segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Sobre o puro e o impuro (Mc 7,1-23) - Carlos Mesters e Mercedes Lopes

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O evangelho . Fala dos costumes religiosos da época de Jesus, muitos dos quais já tinham perdido seu sentido e até atrapalhavam a vida do povo, ameaçando as pessoas com castigo e inferno. Enxergavam pecado em tudo! Por exemplo, comer sem lavar as mãos era considerado pecado. Mesmo assim, estes costumes eram conservados e ensinados, ou por medo, ou por superstições. Vamos conversar sobre isso!

SITUANDO

Neste círculo, olhamos de perto a atitude de Jesus frente à questão da pureza. Anteriormente, Marcos já tinha tocado neste assunto da pureza: em Me 1,23-28, Jesus expulsou um espírito impuro. Em Me 1,40-45, ele curou um leproso. Em Mc 5,25-34, curou uma mulher considerada impura. Em vários outros momentos, ele tocou em doentes e deficientes físicos, sem medo de ficar impuro. Agora, aqui no capítulo 7, Jesus ajuda o povo e os discípulos a aprofundar este assunto da pureza e das leis da pureza.

Desde séculos, os judeus, para não contrair impureza, eram proibidos de entrar em contato com os pagãos e de comer com eles. Mas nos anos 70, época de Marcos, alguns judeus convertidos diziam: "Agora que somos cristãos temos que abandonar estes costumes antigos que nos separam dos pagãos convertidos!" Outros, porém, achavam que deviam continuar a observar as leis de pureza. A atitude de Jesus, descrita no evangelho de hoje, ajudava-os a superar o problema.

COMENTANDO


Marcos 7,1-2: Controle dos fariseus e liberdade dos discípulos
Os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, observavam como os discípulos de Jesus comiam pão com mãos impuras. Aqui há três pontos que merecem ser assinalados:
 
1) Os escribas são de Jerusalém, da capital! Significa que tinham vindo para observar e controlar os passos de Jesus.
 
2) Os discípulos não lavam as mãos para comer! Significa que a convivência com Jesus os levou a criar coragem para transgredir normas que a tradição impunha ao povo, mas que já não tinham sentido para a vida.
 
3) O costume de lavar as mãos, que, até hoje, continua sendo uma norma importante de higiene, tinha tomado para eles um significado religioso que servia para controlar e discriminar as pessoas.

Este povo me honra com os lábios, mas o coração deles está longe de mim (Mc 7,1-8.14-15.21-23) [Pe. Thomaz Hughes]




<br>Fonte: Disponível em http://www.homelie.biz
Para que entendamos o alcance do nosso Evangelho de hoje, é necessário entender o contexto religioso do tempo de Jesus. Entre os elementos chaves na prática religiosa do judaísmo daquela época, estavam os conceitos de “puro” e “impuro”. Na nossa teologia, não é possível cometer um pecado inconscientemente, mas, para o povo do tempo de Jesus, o pecado tinha uma existência quase independente das pessoas. Certos atos, certos lugares, certas profissões tornavam as pessoas impuras, isso é, não aptas para participar do culto, sem primeiro passar pelos ritos de purificação. A seita dos Essênios levava a preocupação com a pureza ritual aos extremos.  Também os fariseus - cujo nome vem de uma palavra que significa “separados” - davam suma importância à pureza ritual, assim, muitas vezes, impossibilitando o acesso do povo comum ao culto ao Deus da vida.

Diante dessa situação, a prática de Jesus era altamente libertadora. Sem recusar-se a participar nos ritos tradicionais, pois era judeu piedoso e praticante, Ele entendeu que nada que vem de fora da pessoa é capaz de deixá-la impura! Jesus recuperava a visão dos profetas, que tradicionalmente tinham conclamado o povo para que vivesse a justiça e a prática da vontade de Deus, em lugar de se preocupar primariamente com rituais externos. Jesus reintegrava as massas pobres, excluídas da vivência comunitária pelas exigências de pureza, impossíveis de serem seguidas na prática pela maioria. Ele voltava a atenção às disposições internas das pessoas, que realmente podiam deixar as pessoas “impuras” diante de Deus: “as más intenções, a imoralidade, os roubos, crimes, adultérios, ambições sem limite, maldade, malícia, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (v. 21-22).

Assim Jesus recupera o ensinamento de profetas como o Terceiro Isaías (Is 56-66), que diante das injustiças cometidas por pessoas que viviam na pureza ritual enquanto oprimiam os seus irmãos e ainda esperavam a proteção de Deus, denunciava: “O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente” (Is 58, 6-7).
 
É um desafio hoje examinarmos a realidade de nossa prática religiosa. Sem negar a importância e o papel de celebrações, ritos, rituais e devoções, o nosso texto exige de nós seguidores de Jesus um sério exame de consciência, para que verifiquemos se a nossa prática religiosa não está frequentemente semelhante à dos fariseus - perfeita nas expressões externas, mas vazia por dentro - ou se é como aquela que os profetas e Jesus propõem, uma religião de prática de solidariedade e justiça, brotando da fé, e coerente com a nossa fé no Deus da vida, onde os ritos têm o seu lugar, mas como expressão de um verdadeiro compromisso com o Reino de Deus. Que não se torne realidade nossa a denúncia de Jesus diante do legalismo farisaico: “este povo me honra com os lábios, mas o coração deles está longe de mim” (v. 6).


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

“Existe uma correlação entre a desigualdade social e a exploração de recursos naturais”, diz professor

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Pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Tadzio Peters Coelho, está lançando o livro Projeto Grande Carajás: 30 anos de desenvolvimento frustrado, nesta terça-feira (21), na Escola Nacional Florestan Fernandes, na cidade de Guararema, interior de São Paulo. 

Na obra, o sociólogo debate o processo de mineração brasileiro e os impactos causados tanto no meio ambiente quanto na sociedade. Para Coelho, o discurso do progresso trazido pelas mineradoras muitas vezes prejudica o desenvolvimento local e faz com que a população aceite um processo que traz mais concentração de renda.

Leia a íntegra da entrevista abaixo: 

Brasil de Fato - Como o livro analisa o atual cenário da mineração?

Tedzio Peters - É uma interpretação sociológica e econômica. As mineradoras conseguem fazer um discurso que passa pela geração de empregos em áreas distantes, aumentando assim a legitimação social, fazendo com que a população aceite a atividades delas. Acontece que quando a gente começa a estudar esses impactos, começa a entender que são ou muito limitados ou negativos.

Por exemplo: na questão da criação de empregos, a mineração é uma atividade intensiva em capital, mas não em trabalho. Então o mesmo dinheiro investido em uma outra atividade geraria muito mais empregos porque a automação, a mecanização, e a utilização de máquinas é gigantesca na mineração à céu aberto. 

Avaliamos também no livro questões positivas e negativas desses impactos: foram 32 negativos e 6 positivos. Dividimos eles em econômicos, sócio-culturais e ambientais. Um impacto local interessante é o aumento da concentração de renda. Muitas vezes a mineração se instala em um determinado local que já tem algumas atividades econômicas e a mineração impacta nessas atividades. Com a poluição dos rios, por exemplo, você prejudica a produção de leite, de queijo, de cachaça no local. As mineradoras também acabam contratando pessoas das capitais para ganhar um salário maior.

Existe um interesse político gigantesco sobre a região de Carajás e com o boom de commodities que passamos, a exploração mineral aumentou e aumentaram também os impactados. Essa expansão da mineração encontra no caminho camponeses, pequenos agricultores, quilombolas, indígenas e ribeirinhos que são afetados não só pela mina em si, mas pela estrutura de transportes, ferrovias e portos.

Falando um pouco mais desses impactos, como podemos diminuí-los?

A gente não está dizendo que tem que acabar com a mineração, ela é uma das bases da sociedade moderna, mas a gente não pode ficar produzindo de qualquer forma, tem que ter um limite. A mineração tem impactos que podem ser evitados e diminuídos de alguma forma, e existem aqueles que são fixos e que não tem o que fazer. 

Esse debate teria que ser feito pelo novo marco da mineração, da produção ter que respeitar a comunidade, e ter uma regulação maior. Isso não iria acabar com a concentração de renda porque isso é um limite imposto pelo próprio capital, mas é um caminho possível mesmo ainda mantendo muitos impactos

O Projeto Grande Carajás visava trazer progresso para o país e para a região. O que ele está deixando para os povos locais?

Existe uma correlação entre a desigualdade social e a centralização de renda a atividade intensivas na exploração de recursos naturais. Essas atividades são baseadas em grandes terras, elas criam pouquíssimo empregos, grupelhos de consumo e reforçam a lógica primário-exportadora do país, exportando produtos de baixo valor agregado e importando industrializados. Países intensivos na exploração de recursos naturais são muito desiguais: não só o Brasil, como também os países árabes, com o petróleo, e a África do Sul com minérios.

O que aconteceu nos últimos 20 anos na economia brasileira foi uma reprimarização, que focou ainda mais na exportação de comoddities. Seria interessante se a nossa cadeia produtiva fosse mais diversificada, com um leque mais amplo de produtos que exportamos. A dependência por esses recursos aumenta os impactos tanto na população quanto no meio ambiente e torna o país mais dependente do mercado internacional. Estamos fazendo o velho caminho colonial.

Apesar da baixa de preços do minério a Vale continua com bons lucros. O que explica isso?

Quando a gente começou a pesquisa do livro, no início de 2014, o preço do minério de ferro ainda estava entre US$ 70 e US$ 80 a tonelada métrica. Hoje está entre US$ 50 e US$ 60, mas ele já estava em queda porque bateu US$ 140 em 2012. Só que Carajás ainda permite que a Vale tenha uma operação bastante lucrativa porque o teor médio de pureza do minério da região é de 65%. No momento que a gente fez a pesquisa ela estava ampliando o projeto da Serra sul e aumentando a produção apesar da queda do preço. O que parece ser contraditório se explica porque poucos fornecedores tem um minério com esse grau de pureza, e com isso a Vale se torna maior ainda apesar da crise no setor.

Fonte: Bruno Pavan / Brasil de Fato

Tu tens palavras de vida eterna - Jo 6, 60-69 [Pe. Thomaz Hughes]

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Aqui temos a conclusão do grande discurso sobre o Pão da Vida. Mais uma vez, o Evangelho de João deixa claro que diante de Jesus e das palavras d’Ele, o ouvinte tem que tomar uma decisão radical. Os versículos do nosso texto não escondem o fato que nem todos conseguem optar por Jesus.
As primeiras palavras do texto “depois de ter ouvido isso”, demonstram que a divisão nasceu a partir de algum ensinamento de Jesus, sem explicitar o motivo exato da discussão. As preocupações comunitárias dos versículos anteriores, a afirmação de Jesus de que Ele dá o seu corpo como pão da vida e o fato que o texto se dirige aos discípulos, indicam que provavelmente foi o discurso eucarístico a fonte de divisão. Porém, a afirmação de Jesus de que Ele “dá a vida” - o que causou já uma divisão em 5,19-47, e a identificação da sua palavra reveladora com “o pão vindo do céu” na primeira parte do discurso, talvez tenham criado a controvérsia. De qualquer maneira, é importante notar que a divisão não se dá entre “os judeus”, no sentido das autoridades judaicas, mas entre os próprios discípulos, muitos dos quais abandonam Jesus neste momento. Sem dúvida, essa história reflete a experiência da Comunidade do Discípulo Amado na década de 90, quando estava sentindo na pele as dores de divisão, pois muitos dos seus membros estavam abandonando-a (essa divisão é o pano do fundo das três Cartas Joaninas).
Muitos discípulos se retiram 
É muito interessante a reação de Jesus diante do abandono da maioria dos seus discípulos. Ele não arreda o pé, mas com toda calma, até convida os Doze para saírem se não podem aceitar a sua Palavra. Jesus não se preocupa com números - mas com a fidelidade ao Pai. Talvez, até fique sozinho, mas não vai diluir em nada as exigências do seguimento da vontade do Pai. Um exemplo importante para nós, pois muitas vezes caímos na tentação de julgar o êxito pelos números: igrejas cheias indicam sucesso! Mas, nem sempre é assim - é mais importante ser coerente com o Evangelho, custe o que custar, do que “fazer média” com a sociedade, às vezes através de uma pregação tão insossa, que reduz a religião a mero sentimentalismo, sem consequências sociais.
O Espírito é o que vivifica 
Devemos cuidar para não interpretar erroneamente as palavras de Jesus no v. 63 quando diz que “É o Espírito que dá a vida; a carne para nada serve”. Às vezes, usa-se essa frase (e outras de João) para justificar uma religião dualista, onde tudo que é “espírito” é bom e tudo que é material é do mal! Aqui, João não distingue duas partes do ser humano; mas, duas maneiras de viver! A “carne” é a pessoa humana entregue a si mesma, incapaz de entender o sentido profundo das palavras e dos sinais de Jesus; o “espírito” é a força que ilumina as pessoas e abre os seus olhos para que possam entender a Palavra de Deus que se pronuncia em Jesus.

Diante do desafio de Jesus, Pedro resume a visão dos que percebem em Jesus algo mais do que um mero pregador. A quem iriam? Só Jesus tem as palavras de vida eterna! Declaração atual, pois é moda na nossa sociedade correr atrás de tudo que é novidade: supostas aparições, videntes, esoterismo, religiões orientais, gnosticismo e tantas outras propostas, às vezes até esdrúxulas, enquanto se ignora a Palavra de Deus nas Escrituras.

O texto nos convida a nos examinarmos, a verificarmos se estamos realmente buscando a verdade onde ela se encontra, ou se a deixamos de lado, achando - como a multidão no texto - que o seguimento de Jesus “é duro demais”! No meio de tantas propostas de vida, estamos convidados a reencontrarmos a fonte da verdadeira felicidade e da verdadeira vida, fazendo a experiência de Pedro, que descobriu que Jesus “tem palavras de vida eterna”.
Pe. Tomaz Hughes SVD [adaptado]

“Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (Lucas 1, 39-45) Tomaz Hughes]




Para entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, mesmo que haja também continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança. A primeira está retratada nos eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João; a segunda está nos relatos ao redor do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus.
 
Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada, deu o que era para dar - os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa; Zacarias, sacerdote que duvida do anúncio do anjo; e, o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a jovem virgem de Nazaré que acredita e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo, (Lc 2, 25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (2, 29). Por isso, não devemos reduzir a história de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse essa, não teria colocado o versículo 56, que mostra ela deixando Isabel antes do nascimento de João: “Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa”. É só depois que Lucas trata do nascimento de João.
   
Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a da Galileia à Judeia! A intenção de Lucas é literária e teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas, e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado, Maria, José e Jesus.

Eu sou o pão que desceu do céu (Jo 6, 41-51) [Ir. Florinda Dias Nunes]



O texto deste 19º domingo do Tempo Comum é Jo 6,41-51 e continua o discurso de Jesus sobre o pão que desceu do céu.

Conteúdo e contexto

No domingo passado a multidão havia pedido a Jesus: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (v. 34). Neste, ele faz a grande declaração: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede” (v. 35). Portanto, a narração se dá ainda junto ao Mar da Galileia onde Jesus havia multiplicado os pães (cf. v. 19). Nos vv. 41-51 acontece toda uma situação de crítica a este Jesus que se declara Pão Vivo, enviado pelo Pai. Podemos destacar três momentos nesta perícope:
 
 
1) vv. 41-42 – os adeptos da instituição criticam Jesus

A perícope começa introduzindo novas personagens, os adeptos da instituição, diante da declaração anterior de Jesus apresentam como objeção a sua origem humana, que para eles é incompatível com a sua qualidade divina (cf. vv. 41-42), pois “conhecem” sua origem e não conseguem ver nele a divindade. Assim como os hebreus murmuraram no deserto (cf. Ex 16,7-8), querendo retornar ao Egito, terra da escravidão e da morte, eles também murmuram. Não admitem que Jesus venha de Deus. Jesus, plenamente humano, vem de Deus e é a revelação perfeita de Deus. Por que separar Deus do humano? 
Com o prólogo (1,14) aprendemos que o humano Jesus é o ponto de encontro de Deus com a humanidade. O próprio Deus conduz as pessoas a essa descoberta. Só resta deixar-se guiar por Deus que se dá a conhecer plenamente humano na pessoa de Jesus. Estar do lado da vida é estar do lado de Deus. Jesus garante que quem está a favor da vida que nele se manifesta terá vida para sempre. A humanidade de Jesus é pedra de tropeço para os líderes. Já para a comunidade joanina a glória está justamente em Jesus de Nazaré, feito homem: “A Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos sua glória: glória do Filho único do Pai cheia de amor e fidelidade” (Jo 1,14).

Quem come deste pão viverá para sempre (Jo 6,41-51) . Thomaz Huges]



Neste texto nos encontramos no meio do discurso de Jesus sobre o “Pão da Vida”. O gancho que João usa para pendurar o discurso é o pedido dos judeus em v. 35: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Em resposta, Jesus começa o seu grande discurso. Divide-se em duas partes. Na primeira parte (vv. 35-50), que inclui o texto de hoje, o pão celestial que nos nutre é a revelação ou o ensinamento de Jesus (o tema sapiencial); na segunda parte (vv. 51-58) será a Eucaristia (tema sacramental). O redator da comunidade joanina combinou “o pão do céu” com o material eucarístico da Última Ceia e assim formou a segunda parte do discurso como texto paralelo à primeira. Isso explica a ausência de um relato da instituição da Eucaristia nos textos da Ceia em João - pois o seu conteúdo básico foi colocado aqui.
Como os seus antepassados murmuravam no deserto contra o pão que Deus mandava - o maná - agora eles se queixam do novo maná. Aqui logo aparece uma característica do João - a ironia. Os judeus (aqui se entende as autoridades judaicas e não o povo judeu) dizem que conhecem a origem de Jesus, pois só pensam na sua família de origem; Jesus mostra que na verdade não a conhecem, pois eles não viram o Pai, a sua verdadeira origem. Aqui também aparece em v. 47 mais uma característica joanina - a “escatologia realizada”. Enquanto para os Sinóticos o juízo é algo que acontece no último dia, para João, frequentemente, já aconteceu, pois a pessoa é salva ou condenada já, pela sua aceitação ou não de Jesus como o Filho de Deus.
Aqui, de novo, João nos dá o que talvez seja uma variante das palavras da instituição da Eucaristia: “O pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida” (v. 51). João enfatiza que o Verbo Divino se tornou carne e tem entregado a sua carne como alimento da vida eterna.
O texto não é fácil, pois é extraído de um discurso muito mais comprido e que forma uma unidade. Mas, está ligado em cap. 6 à multiplicação dos pães - a participação eucarística no Corpo e Sangue de Jesus exige uma vivência de partilha e solidariedade. Esse tema é caro a João e é retomado na sua Primeira Carta.

 Tomaz Hughes SVD

Aumento no tempo de internação de adolescentes: solução ou paliativo?




No último dia 14, o Senado Federal aprovou o aumento do tempo de internação de adolescentes que cometem atos infracionais. O período máximo de privação de liberdade continua sendo de três anos para determinados delitos, mas pode chegar a até uma década em casos mais graves.
O projeto de lei do Senado (PLS) 333/2015, de autoria de José Serra (PSDB-SP), cria um novo regime de atendimento socioeducativo no âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Na ocasião, foi apresentado um substitutivo pelo senador José Pimentel (PT-CE) que, a princípio, havia proposto o período máximo de oito anos, acatando depois emenda do próprio Serra, que manteve o limite em dez anos de internação.
A proposta segue para votação na Câmara dos Deputados e vem sendo apresentada como uma alternativa à PEC 171/93, que propõe redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e tem provocado debates acalorados em todo o país nos últimos meses. No entanto, especialistas da área alertam que o assunto deve ser discutido com o rigor e a seriedade que a situação exige.
Para Ricardo Breier, membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a ideia surgiu em um contexto de muita pressão em torno da diminuição da maioridade penal, mas não pode ser encarada como uma solução definitiva. Ele argumenta que o envolvimento de adolescentes com a criminalidade faz parte de uma situação complexa, que é vista, muitas vezes, de maneira simplista.
Breier afirma que intensificar políticas preventivas para essa população seria, de fato, o melhor caminho para resolver o problema. “Usamos só a repressão. Assim, o Estado consegue se isentar de sua responsabilidade, colocando toda a carga no menor”, opina. Para ele, apesar de todos os problemas, as unidades de internação ainda são mais eficazes que as cadeias, pois apresentam egressos com um índice de reincidência menor na prática de delitos.
O coordenador da Renade (Rede Nacional de Defesa do Adolescente em Conflito com a Lei) Rodrigo Deodato é ainda mais crítico. “Nós não acreditamos em qualquer alternativa que trabalhe na flexibilização de direitos. As conquistas estabelecidas pelo ECA, bem como pelo Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) devem ser garantidas e respeitadas como leis que estruturam os direitos humanos em nosso país. Não podemos ter direitos diminuídos”, sentencia.
O especialista acredita que propostas como essa representam um retrocesso e ferem os tratados internacionais assinados pelo Brasil, em que o país se compromete com algumas normas estabelecidas para garantir os direitos básicos dos jovens. Ele lembra que é preciso também assegurar condições adequadas nas instituições de internação para que a reinserção social possa se tornar uma realidade. “Não podemos mais permitir que os adolescentes em conflito com a lei fiquem em unidades que mais se apresentam como prisões”, enfatiza.
De acordo com levantamento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) de 2012, 30 adolescentes morreram dentro das unidades de internação, índice que supera a média de dois jovens por mês, tendo como principais causas os conflitos interpessoais e o suicídio. Outra pesquisa, feita pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no mesmo ano, mostrou que 28% dos jovens em privação de liberdade no país declararam ter sofrido agressão de funcionários, 10% disseram apanhar da PM dentro das unidades e 19% revelaram outros castigos físicos.
Texto: Maíra Streit 

Fonte: Revista Forum

Saiba como nasceu a canção “Pai Nosso dos Mártires”: Documentário faz memória aos 30 anos do Martírio de Ezequiel Ramin

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“Pai Nosso dos pobres marginalizados
Pai Nosso dos mártires, dos torturados...”
Fazendo memória aos 30 anos do martírio do Pe. Ezequiel Ramin, o Centro Bíblico Verbo produziu o documentário “Ezequiel Ramin - o mártir da opção pelos pobres”. Em 18 minutos de depoimentos e histórias comoventes, o vídeo explana o contexto no qual se deu o assassinato do missionário italiano, em Cacoal/RO, em 24 de julho de 1985. Ezequiel foi morto por pistoleiros a mando de latifundiários de Rondônia e de Mato Grosso.
Entre os depoimentos, Cirineu Kunh comenta como este assassinato o inspirou: “a foto de Ezequiel, todo perfurado de balas, me impactou muito. O sentimento, misturado com muita indignação foi o que me levou a compor o Pai Nosso dos Mártires”.
 


                                                              Pai Nosso dos Mártires




Pai Nosso dos Mártires [Cirineu Kuhn]








Pai Nosso dos pobres marginalizados
Pai Nosso dos mártires,dos torturados
Teu nome é santificado
naqueles que morrem defendendo a vida
Teu nome é glorificado
quando a justiça é nossa medida
Teu reino é de liberdade
de fraternidade, paz e comunhão
Maldita toda violência
que devora a vida pela repressão

Queremos fazer tua vontade
És o verdadeiro Deus libertador
Não vamos seguir as doutrinas
corrompidas pelo poder opressor

Pedimos-te o pão da vida
o pão da segurança, o pão das multidões
o pão que traz humanidade
que constrói pessoas em vez de canhões.

Perdoa-nos quando por medo
ficamos calados diante da morte
Perdoa e destrói os reinos
em que a corrupção é a lei mais forte

Protege-nos da crueldade
do esquadrão da morte, dos prevalecidos
Pai Nosso, revolucionário,
parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos.

Movimentos consideram CPI da violência contra juventude negra um 'marco histórico'



Violência contra juventude pobre e negra é histórica e institucionalizada, afirma relatório de CPI<br>Fonte: RBA
Militantes do movimento negro consideraram um “momento histórico” o reconhecimento pelo relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da violência contra essa população de que existe uma prática genocida institucionalizada contra a juventude negra e pobre brasileira. “A CPI colocou o dedo em uma ferida grande. O Brasil não quer encarar esse problema. O racismo institucionalizado é o grande causador da matança de jovens negros. Essa é a principal conclusão do trabalho”, avaliou o frei David dos Santos, coordenador da ONG Educafro.
Para o frei, a afirmação de que o preconceito racial está naturalizado nas instituições brasileiras é fundamental para que o enfrentamento desse crime possa avançar, tanto em políticas afirmativas quanto no combate à discriminação. “O racismo está presente no policial que executa um jovem negro. Nos meios de comunicação, que naturalizam a conotação negativa a tudo que se relaciona com os negros. Na formação universitária, que tem apenas 2% dos docentes negros”, ressaltou.
O relatório final da CPI aponta a segurança como área onde o racismo é mais evidente. “No que diz respeito ao levantamento das causas e razões da violência contra os jovens negros e pobres, pode ser levantado que a razão primordial do genocídio institucionalizado de jovens negros e pobres é o racismo que, historicamente, acompanhou nossa trajetória. Não se pode perder de vista que o aparato estatal encarregado da segurança pública pauta a sua conduta pela manutenção da ordem pública. E (...) o conceito de ordem pública repousa na manutenção da cultura e das regras sociais que historicamente alijaram os negros de uma posição de dignidade no concerto social”.

O protagonismo da criança presente (João 6,1-15) [Regene Lamb]



<br>Fonte: Imagem disponível em http://colhendoalegria.blogspot.com.br
Convido a olhar o texto de João 6,1-15 na perspectiva do protagonismo da criança presente. Tomo como ponto de partida a interação entre tempo, lugar epersonagens.

a) As referências ao tempo: O v.1 inicia mencionando o tempo no qual o fato descrito se passa. É um tempo “depois” que vem marcado e definido por aquilo que aconteceu anteriormente, ou seja, pelos sinais que Jesus realizava com os doentes: Jo 4.46-54 - a cura do filho de um funcionário real, um menino (v.49) cujo pai intercede por ele; e Jo 5.1-15 - a cura de um homem que estivera doente por trinta e oito anos e está sozinho, sem ninguém que o ajude (v.7).

O v. 4 traz outra referência ao tempo de Festa da Páscoa. Uma informação solta, que precisa ser analisada no contexto maior do Evangelho de João. A Páscoa é a festa comemorada para lembrar o Êxodo, a saída da terra da escravidão, o acontecimento mais importante da história do povo que narra suas experiências nos textos bíblicos. Também a observação do v.10: “pois havia naquele lugar muita grama”, é um indicativo para a estação do ano, a primavera, quando a grama é  perceptível. Porém, além do aspecto temporal, consideramos esta informação importante do ponto de vista do cenário, do lugar onde os acontecimentos são vivenciados. Também o v.12 inicia com uma conjunção temporal: “quando ficaram satisfeitos” dando destaque para o tempo transcorrido entre a partilha e a saciedade das pessoas participantes. Não foi preciso comer com pressa e ninguém saiu com fome.

b) O lugar: Jesus atravessou o mar da Galileia, que é o de Tiberíades (v.1b). Jesus passara por Jerusalém (capítulo 5) e agora está de volta ao lugar onde a realidade de doença e carência mobiliza a multidão, pois esta o segue.  Jesus retira-se para o monte e senta-se com seus discípulos (v.3). O monte aponta sempre para a busca de um distanciamento, mas aqui não se torna possível porque a multidão segue Jesus e não recua diante do monte. Naquele lugar havia muita grama (v.10) que é indicada como possibilidade para que o povo pudesse "tomar lugar".  Na linguagem dos Evangelhos, o verbo “tomar lugar” ocorre em Mt 15.35; Mc 6.40; Mc 8.6; (narrativas paralelas a João 6.1-5) e em Lc 11.37; 17.7; 22.14; Jo 6.10; 13.12. Refere-se sempre ao ocupar lugar em uma mesa, reclinar-se à mesa; em Lc 14.10 se refere ao lugar ocupado por alguém em uma festa e em Jo 13.25 e 21.20 ao reclinar-se sobre o peito de Jesus. Predominam os usos deste verbo para indicar mais do que um simples sentar, pois indica explicitamente o ato de tomar um lugar para participar de uma refeição.

As figuras da ovelha e do pastor Blog pjoteiro




As figuras da ovelha e do pastor de ovelhas são símbolos muito conhecidos do povo de Deus. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento elas aparecem várias vezes. No Antigo Testamento Deus mesmo é o pastor que busca, apascenta, protege e cuida do seu rebanho, seu povo. Assim o lemos em Jeremias 23. Foi nesta mesma confiança que o autor do Salmo 23 confessou: O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. No Novo Testamento Jesus se torna o bom pastor, que conhece as suas ovelhas e as ama tanto que dá a vida por elas. O rebanho é formado pelos seus discípulos, seus seguidores, os que creem em Cristo, na igreja, o povo que foi reconciliado com Deus e passa a fazer parte de uma nova família. Assim o afirma o texto de Efésios 2.

É esta também a imagem, ou seja, a ilustração que aparece em nosso texto. Jesus se relaciona com os discípulos e com o povo como um bom pastor. Trata uns e outros como parte de um rebanho de ovelhas. Sobre como acontece este relacionamento entre o pastor e as ovelhas é o que queremos meditar.