletiva sobre seu papel na sociedade parauapebense.
Hoje, não só a Pastoral da Juventude e as Comunidades Eclesiais de Base da Diocese de Marabá, mas também o Levante Popular da Juventude, o Conselho da Criança e do Adolescente e tantos outros coletivos aos quais Lorena contribuía de forma direta ou indireta sofremos uma grande baixa nessa luta, tendo uma de suas lutadoras vitimada pela violência que tanto combateu.
Hoje temos uma certeza: sua luta não será em vão! Lorena é testemunha fiel do Reino de Deus, que ela construía no cotidiano da luta. Por isso reafirmamos nosso compromisso com a vida! E vamos preparar nossa militância para intensificar a luta contra qualquer forma de violência e extermínio dos e das jovens; Contra o feminicídio e o machismo que vitimiza milhares de mulheres todos os dias; Contra a redução da maioridade penal; Contra as praticas ilegais de divulgação de imagens de vitimas de violência em redes sociais, não respeitando a privacidade e a dor dos familiares e amigos.
Por fim, reafirmamos a toda juventude de que a luta da companheira Lorena Lima ficará marcada em nossa mente e nosso coração e vai motivar uma multidão de seguidores no combate a violência e o extermínio de jovens, “pois o que a memória amou ficou eterno” (Adélia Prado).
Deus te receba no calor do teu abraço, Lorena.
Lorena Lima, Presente!
Pastoral da Juventude da Diocese de Marabá
Comunidades Eclesiais de Base da Diocese de Marabá
Pastorais Sociais da Diocese de Marabá
Levante Popular da Juventude de Marabá e Parauapebas
Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção Parauapebas

O que Deus uniu, o homem não deve separar (Mc 10, 2-16) [Thomas Hughes]


Durante a caminhada d’Ele rumo a Jerusalém, onde o poder central religioso-político vai condená-Lo à morte, no intuito de acabar não somente com a pessoa d’Ele, mas com o seu projeto, Jesus, no texto de hoje, entra primeiro em controvérsia com os fariseus, os guardiães da prática fiel da Lei. Esses, que gozavam de muito prestígio diante da população mais simples, se outorgavam o direito de serem os únicos intérpretes autênticos da vontade de Deus, através da sua interpretação da Lei. Por isso entram em conflito com Jesus, não na busca de conhecer melhor a vontade do Pai, mas, como ressalta o texto “para tentá-lo” (v. 2). O campo de batalha escolhido era o debate sobre o divórcio. O texto de referência para eles era Dt 24, 1-4, onde não se trata da legitimidade do divórcio, mas, dos critérios para que possa acontecer.

O Evangelho de Mateus, no capítulo 19, deixa mais claro do que Marcos o sentido do debate (veja Mt 19, 1-9). O pano de fundo eram os critérios necessários para que um homem pudesse divorciar a sua mulher (nem se cogitava a mulher pudesse divorciar o marido, pois a mulher era considerada “objeto” que pertencia ao homem!). No tempo de Jesus havia duas tendências, simbolizadas pelas escolas rabínicas dos grandes fariseus Hillel e Shammai. Uma escola, mais laxista (Hillel), ensinava que se podia divorciar a mulher por qualquer motivo, mesmo dos mais banais. A escola mais rigorosa - do Shammai - só permitia o divórcio por motivos muito sérios. Por isso, em Mateus a pergunta se define melhor: “é permitido divorciar a mulher por qualquer motivo que seja?” (Mt 19, 4).

Em ambos os evangelhos, Jesus se recusa a entrar no debate de casuística que cercava a questão e se limitava a reafirmar o projeto do Pai para o casamento: “Portanto, o que Deus uniu o homem não deve separar”. Jesus reafirma com toda firmeza o ideal do casamento cristão - uma união permanente, baseada no amor, e fortalecida pela graça do sacramento. Seria inútil buscar nesse trecho uma teologia mais desenvolvida do casamento, muito menos orientações pastorais para os problemas práticos de casamentos malsucedidos, pois, isso não foi a intenção do autor. Marcos simplesmente reafirma o princípio de que “o que Deus uniu, o homem não deve separar”. Deixa em aberto a questão de quando é que Deus realmente uniu o casal! Será que, só porque passaram por uma cerimônia validamente celebrada na igreja, um casal é necessariamente unido por Deus? Os problemas reais são muito mais complexos, angustiantes e difíceis de serem solucionados.

O trecho continua com a questão das crianças. A questão aqui não é a criança como símbolo da inocência, mas de dependência. As crianças e os que se assemelham com elas vivem essa situação de dependência, de “sem-poder”. Quem quer entrar no Reino de Deus terá que ab-rogar-se de todo poder dominador, tornando-se como criança.
 
Recusando-se a aceitar a situação em que a mulher era simples objeto de posse do homem e assim passível de ser divorciada, e propondo o fraco e dependente como modelo em uma sociedade que valorizava o prepotente, Jesus mostra que os valores do Reino de Deus estão na contramão dos valores da sociedade do seu tempo - e de hoje. Propõe uma igualdade de dignidade entre homem e mulher, uma fidelidade e compromisso permanentes, e a busca de uma vida de serviço e não de dominação! Realmente, uma proposta no contra fluxo da sociedade pós-moderna que nega o permanente, perpetua o machismo e admira o poderoso e dominador! O texto de hoje nos convida para que entremos “com Jesus na contramão” e para que criemos uma sociedade baseada em outros valores do que os que estão hoje em vigor, às vezes até no seio das próprias igrejas.

Pastoral da AIDS realiza Seminário Nacional de Prevenção


Com objetivo de analisar, na perspectiva da prevenção, a atual conjuntura do enfrentamento da Aids, será realizado entre os dias 02 e 04 de outubro, a 13ª edição do Seminário Nacional de Prevenção ao HIV, em Porto Alegre/RS. A atividade promovida pela Pastoral da Aids, em parceria com a Casa Fonte Colombo – Centro de Promoção da Pessoa Soropositiva-HIV e a Escola superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF num cenário em que, segundo o último relatório do Programa das Nações Unidas sobre HIV – UNAIDS, estima-se que 36,9 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com o vírus, mas só metade delas sabem.

Entre os convidados está Dr. Fábio Mesquita, diretor do Departamento Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais (Ministério da Saúde); Maria Clara Gianna, coordenadora da Política de Aids em São Paulo (CRT DST/Aids-SP); Veriano Terto, Jr. docente no Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) e membro da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA); Rubens Duda, do Programa Municipal de DST e Aids de São Paulo; Luiz Carlos Susin, frei capuchino, doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, é professor na PUCRS e Ricardo Charão, ex-coordenador estadual de DST/Aids do Rio Grande do Sul.

De 2000 a 2014, o número de infecções no mundo caiu 35% e passou de 3,1 milhões para 2 milhões no ano passado. O número de mortes também caiu 41% nesses 15 anos. Entretanto, no Brasil, os casos de infecção ao HIV cresceu 11% entre 2005 e 2013 no Brasil, acreditando-se que cerca de 734 mil pessoas vivam com o vírus. Preocupa ainda o fato de que a aids continua a crescer na população juvenil. Entre os jovens do sexo masculino de 15 a 19 anos, o número de casos aumentou mais de 50% na última década. Neste sentido, pretende debruçando-se sobre a experiência da medicalização, suficiência da rede de atenção, papel da rede básica, superação da “ditadura do preservativo”, incorporação de novas tecnologias, papel das organizações da sociedade civil e compreensões da sexualidade.

Segundo Frei José Bernardi, secretário executivo da Pastoral da Aids, este é um evento que acontece anualmente sobre os desafios que a epidemia apresenta no campo da prevenção. Ele acredita que “enquanto há novas infecções, ainda temos necessidade de respostas novas e de novas estratégias para evitar que o contágio continue”. Por reunir diversas lideranças, ele acredita que “é uma oportunidade para animar as equipes que se dedicam em todo o Brasil e incentivar práticas promissoras”. “O evento é importante também, porque proporciona diálogo entre os agentes de pastoral e profissionais da área da saúde, estudiosos que estão pesquisando nas universidades e gestores das três esferas de governo, responsáveis pela implementação de políticas públicas no campo do HIV e aids”, acrescenta.

PROGRAMAÇÃO

Jesus não é exclusivo de ninguém [José Pagola]


A cena é surpreendente. Os discípulos se aproximaram de Jesus com um problema. Neste caso, o porta-voz do grupo não é Pedro, mas João, uns dos irmãos que andavam buscando os primeiros lugares no grupo. Agora o grupo de discípulos procura ter exclusividade de Jesus, buscam seu monopólio. Pretender ter exclusividade de sua ação libertadora.
Eles estão preocupados. Um exorcista que não faz parte do grupo está expulsando demônios em nome de Jesus. Os discípulos não gostam de que as pessoas fiquem curadas e que possam iniciar uma vida mais digna. Eles pensam somente no prestígio de seu próprio grupo. Por isso tentaram cortar pela raiz sua atuação. Este é o único motivo: "ele não nos segue".
Os discípulos pensam que, para atuar em nome de Jesus e com sua força curativa, é preciso ser membro de seu grupo. Pensam que ninguém pode invocar a Jesus e trabalhar por um mundo mais humano sem fazer parte da Igreja. É realmente assim? Que pensa Jesus a respeito?
Suas primeiras palavras são claras: "não lhes proíbam". O nome de Jesus e a sua força humanizadora são mais importantes do que o pequeno grupo de seus discípulos. É bom que a salvação que traz Jesus se estenda além da Igreja estabelecida e ajude as pessoas a viver de forma mais humana. Ninguém deve vê-la como uma competência desleal.
Jesus quebra toda tentativa sectária de seus seguidores. Ele não formou seu grupo para controlar sua salvação messiânica. Ele não é um rabino de uma escola fechada, mas um profeta de uma salvação aberta a todos e todas. Sua Igreja deve colocar seu nome onde ele é invocado para fazer o bem.
Ele não quer que entre seus seguidores se fale dos que são nossos e dos que não os são, os "de dentro e os de fora". Quer dizer, ele não quer que se fale entre os que podem e os que não podem atuar em seu nome. Sua maneira de ver as coisas é diferente: "quem não esta contra nós está a nosso favor".
Em nossa sociedade há muitos homens e mulheres que trabalham por um mundo mais justo e humano sem fazer parte da Igreja. Alguns nem são crentes em Deus mas estão abrindo caminhos ao reino de Deus e à sua justiça. Estes são nossos. Devemos ficar alegres em vez de olhar para eles com ressentimento. Devemos apoiá-los em lugar de desqualificá-los.
É um erro viver na Igreja vendo hostilidade e maldade por todos os lados, acreditando ingenuamente que somente nós somos portadores do Espírito de Jesus. Ele não nos aprovaria. Antes, convidar-nos-ia para colaborar com alegria com todos aqueles que vivem de maneira evangélica e que se preocupam dos mais pobres e necessitados.

Mais antiga cópia dos Dez Mandamentos é exibida em Israel


O mais antigo documento conhecido que reproduz integralmente os Dez Mandamentos está em exibição em Jerusalém, em uma mostra do Museu de Israel - informou nesta quarta-feira o estabelecimento.

O documento, escrito em hebraico e com mais de 2.000 anos de idade, é geralmente mantido nas instalações da Autoridade de Antiguidades de Israel, fora de alcance ao público e em condições draconianas de conservação, similares à caverna onde foi encontrado.

O documento já havia ganhado uma exposição excepcional em Nova York, em 2011, e em Cincinnati, em 2013. Mas seu acesso ao público é muito raro, até mesmo em Israel.

Agora, o público pode apreciá-lo por ocasião da exposição intitulada "Uma breve história da humanidade", montada no Museu de Israel com recursos oriundos do estabelecimento e inaugurada recentemente. O texto está protegido numa redoma dotada de um dispositivo climático devido à sua fragilidade.

O documento, de 45,7 cm de comprimento e 7,6 centímetros de largura, com as instruções morais que Moisés teria recebido de Deus no Monte Sinai, faz parte dos 870 manuscritos encontrados por um beduíno no noroeste do Mar Morto entre 1947 e 1956 perto de Qumran.

Muitos especialistas estimam que os Manuscritos do Mar Morto foram escritos pelos essênios, uma seita judaica dissidente que se retirou no deserto. Outros especialistas acham que poderiam vir de bibliotecas do Templo Judaico que estava sendo erguido em Jerusalém, e foram escondidos em cavernas com a aproximação dos romanos que destruíram o local em 70 d.C.

O manuscrito original da teoria da relatividade de Albert Einstein está em exibição na mesma exposição, que foi inaugurada em 30 de abril e vai até janeiro de 2016.


Fonte: AFP

“Quem não está contra nós está a nosso favor” (Mc 9, 38-43.45.47-48 ) [Thomas Hughes]





Esta reflexão nos coloca mais uma vez no contexto do ensinamento de Jesus aos seus discípulos, enquanto caminhavam para Jerusalém. Já vimos que a partir da “crise galilaica”, Jesus mudou a sua estratégia, afastou-se das multidões e dedicou-se à formação mais intensa dos seus discípulos, pois estes se mostravam incapazes de acolher a novidade do Evangelho, com a mudança radical de atitudes que ele implicava.

A primeira atitude a ser corrigida, nesta reflexão, é a de querer reservar o Espírito de Jesus como propriedade da comunidade. João se queixa que um homem que não os seguia estava expulsando demônios em nome de Jesus. Atitude mesquinha, de querer dominar o Espírito de Deus, sequestrar o poder divino! Mas, infelizmente, uma atitude bastante prevalecente em certos setores mais retrógrados das Igrejas ainda hoje, que acham que toda a riqueza do mistério de Deus possa caber dentro das margens estreitas das suas definições dogmáticas! Hoje, Jesus nos ensina a verdadeira atitude de um discípulo: “Não lhe proíbam, pois... quem não está contra nós, está a nosso favor” (v. 40). Temos que aprender a acolher as manifestações verdadeiras do Espírito de Deus em todas as religiões e culturas, e estar alertas para que nós mesmos não O escondamos ou deturpemos! Discernimento deve ser uma atitude permanente de vida!

A segunda parte do trecho nos coloca diante do problema do escândalo aos pequenos na comunidade. Aqui cumpre ressaltar que “os pequenos” neste texto não são as crianças, mas os humildes e pobres da comunidade cristã. É bom lembrar o sentido original da palavra “escândalo”. Vem de um termo grego que significa “pedra de tropeço”. Então se trata de uma situação em que os pequenos da comunidade “tropeçam”, isso é, não conseguem manter-se em pé ou se afastam, por causa de certas atitudes dos dirigentes comunitários (é bom notar que o discurso e as advertências se dirigem aos discípulos, e não aos de fora). Deve ter sido um problema comum, pois o Discurso Eclesiológico (isto é, da Igreja) no Evangelho de Mateus trata do mesmo assunto (Mt 18, 6-14). Usa imagens e linguagem tipicamente semitas: Jesus manda cortar e jogar fora “a mão, o pé, e o olho”, que causam escândalos aos pequenos. Obviamente não se propõe aqui uma mutilação física, mesmo se, ao longo da história, houvesse quem assim o entendesse - por exemplo, Orígenes. Na verdade, “mão” significa a nossa maneira de agir, “pé” o modo de caminhar na vida e “olho” o jeito de ver e julgar as coisas, ou até, a nossa ideologia. Então o texto convida os dirigentes das comunidades cristãs (hoje bispos, padres, pastores, irmãs, ministros etc.) a reverem o seu modo de agir, pensar e julgar, para averiguar se não estão causando a queda dos pequenos e humildes. Se descobrirmos que assim esteja acontecendo, então devemos “cortar e jogar fora” - ou seja, mudar o que causa o problema. Caso contrário, não experimentaremos na comunidade a presença do Reino de Deus - a vivência dos valores do Evangelho, que Jesus deu a vida para estabelecer.
 
A caminhada para Jerusalém, no Evangelho de Marcos, é um grande ensinamento de Jesus para quem quer segui-lo como discípulo. Trecho por trecho, vai desafiando a mentalidade dos discípulos, tão marcada pelos valores da sociedade vigente, e semeando os valores do Reino. Hoje, Ele nos desafia a praticarmos um verdadeiro ecumenismo e diálogo inter-religioso, e a revermos os nossos modos de agir e pensar, para que a experiência cristã de comunidade seja uma amostra real dos valores do Reino de Deus.

Ecumenismo: Ninguém é dono de Jesus (Mc 9,30-37) [Mesters e Lopes]


Abrir os olhos para ver
O texto de Evangelho que meditaremos no próximo domingo traz uma grande incoerência da parte dos discípulos de Jesus. Enquanto Jesus anunciava a sua paixão e morte, os discípulos discutiam entre si quem deles era o maior. Jesus queria servir, eles só pensavam em mandar! A ambição os levava a querer subir às custas de Jesus. Vamos conversar sobre isto.
Situando
Esta reflexão traz o segundo anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Como no primeiro anúncio - Mc 8, 27-38 -, os discípulos ficam espantados e com medo. Não entendem a palavra sobre a cruz, porque não são capazes de entender nem de aceitar um Messias que se faz empregado e servidor dos irmãos. Eles continuam sonhando com um messias glorioso. O texto ajuda a perceber algo da pedagogia de Jesus. Mostra como ele formava os discípulos, como os ajudava a perceber e a superar o "fermento dos fariseus e de Herodes".
Tanto na época de Jesus como na época de Marcos, havia o fermento da ideologia dominante. Também hoje, a ideologia da propagandas do comércio, do consumismo, das novelas influi profundamente no modo de pensar e de agir do povo. Na época de Marcos, nem sempre as comunidades eram capazes de manter uma atitude crítica frente à invasão da ideologia do império. A atitude de Jesus com relação aos apóstolos, descrita no evangelho, as ajudava e continua ajudando a nós hoje.
Comentando
Marcos 9,30-32: O anúncio da cruz
Jesus caminha através da Galileia, mas não quer que o povo o saiba, pois está ocupado com a formação dos discípulos e discípulas e conversa com eles sobre a cruz. Ele diz que, conforme a profecia de Isaías - Is 53,1-10 -, o Filho do Homem deve ser entregue e morto. Isto mostra como Jesus se orientava pela Bíblia, na formação aos discípulos. Ele tirava o seu ensinamento das profecias. Os discípulos o escutam, mas não entendem a palavra sobre a cruz. Mesmo assim, não pedem esclarecimento. Eles tem medo de deixar transparecer sua ignorância.
Marcos 9,33-34: A mentalidade de competição
Chegando em casa, Jesus pergunta: Sobre que vocês estavam discutindo no caminho? Eles não respondem. É o silêncio de quem se sente culpado, pois pelo caminho discutiam sobre quem deles era o maior. Jesus é bom formador. Não intervém logo, mas sabe aguardar o momento oportuno para combater a influência da ideologia dos seus formandos. A mentalidade de competição e de prestígio que caracteriza a sociedade do Império Romano já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando! Aqui aparece o contraste! Enquanto Jesus se preocupa em ser o Messias Servidor, eles só pensam em ser o maior. Jesus procura descer. Eles querem subir!
Marcos 9, 35-37: Servir, em vez de mandar
A resposta de Jesus é um resumo do testemunho de vida que ele mesmo vinha dando desde o começo: Quem quer ser o primeiro seja o último de todos, o servidor de todos! Pois o último não ganha nada. É um servo inútil (cf. Lc 17,10). O poder deve ser usado não para subir e dominar, mas para descer e servir. Este é o ponto em que Jesus mais insistiu e em que mais deu o seu próprio testemunho (cf. Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).
Em seguida, Jesus coloca uma criança no meio deles. Uma pessoa que só pensa em subir e dominar não daria tão grande atenção aos pequenos e às crianças. Mas Jesus inverte tudo! Ele diz: "Quem receber uma destas crianças em meu nome é a mim que recebe. Quem receber a mim recebe aquele que me enviou! Ele se identifica com as crianças. Quem acolhe os pequenos em nome de Jesus acolhe o próprio Deus!
Alargando
Um retrato de Jesus como formador
"Seguir" era um termo que fazia parte dos sistema da época. Era usado para indicar o relacionamento entre o discípulo e o mestre. O relacionamento mestre-discípulo é diferente do relacionamento professor-aluno. Os alunos assistem às aulas do professor sobre uma determinada matéria. Os discípulos "seguem" o mestre e convivem com ele. Foi nesta "convivência" de três anos com Jesus que os discípulos e as discípulas receberam a sua formação.

“Não vamos deixar o agronegócio tomar o nosso país”


Quando perceberam que teriam de ser revistados pela polícia e enfrentar uma longa fila para adentrar na sessão solene em “homenagem” aos povos indígenas na Câmara dos Deputados, os representantes do povo Tupinambá, vindos do sul da Bahia, decidiram bater em retirada. “Uma casa, quando vai receber para uma sessão solene, não tem de humilhar ninguém dessa forma”, criticou Babau Tupinambá. Junto com seu povo, Babau negou-se a participar da solenidade ocorrida durante o 11º Acampamento Terra Livre (ATL)*, que aconteceu no mês de abril em Brasília.
Babau é cacique da aldeia de Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia. A Serra do Padeiro é uma das muitas comunidades indígenas que tiveram que buscar alternativas para sobreviver frente à violência cotidiana e à morosidade do Estado brasileiro.
Como outras comunidades, a exemplo dos Guarani Kaiowá (no Mato Grosso do Sul) e Kaingang (no Rio Grande do Sul), o povo Tupinambá cansou-se da marginalização e da miséria e partiu, em 2004, para a retomada de partes de seu território tradicional no interior da TI Tupinambá de Olivença, cujo processo demarcatório também iniciou naquele ano.
A delimitação da TI Tupinambá de Olivença – estimada em 47 mil hectares – foi concluída em 2009 e, desde então, aguarda a expedição da Portaria Declaratória do Ministério da Justiça, emperrada por decisões políticas do governo federal. Enquanto isso, a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança chegaram a ser enviadas para realizar ações de reintegração de posse contra os indígenas na área, o que resultou em diversos relatos de violações contra os indígenas.
Nesse processo, mais de vinte fazendas foram retomadas apenas na área da Serra do Padeiro, e muitas das áreas no interior do território indígena de Olivença, já reconhecido como tradicional do povo Tupinambá, encontram-se ainda sob a posse de não-índios e sob o poder de fazendeiros que não hesitam em contratar jagunços e comandar torturas, atentados e assassinatos contra os indígenas.
Durante o ATL, em Brasília, Babau Tupinambá, uma das lideranças ativas nesse processo de retomada, concedeu a entrevista a seguir, em que comenta alguns dos desdobramentos do acampamento que reuniu mais de 1500 indígenas de todo o Brasil durante quatro dias na Esplanada dos Ministérios.
A mobilização ocorreu num momento que é, talvez, o mais adverso enfrentado pelos povos indígenas desde a promulgação da Constituição de 1988. Por um lado, o governo Dilma – o que menos demarcou terras desde a redemocratização – mantém as demarcações paralisadas, por compromisso com a agenda do agronegócio. Por outro, a bancada ruralista avança com as tentativas de retirada de direitos dos povos indígenas, vistos como inimigos do agronegócio e limitadores da expansão das fronteiras agrícolas.
Dentre os projetos prioritários dos ruralistas, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 215), que pretende passar do Executivo para o Legislativo a atribuição de demarcar terras indígenas, é o risco mais iminente de retrocesso. Enquanto isso, decisões recentes da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) desconsideram as violações sofridas pelos indígenas durante a ditadura e aceitam recursos de fazendeiros para processos demarcatórios já concluídos.
Na entrevista, Babau também falou sobre a situação do povo Tupinambá, a relação com o Estado brasileiro e a prisão que sofreu em 2014, quando iria levar ao Papa Francisco, no Vaticano, um relatório denunciando as violações contra os direitos humanos sofridas pelos povos indígenas do Brasil. Na ocasião, Babau foi impedido de retirar seu visto e ficou sob custódia da Polícia Federal, em função de um mandado de prisão expedido dois meses antes pela Justiça da Bahia e motivado por uma denúncia de assassinato, a qual foi caracterizada por Babau como perseguição política.