quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Teologia da Libertação: A força dos pequenos [Leonardo Boff]

A Teologia da Libertação dos ‘velhos’ e dos novos é como uma semente que representa a ‘força dos pequenos’. Essa semente não morreu. E seguirá viva!

Sempre que se celebra um Fórum Social Mundial, se realiza também, três dias antes, um Fórum Mundial da Teologia da Libertação. Participam mais de duas mil pessoas, de todos os continentes (Coreia do Sul, vários países da África, Estados Unidos, Europa e de toda a América Latina), que praticam este tipo de teologia em seus trabalhos. Isso significa ter sempre um pé na realidade da pobreza e da miséria, e outro na reflexão teológica e pastoral. Sem este casamento não existe Teologia da Libertação que mereça o nome que carrega.
A cada certo tempo, fazemos nossas avaliações. A primeira pergunta é:

como encontrar o Reino de Deus aqui em nossa realidade contraditória?

Onde estão os sinais do Reino em nosso continente, mas também na China, na África crucificada, especialmente em meio aos pequenos países? Perguntar pelo Reino não é perguntar como está a Igreja, e sim como vai o sonho de Jesus, feito de amor incondicional, de solidariedade, de compaixão, de justiça social, de abertura ao sagrado, e que centralidade se dá aos oprimidos. Estes e outros valores formam o conteúdo do que chamamos Reino de Deus, a mensagem central de Jesus. O nome é religioso, mas seu conteúdo é humanístico e universal. Ele veio nos ensinar esses valores e não simplesmente a transmitir doutrinas sobre eles.
Igualmente, quando se pergunta como vai a Teologia da Libertação, a resposta está contida nesta pergunta: como estão sendo tratados os pobres e os oprimidos, as mulheres, os desempregados, os povos originários, os afrodescendentes e outros excluídos? Como entram na prática libertadora dos cristãos? Convém destacar que o importante não é a Teologia da Libertação em si, mas sim a libertação concreta dos oprimidos. Isto sim é a presença do Reino e não uma simples reflexão.
Entre 12 e 14 de outubro, cerca de 50 teólogos e teólogas de toda a América Latina tiveram um encontro em Puebla (México). Foi organizado pela Ameríndia, uma rede de organizações e de pessoas comprometidas com os processos de transformação e de liberação dos nossos povos. Esta reunião, feita em bases cristão e críticas, analisa o momento histórico que vivemos, com uma perspectiva holística, enfatizando os conteúdos místicos/proféticos e metodológicos da Teologia da Libertação, feita a partir dessa realidade.
Lá estavam alguns dos “pais fundadores” deste tipo de teologia (a princípios da década de 1970), todos entre 75 e 80 anos, que se encontravam com a nova geração de jovens teólogos (indígenas entre eles) e teólogas (algumas negras e indígenas). Com um sentido profundamente igualitário e fraterno. Queríamos identificar novas sensibilidades, novos enfoques e maneiras de processar esse tipo de teologia, quanta dignidade atribuímos aos que não contam e são invisibilizados em nossa sociedade neoliberal e capitalista.
Em vez de conferências – houve somente duas palestras introdutórias na abertura – preferimos trabalhar em mesas redondas, em pequenos grupos, e fazer intercâmbios em conjunto. Desta forma, todos podiam participar num enriquecimento fecundo.
Havia teólogos/as que trabalhavam em meio a indígenas, outros nas periferias pobres das cidades, outros na questão de gênero (como superar relações de poder desiguais entre homens e mulheres) em toda uma região, outros eram professores e investigadores universitários, mas organicamente vinculados aos movimentos sociais.
Todos vinham de experiências fortes e até perigosas, especialmente na América Central com os cartéis do narcotráfico, as desaparições, os “maras” (grupos organizados de jovens violentos) e a violência policial. Todos os trabalhos foram transmitidos por internet e havia milhares de seguidores em todo o continente.
Não se pode resumir a densidade reflexiva de três dias de trabalho intenso, mas ficou claro que há diferentes formas de entender a realidade (epistemologias), seja dos povos originários, seja dos afrodescendentes, seja de homens e mulheres marginalizados e integrados.
Para todos era evidente que não se pode resolver o problema dos pobres sem a participação dos próprios pobres.

Eles devem ser os protagonistas de sua libertação.

Nós estamos dispostos a ser aliados e força secundária.
A Teologia da Libertação dos “velhos” e dos novos é como uma semente que representa a “força dos pequenos”, lema do encontro. Essa semente não morreu. Seguirá viva enquanto exista um único ser humano oprimido que grite por liberação.
Recordamos o poema de Pablo Neruda:
“como sabem as raízes que devem subir à luz e logo saudar o ar com tantas flores e cores?”
Como Dostoiévski, como o Papa Francisco, acreditamos também que, fundamentalmente, o que salvará o mundo é a beleza, fruto do amor a da vida, e do trabalho por aqueles que injustamente menos vida têm.
Fonte: Texto de Leornardo Boff publicado por Carta Maior, 27/11/2017.

Reflexão do Evangelho: Vigiai e orai [Elaine Neuenfeldt]

Confira a reflexão do evangelho referente a Mc 13.33-37 para o próximo domingo, dia 03 novembro. O texto é da pastora Elaine Neuenfeldt.
Boa meditação!
Esta é uma fórmula que fica guardada na memória ao ler este texto bíblico. Estar atentos combinado com a oração. É esta a principal mensagem do que se guardou na memória em relação a este texto. E muitas vezes já se afirmou que oração sem ação ou igualmente ação sem oração se torna vazio de sentido na prática cristã.
O texto do evangelho de Marcos a ser refletido no primeiro domingo de Advento reflete uma linguagem apocalíptica, ou um jeito de dizer profecia em tempos de perseguição e perigo. O contexto do texto na época reflete o período conturbado da destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos e a subsequente perseguição, morte e violência sofrida neste período.

Advento

Vigiar constantemente, em todos os momentos – à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo, pela manhã engloba todas as horas do dia. Não há tempo de deixar cair a guarda, de cochilar. Estas são recomendações que se encaixam no período litúrgico celebrado: o Advento.
Advento é tempo de espera, de esperança; mas não uma espera passiva, de cruzar os braços. Esperança ativa que se desenvolve em ações que concretizam os anseios da oração feita é o que envolve o período do advento. Do tempo que já vem.

Mulheres construindo a paz

Este primeiro domingo de advento foi celebrado em 2011 num momento que se outorgaria no dia 10 de dezembro, em Oslo, Noruega, o premio Nobel da Paz a três mulheres: a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a militante Leymah Gbowee, também liberiana, e a jornalista e ativista iemenita Tawakkul Karman. É de destacar que em 111 anos, apenas 12 mulheres haviam recebido o Nobel da Paz. Considerando todas as categorias do prêmio, até aquele momento apenas 44 mulheres haviam sido agraciadas.[1]
É a história de vida de uma delas que se faz presente neste contexto de reflexão sobre a espera ativa de oração e ação em tempo de advento. Leymah Gbowee teve um papel importante como ativista durante a segunda guerra civil liberiana, em 2003. Ela mobilizou as mulheres no país pelo fim da guerra, organizando inclusive uma “greve de sexo” em 2002. Também organizou as mulheres acima de suas divisões étnicas e tribais no país, ajudando a garantir direitos políticos para elas. Estas são as informações que são destacadas na imprensa em geral, de Leymah Gbowee. O que quero trazer aqui são detalhes um pouco mais amplos que ajudam a entender de onde vem a motivação desta mulher.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Grito de Alerta e de Esperança

Gritos dos Excluídos - poema

Gritos dos Excluídos - poema
O meu grito é agudo até no som
Grito de dor, o meu grito é feminino
O meu verso é o grito penoso do sino
Que dobra pelo jovem que morreu
Seu futuro, um comprou, outro vendeu
Com que direito mataram a democracia?
Eu grito a falta de vergonha e a covardia
E te convido a também querer gritar
Porque é da vida o primeiro lugar
Porque a luta, você sabe, é todo dia
______*______
O meu grito é pra justiça que se vende
Magistrados que usam a toga pra matar
Grito ao demônio que por ser parlamentar
Demoniza a justiça, o direito e a inocência
Sendo o Estado o pai de toda a violência
A esperança grita mais alto a cada dia
Quem trabalha não terá aposentadoria
Foi um golpe, foi traição, vamos gritar!
Porque é da vida o primeiro lugar
Porque a luta, você sabe, é todo dia
______*______
O meu grito é de alerta e de esperança
Não me rendo, não me curvo e não me entrego
Minha Igreja é a rua, é a praça onde congrego
Minha fé é uma espada afiada que me corta
Pra ver Deus já não preciso abrir a porta
Sigo a Palavra, não é o templo e nem o altar
Grito a fome e a miséria de quem vive pra matar
Grito o grito de quem grita em Romaria
Porque a luta, você sabe, é todo dia
Porque é da vida o primeiro lugar
______*______
Eu grito o grito de quem grita e não se cansa
Quer ter Terra, quer Trabalho e quer ter Teto
Quer ter saúde, educação, justiça e mais afeto
Sem ter vergonha de lutar, de gritar e resistir
Não fazem pacto com os que dizem que mentir
É uma virtude e ser esperto é saber roubar
Fazer versos é o meu jeito de viver e de falar
O meu jeito de gritar tem como arma a poesia
Porque a luta, você sabe, é todo dia
Porque é da vida o primeiro lugar
______*______
Grito o grito da Terra escravizada
E que Deus nos deixou como herança
Hoje é um palco de tortura e de matança
E objeto o da cobiça de estrangeiros
Homens públicos, sem escrúpulo e trapaceiros
Deram-nos um golpe e não param de roubar
Enquanto vivo estiver eu vou gritar
Ninguém vai me tirar a rebeldia
Porque a luta, você sabe, é todo dia
Porque é da vida o primeiro lugar
______*______
Grito a Deus que escuta e não se cala
Desce e age e não se cansa de ser bom
Grito à vida que recebo como um dom
Aos covardes não devo atenção nem lealdade
Profetizo e prego uma Nova Mentalidade
Que resgate de vez a nossa soberania
Sou esperança, juventude, sou utopia
Ninguém vai conseguir me derrubar
Porque é da vida o primeiro lugar
Porque a luta, você sabe, é todo dia.
Fonte: Poema de João Santiago, 

domingo, 11 de junho de 2017

Atlas da Violência 2017: negros e jovens são as maiores vítimas

Fernando Frazão/ Agência Brasil

O Atlas da Violência 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta segunda-feira 5, revela que homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País.
A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.
Atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.
“Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”, compara o estudo.
Outro dado revela a persistência da relação entre o recorte racial e a violência no Brasil. Enquanto a mortalidade de não-negras (brancas, amarelas e indígenas) caiu 7,4% entre 2005 e 2015, entre as mulheres negras o índice subiu 22%.
O Atlas da Violência 2017, que analisou a evolução dos homicídios no Brasil entre 2005 e 2015 a partir de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostra ainda que aconteceram 59.080 homicídios no país, em 2015. Quase uma década atrás, em 2007, a taxa foi cerca de 48 mil.
Este aumento de 48 mil para quase 60 mil mostra uma naturalização do fenômeno por parte do poder público. Daniel Cerqueira, coordenador de pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, explica que a naturalização dos homicídios se dá por processo históricos e econômicos de desigualdade no país, “que fazem com que a sociedade não se identifique com a parcela que mais sofre com esses assassinatos”, afirma.
Entre os estados, o de São Paulo foi o que apresentou a maior redução, 44,3%. Já no Rio Grande do Norte, a violência explodiu com um aumento de 232%.

Mulheres

Em 2015, cerca de 385 mulheres foram assassinadas por dia. A porcentagem de homicídio de mulheres cresceu 7,5% entre 2005 e 2015, em todo o País.
As regiões de Roraima, Goiás e Mato Grosso lideram a lista de estados com maiores taxas de homicídios de mulheres. Já São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, ostentam as menores taxas. No Maranhão, houve um aumento de 124% na taxa de feminicídios.
Segundo o Atlas, em inúmeros casos, as mulheres são vítimas de outras violências de gênero, além do homicídio. A Lei Maria da Penha categoriza essas violências como psicológica, patrimonial, física ou sexual.
A Lei do Feminicídio, aprovada há dois anos, foi importante para dar mais visibilidade aos assassinatos de mulheres. As informações do número de feminicídios, porém, ainda não aparecem na base de dados do SIM, constando como homicídio de mulheres.
Segundo dossiê realizado pelo Instituto Patrícia Galvão, o feminicídio corresponde à última instância de poder da mulher pelo homem, configurando-se como um controle “da vida e da morte”.
Cerqueira entende que esta e outras categorizações de assassinatos, como o feminicídio, são importantes pois “desnudam o enredo por trás das mortes”. O Brasil ocupa a quinta posição em número de feminicídios num ranking de 83 países.
“A criação de políticas públicas passa pelos dados angariados através dessas categorizações”, afirmando que, para combater esses assassinatos, o Estado não deve apenas se concentrar em aumentar o número de policiais nas ruas.

Jovens

O Atlas mostra também que o assassinato de jovens do sexo masculino entre 15 e 29 anos corresponde a 47,85% do total de óbitos registrados no período estudado. Nessa mesma faixa etária, em Alagoas, foram 233 mortes para cada 100 mil homens. Em Sergipe, 230 homens para 100 mil.
Embora registre 197,4 casos por 100 mil habitantes, Rio Grande do Norte foi o estado que apresentou maior aumento na taxa de homicídios de homens nesta faixa etária, 313,8 %, no período entre 2005 e 2015.
Segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública acrescentou ao indicador de violência de jovens um indicador de desigualdade racial.
A partir disso, constatou-se que os jovens negros entre 12 e 29 anos estavam mais vulneráveis ao homicídio do que brancos na mesma faixa etária. Em 2012, a vulnerabilidade alcançava mais que o dobro.
Em 2013, Espírito Santo saiu, pela primeira vez desde 1980, da lista dos cinco estados mais violentos do país, ocupando a 15ª posição nacional, em 2015. Segundo informações do Atlas, isso ganhou força devido ao Programa Estado Presente, de 2011, apesar da crise da greve dos policias militares no começo de 2017.

Fonte: Texto de Carta Capital, publicado em CONIC, 07/06/2017.

Com 10 executados no PA, Brasil tem 25 mortos em chacinas no campo em 40 dias

 Lattuff

Das últimas quatro matanças, duas aconteceram no Pará; estado é o antigo líder nos assassinatos rurais; ano de 2017 já acumula 36 mortes no país.
O ano de 2017 começa a entrar para a história como um dos períodos mais sangrentos para camponeses desde a redemocratização, em 1985. Uma sequencia de três chacinas ocorridas em menos de 15 dias, na segunda quinzena de abril, e deixou 15 mortos. Com o massacre desta quarta-feira (24/05) em Pau D’Arco, no Pará, são 25 homicídios em apenas 40 dias, somente em massacres.
Nove homens e uma mulher ligados à Liga dos Camponeses Pobres (LCP) foram mortos pela polícia na fazenda Santa Lúcia, localizada no município de Pau D’Arco, sudeste do Pará, durante ação das Polícias Civil e Militar. Entre eles, segundo a LCP, está a presidente da Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município. Outras 14 pessoas foram baleadas e ficam feridas.
No dia 1º de maio, no sul do Pará, em Santa Maria das Barreiras, quatro corpos foram encontrados carbonizados dentro de uma caminhonete. Dois dias antes, no dia 29 de abril, moradores da linha 90 Gleba de Corumbiara, em Rondônia, encontraram uma caminhonete com três corpos de agricultores incinerados.
Esses homicídios em série ocorreram dez dias após uma chacina que chocou o país: a de Colniza, noroeste do Mato Grosso. Nove camponeses foram mortos no local, no dia 19 de abril. A matança foi um dos temas do programa Profissão Repórter desta quarta-feira, na Rede Globo, que levou uma equipe à região.
As Comissões de Direitos Humanos e de Direito Agrário da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PA) divulgaram uma nota lamentando o massacre em Pau D’Arco. “A preocupação com os conflitos campesinos não é de hoje e, tampouco, somente do Estado do Pará”, diz a nota conjunta.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o ano de 2017 já soma 36 mortes. Duas das quatro chacinas ocorreram no Pará, antigo líder em assassinatos motivados por conflitos políticos no campo. Em 2016, o estado ficou em terceiro no relatório da CPT sobre as mortes de 2016, com seis homicídios.
Ao todo, desde que os dados começaram a ser coletados, em 1985, o Brasil somou 1.833 assassinatos no campo até o ano passado. Mais detalhes sobre o histórico de mortes políticas no campo podem ser lidos nesta reportagem: “Democracia já tem quase 2 mil assassinatos políticos no campo“.
Fonte: A reportagem é de Cauê Seigner Ameni, publicada por De Olho nos Ruralistas. Publicado em Instituto Humanitas, 27/05/2017.
Charge: Latuff.

Dúvidas e certezas da fé [Pe. Alfredo J. Gonçalves]


“Evidente que todo fundamentalismo é pernicioso. A história da humanidade está pontilhada de experiências trágicas, as quais, em vez de dar lugar a uma dúvida aberta e sincera, agarram-se tenazmente, ferozmente às suas certezas. A partir destas, julgam tudo e todos. De um lado, temos o fundamentalismo sociopolítico e ideológico daqueles que pretendem impor suas ideias ou suas formações históricas. Alguns dos resultados são bem conhecidos, com milhares ou milhões de pessoas exterminadas pela forca, pelo paredão de fuzilamento, pela guilhotina, pelos “gulags”, pelos “vietnams”, pelas câmeras de gás, pelos atentados ou massacres”, escreve Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor das Pastorais Sociais.

Eis o artigo.

Disse alguém que “o oposto da fé não é a dúvida, mas a certeza”. Esta última, de fato, ao longo da história, tem provocado bem mais discórdias, conflitos e guerras que a primeira. Não falamos tanto do núcleo profundo da fé ou do seu “credo” original, o qual, de resto, permanece de foro íntimo. Referimo-nos, sobretudo, às suas consequências moralistas na convivência cotidiana. Isso não significa que o “foro íntimo” seja por si mesmo privado de implicações com respeito ao comportamento, e sim que, se livre e aberto, tende a respeitar a liberdade e a alteridade de cada pessoa.
O certo é que a dúvida, com suas inquietudes e interrogações, deixa espaço à escuta, à verdade do outro, à compreensão e ao confronto recíproco. O que em geral conduz ao recíproco enriquecimento. Privilegia o diálogo em lugar da imposição. A certeza, ao contrário, tende à rigidez, à primazia da lei, à intransigência e, em última instância, ao fundamentalismo. O julgamento implacável prevalece sobre a misericórdia. Neste caso, a justiça se faz não a partir do espírito da legislação, mas a partir de sua letra morta, o que leva à morte da própria justiça.
Pior ainda quando as coisas ocorrem no âmbito da religião. Aqui a tendência é de absolutizar alguns princípios religiosos, nem sempre essências e às vezes até mesmo banais, e à luz dos mesmos demonizar todo e qualquer comportamento que não se guie por eles. Então, mais do que diante de certezas, estamos diante de “verdades sagradas”. Resulta que se alguém as possui e outros não, estes últimos devem ser condenados à fogueira, à decapitação, ao inferno. Além de duvidar e interrogar, encontram-se em estado de pecado. Como infiéis, devem ser eliminados… em nome de Deus!
Evidente que todo fundamentalismo é pernicioso. A história da humanidade está pontilhada de experiências trágicas, as quais, em vez de dar lugar a uma dúvida aberta e sincera, agarram-se tenazmente, ferozmente às suas certezas. A partir destas, julgam tudo e todos. De um lado, temos o fundamentalismo sociopolítico e ideológico daqueles que pretendem impor suas ideias ou suas formações históricas. Alguns dos resultados são bem conhecidos, com milhares ou milhões de pessoas exterminadas pela forca, pelo paredão de fuzilamento, pela guilhotina, pelos “gulags”, pelos “vietnams”, pelas câmeras de gás, pelos atentados ou massacres.
De outro lado, nos deparamos com o fundamentalismo de roupagem cultural-religiosa. A primícia é sempre a mesma: a verdade está de um lado, do outro a falsidade. A dicotomia maniqueísta divide taxativamente a sociedade em santos e pecadores. Os “nossos, do lado de dentro” e os “outros, do lado de fora”. Céu e terra, salvos e transviados, fiéis e infiéis. Quando os primeiros chamam a si o direito e o dever de julgar e condenar, os segundos correm o risco de desaparecer da face da terra, devem ser sumariamente liquidados.
Em conclusão, a dúvida permite que outros e diferentes saberes entrem pelas fissuras normais da trajetória de cada pessoa ou grupo, de cada povo ou nação, de cada religião ou cultura. Novos raios de luz passam a iluminar o conjunto das relações interpessoais, comunitárias, humanas… A experiência ganha novos enfoques e novos elementos para um discernimento permanente, o qual tornar-se-á, ao mesmo tempo, um permanente diálogo. Somente num caminho semelhante será possível exorcizar o racismo e o preconceito, a discriminação e a xenofobia. A intolerância nasce das certezas frias e rígidas como blocos de gelo, ao passo que a fé cresce e se rejuvenesce no terreno fecundo da dúvida. A fé tem a coragem de elevar ao céu as perguntas, aflições, incongruência, ambiguidades e contradições que habitam a alma humana – na esperança que o espírito de Deus venha em nosso socorro, ilumine os projetos, os caminhos e os passos que juntos nos propomos a levar adiante.
Roma, 25 de maio de 2017

É tempo insurgente por justiça e democracia

Agora eu me levantarei porque o povo pobre está sendo oprimido, as pessoas perseguidas gemem de dor.Salmo 12.5
Diaconia Transformadora é manifesto público contra o Massacre em Pau D´Arco no Pará. À violenta higienização e extermínio da população de rua, em Porto Alegre e São Paulo. Ao Racismo, que faz do Brasil um dos países que mais mata jovens no mundo, juventude negra, assassinada e encarcerada, que grita pela libertação de Rafael Braga. Voz profética, que denuncia o avanço da mineração em territórios ocupados e protegidos por povos e comunidades tradicionais.
A sociobiodiversidade do Bioma Mata Atlântica exige justiça e reparação às mineradoras SAMARCO, VALE E BHP. Denunciamos o projeto de mineração da Votorantin e da Canadense Iamgold Brasil no Alto Camaquã, Bioma Pampa.
Diaconia Profética opõe-se firmemente ao ódio e à criminalização dos povos indígenas, declarado na CPI do Incra e Funai, à truculenta reintegração de posse da Comunidade Vila Alto da Colina em Porto Alegre, às Reformas Trabalhista, da Previdência, ao congelamento dos gastos com saúde, educação e assistência social. É voz insurgente por justiça de gênero e democracia, pelo fim da criminalização dos movimentos e lutas sociais. Denuncia a mídia promotora de informações mentirosas, aliadas ao seu próprio interesse capitalista no pacto com as elites que governam nosso país.
O povo tem direitos que não podem ser revogados por reformas autoritárias e pela violência do aparato de segurança pública contra o direito constitucional de participar da vida política do país nas grandes manifestações, que estão reunindo milhares de pessoas que não legitimam esse governo e sua política rentista. Manifestar-se, sem medo de ações policiais e violentas, é exercício democrático.
A democracia que defendemos é descolonial e afirmada em justiça de gênero. Apoiamos uma ampla Reforma Política e a Revogação de todas as reformas que retiram direitos do povo brasileiro. Queremos a garantia e a ampliação de direitos, a participação popular, o reconhecimento dos acordos sociais conquistados e contratados, a proteção das leis trabalhistas e ambientais.
A Diaconia Transformadora afirma o direito, a justiça e misericórdia, o bem viver em pluralidade e diversidade. A Diaconia Transformadora sempre estará ao lado da Democracia.
Levantamos porque o povo pobre está sendo oprimido e as pessoas perseguidas gemem de dor!

Por que pobre tem corpo? [Roberto Malvezzi]

Por que pobre tem corpo?
O corpo é carne
O corpo é água
O corpo é ar
O corpo é terra
O corpo é sexoO corpo sente
O corpo deseja
O corpo nasce
O corpo cresce
O corpo adoece
O corpo envelhece
O corpo morre.
 
Por que pobre tem corpo?
O corpo come
O corpo bebe
Precisa de teto
Precisa de espaço
Precisa de roupa
De banho
Sapato
Cuidado
O corpo cheira
O corpo fede
O corpo apodrece
O corpo incomoda
Não tivesse corpo
O pobre não seria problema.
E ninguém se incomodaria.
Por que pobre tem corpo?
Fonte: Por Roberto Malvezz

Viver Deus desde dentro [José Antonio Pagola]

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo João capítulo 20, 19-23 que corresponde ao Domingo da Pentecostes, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Há alguns anos, o grande teólogo alemão Karl Rahner atrevia-se a afirmar que o principal e mais urgente problema da Igreja do nosso tempo era a sua «mediocridade espiritual». Estas eram as suas palavras: o verdadeiro problema da Igreja é «continuar com uma resignação e um tédio cada vez maior pelos caminhos habituais de uma mediocridade espiritual».
O problema tem-se agravado nestas últimas décadas. De pouco serviram as tentativas de reforçar as instituições, salvaguardar a liturgia ou vigiar a ortodoxia. No coração de muitos cristãos, está-se a apagar a experiência interior de Deus.
A sociedade moderna apostou no «exterior». Tudo nos convida a viver desde fora. Tudo nos pressiona para nos movermos depressa, sem pararmos em nada nem em ninguém. A paz já não encontra resquícios para penetrar até ao nosso coração. Vivemos quase sempre na crosta exterior da vida. Estamos a esquecer o que é saborear a vida a partir de dentro. Para ser humana, à nossa vida falta-lhe hoje uma dimensão essencial: a interioridade.
É triste observar que tampouco nas comunidades cristãs sabemos cuidar e promover a vida interior. Muitos não sabem o que é o silêncio do coração, não se ensina a viver a fé desde dentro. Privados de experiência interior, sobrevivemos esquecendo a nossa alma: escutando palavras com os ouvidos e pronunciando orações com os lábios enquanto o nosso coração está ausente.
Na Igreja, fala-se muito de Deus, mas, onde e quando escutamos, os crentes, a presença silenciosa de Deus no mais fundo do coração? Onde e quando acolhemos o Espírito do Ressuscitado no nosso interior? Quando vivemos em comunhão com o Mistério de Deus desde dentro?
Acolher a Deus no nosso interior quer dizer pelo menos duas coisas. A primeira: não colocar Deus sempre longe e fora de nós, quer dizer, aprender a escutá-lo no silêncio do coração. A segunda: descer Deus da nossa cabeça até ao profundo do nosso ser, quer dizer, deixar de pensar em Deus só com a mente e aprender a percebê-Lo no mais íntimo de nós.
Esta experiência interior de Deus, real e concreta, pode transformar a nossa fé. Surpreendemo-nos de como temos podido viver sem descobri-la antes. É possível encontrar Deus dentro de nós no meio de uma cultura secularizada. É possível também hoje conhecer uma alegria interior nova e diferente. Mas parece-me muito difícil manter por muito tempo a fé em Deus no meio da agitação e frivolidade da vida moderna sem conhecer, mesmo que seja de forma humilde e simples, alguma experiência interior do Mistério de Deus.
Fonte: Instituto Humanitas, 02/06/2017.

Quem não crer, já está condenado. Condenado a quê? (Jo 3,14-21) [Edmilson Schinelo]


Quem crê tem vida em abundância (João 3,16-18) [Ildo Bohn Gass]


A intimidade de Deus [José Antonio Pagola] CEBI ⁄ News ⁄ A intimidade de Deus [José Antonio Pagola]

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo João capítulo 3,16-18 que corresponde a Festa da Santíssima Trindade, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Se por um impossível a Igreja dissesse um dia que Deus não é Trindade, mudaria em algo a existência de muitos crentes? Provavelmente não. Por isso fica-se surpreendido ante esta confissão do P. Varillon: «Penso que, se Deus não fosse Trindade, eu seria provavelmente ateu […] Em qualquer caso, se Deus não é Trindade, eu não compreendo já absolutamente nada».
A imensa maioria dos cristãos não sabe que ao adorar a Deus como Trindade estamos confessando que Deus, na Sua intimidade mais profunda, é só amor, acolhimento, ternura. Esta é talvez a conversão que mais necessitam não poucos cristãos: o passo progressivo de um Deus considerado como Poder a um Deus adorado com grande alegria como Amor.
Deus não é um ser «onipotente e eterno» qualquer. Um ser poderoso pode ser um déspota, um tirano destruidor, um ditador arbitrário: uma ameaça para a nossa pequena e débil liberdade. Poderíamos confiar num Deus de quem só soubéssemos que é onipotente? É muito difícil abandonar-se a alguém infinitamente poderoso. Parece mais fácil desconfiar, ser cauto e salvaguardar a nossa independência.
Mas Deus é Trindade, é um mistério de Amor. E a Sua onipotência é a onipotência de quem só é amor, ternura insondável e infinita. É o amor de Deus que é onipotente. Deus não pode tudo. Deus não pode senão o que pode o amor infinito. E sempre que o esquecemos e saímos da esfera do amor fabricamos um Deus falso, uma espécie de ídolo estranho que não existe.
Quando não descobrimos ainda que Deus é só Amor, facilmente nos relacionamos com Ele a partir de interesse próprio ou do medo. Um interesse que nos move a utilizar a Sua onipotência para nosso proveito. Ou um medo que nos leva a procurar toda a classe de meios para nos defendermos do Seu poder ameaçador. Mas esta religião feita de interesse e de medos está mais próxima da magia que da verdadeira fé cristã.
Só quando se intui a partir da fé que Deus é só Amor e se descobre fascinado que não pode ser outra coisa senão Amor presente e palpitante no mais fundo da nossa vida, começa a crescer livre no nosso coração confiança num Deus Trindade de que o único que sabemos por Jesus é que não pode senão amar-nos.
Fonte: Publicado pelo Instituto Humanitas, 09/06/2017.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

O que mais mata os jovens no Brasil e no mundo, segundo a OMS

Violência contra a juventude - iStock

A violência interpessoal é a principal razão pela qual jovens de 10 a 19 anos perdem a vida precocemente no Brasil, revelou a Organização Mundial da Saúde (OMS) à BBC Brasil.
A informação vem de um estudo global sobre óbito de adolescentes, publicado nesta terça-feira. A OMS estima que 1,2 milhão de adolescentes morrem por ano no mundo – três mil por dia.
De acordo com a entidade, as principais causas de mortes entre adolescentes brasileiros de 10 a 15 anos são, nesta ordem: violência interpessoal, acidentes de trânsito, afogamento, leucemia e infecções respiratórias.
Já jovens na faixa de 15 a 19 anos morrem em decorrência de violência interpessoal, acidentes de trânsito, suicídio, afogamento e infecções respiratórias.
A OMS repassou esse ranking estimado com exclusividade à BBC Brasil, mas não ofereceu números absolutos para ilustrar a lista, pois o estudo foi organizado por regiões.

 Mortalidade de jovens no mundo

O que mostra o levantamento da OMS: 1,2 milhão de óbitos precoces por ano:
  • 3 mil mortes por dia no ano de 2015
  • 43% de mortes em países de baixa-média renda nas Américas (incluindo Brasil) são atribuídas à violência
Global Acceleration Action for the Health of Adolescents (Ação Global Acelerada para a Saúde de Adolescentes, em tradução livre) não avalia países individualmente, mas áreas econômicas do planeta. O Brasil está inserido na categoria “países de renda baixa-média das Américas”.
A tendência observada dentro desse grupo também aponta a violência interpessoal como principal causa da morte, representando 43% dos óbitos.
“O Brasil se insere exatamente no perfil da região”, disse à BBC Brasil, por email, Kate Strong, especialista da OMS para o monitoramento de crianças e jovens.

Violência interpessoal

O conceito de violência interpessoal explorado no documento é bastante amplo, pois engloba desde a preponderante agressão relacionada às gangues e ao narcotráfico até o feminicídio.
“Inclui assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional”, descreve o documento.
De acordo com números da edição de 2016 do relatório, publicado pela iniciativa Mapadaviolência.org.br, a situação é preocupante.
“A principal vítima da violência homicida no Brasil é a juventude”, afirma o documento nacional.
Nesse levantamento, que compilou dados de 2014, foi observado que jovens de 15 a 29 anos de idade representavam aproximadamente 26% da população do país, mas a participação deles no total de homicídios por armas de fogo era desproporcionalmente superior. O peso demográfico dos jovens nos casos de mortes com armas correspondem a quase 60% dos crimes.
No resto do mundo, as cinco principais causas de morte entre jovens de ambos os sexos, de 10 e 19 anos são: acidentes de trânsito, infecções respiratórias (pneumonia), suicídio, infecções intestinais (diarreia) e afogamentos.
Mais de dois terços dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento, revelam os dados de 2015 da OMS.
Dividindo por sexo, a estimativa aponta que, no mundo todo, meninos de 10 a 19 anos morrem principalmente por acidentes de trânsito, violência interpessoal, afogamento, infecção do sistema respiratório e suicídio.
As meninas da mesma faixa-etária têm mortes atribuídas a infecções do sistema respiratório, suicídio, infecções intestinais, problemas relacionados à maternidade e acidentes de trânsito.
Essas tragédias poderiam ser evitadas se os países investissem mais em educação, serviços de saúde e apoio social, diz a OMS.
“O período da adolescência é um momento particularmente importante para a saúde, porque definirá hábitos que terão impacto na qualidade de vida pelas próximas décadas. É nessa época que a inatividade física, a má dieta e o comportamento sexual de risco têm início”, disse a OMS.
A organização critica a falta de atenção dada a essa faixa-etária da população nas políticas públicas. “Adolescentes estiveram completamente ausentes dos planejamentos de saúde nacional por décadas”, lamentou Flávia Bustreo, Diretora-Geral assistente da OMS.

Soluções

O documento aponta ainda soluções que podem ajudar a evitar essas mortes precoces. São sugestões de políticas públicas que podem ter grande impacto nas estatísticas. Um exemplo é a recomendações da implementação de leis e campanhas de conscientização pelo uso do cinto de segurança. Em 2015, acidentes de trânsito mataram 115 mil jovens de 10 a 19 anos no mundo todo.
O Brasil é citado no documento como caso bem sucedido no combate a mortes no trânsito. “Entre 1991 e 1997 o Ministério da Saúde do Brasil registrou aumento dramático na mortalidade de jovens em acidentes de trânsito”, afirma o documento.
“Em resposta, legisladores introduziram um novo código de trânsito em 1998 que tornava mais severa as punições aos infratores”. O novo código de trânsito teria ajudado a salvar 5 mil vidas no período entre 1998 e 2001 segundo a OMS.
Apesar de o trânsito ser um problema universal, há marcantes diferenças entre as regiões quanto às causas de óbito. Nos países de renda baixa-média da África, doenças transmissíveis como HIV-AIDS, infecções do sistema respiratório, meningite e diarréia são os principais vilões.
A anemia, doença causada pela deficiência de ferro no sangue, também é um mal muito comum, que atinge milhares de jovens no mundo todo em países pobres e ricos.
O suicídio, ou a morte acidental causada por atitudes auto-destrutivas, foi a terceira causa de mortalidade de adolescentes em 2015, totalizando 67 mil mortes. Em sua maioria, as vítimas são adolescentes mais velhos.
Em regiões com boas condições econômicas como a Europa, o suicídio também aparece entre as principais causas. Cortar a si mesmo é o tipo de auto-violência mais comum observado no continente.
A estimativa global da OMS é de que até 10% da população adolescente mundial cometa algum ato de violência contra si.
O documento recomenda fazer mais investimentos e dar atenção especial às pessoas nessa fase da vida, onde grandes frustrações e incertezas despontam: “jovens normalmente tomam responsabilidades de adultos como cuidar de irmãos menores, trabalhar, ter de abandonar os estudos, casar cedo, praticar sexo por dinheiro, simplesmente porque precisam dar conta das necessidades básicas de sobrevivência.
Como resultado, eles sofrem de desnutrição, acidentes, gravidez indesejada, violência sexual, doenças sexualmente transmissíveis e transtornos mentais”, resume o documento.
“Melhorar a forma como o sistema de saúde atende aos adolescentes é apenas uma parte da melhora da saúde deles”, diz Anthony Costello, médico da OMS.
“Uma família e uma comunidade que apoia os seus jovens são extremamente importantes”, completa.
Entre as políticas básicas que os países devem tentar implementar para diminuir o risco de mortes precoces estão: programas de orientação sexual na escola, aumento da idade mínima para consumo de álcool, obrigatoriedade do uso do cinto de segurança nos automóveis e de capacetes para ciclistas e motociclistas; redução do acesso a armas de fogo, aumento da qualidade da água e melhoria da infra-estrutura sanitária.
Fonte: