segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Os Primeiros lugares [Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa]




Na sociedade de hoje, é muito comum  
a corrida em busca dos PRIMEIROS LUGARES.
Isso cria muitas vezes um clima de concorrência e competição, 
de ódio e conflitos. O que vocês pensam a respeito disso? 

As leituras bíblicas nos propõem um caminho diferente:
o caminho da HUMILDADE e da GRATUIDADE...

A 1ª Leitura fala da virtude da HUMILDADE
uma virtude muito admirada por Deus e pelos homens. (Eclo 3,19-21.30-31)

* São reflexões de um sábio do Antigo Testamento (Bem Sirac).
Propõe a humildade como forma de "encontrar graça diante do Senhor.  
Humildade é fazer-se pequeno, é reconhecer a grandeza de Deus e confiar nele. 
E acrescenta: "Não existe remédio para o mal do orgulhoso, 
pois uma planta ruim está enraizada nele..."

A 2ª Leitura afirma que a vida cristã exige de nós 
determinados valores e atitudes, entre os quais 
a humildade, a simplicidade, o amor... (Hb 12,18-19.22-24a)

o Evangelho mostra que Jesus veio criar uma nova humanidade, 
fundamentada no espírito da humildade. (Lc 14, 1.7-14)

Jesus é convidado a um banquete na casa de um fariseu... e aceita...
Mas fica profundamente impressionado com duas coisas que observa:
a corrida pelos primeiros lugares e o tipo de pessoas que foram convidadas. 
E conta duas pequenas PARÁBOLAS:

+ A 1ª é para os convidados que escolhiam os primeiros lugares:
Aquele que ocupou o primeiro lugar teve de cedê-lo a um mais importante. Aquele que ocupou o último lugar foi convidado para um lugar melhor. 
E Jesus conclui: 
"Quem se exalta será humilhado e aquele que se humilhar será exaltado".

+ A 2ª é para quem convidara:
   "Quando deres uma refeição, não convides os que poderão te retribuir...
    Pelo contrário, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos... 
   Terás uma recompensa na ressurreição dos justos..."

= Resumindo: Jesus propõe duas atitudes:
     - Na escolha dos lugares: HUMILDADE...
     - Na escolha dos convidados: GRATUIDADE: Amor sem interesses...

1. O que Jesus observaria hoje?

Na Sociedade, há ainda hoje pessoas correndo atrás dos primeiros lugares?
- Escolhendo o trabalho que lhes dê mais lucro...
- procurando lugares que deem destaque, status e importância;
- preferindo ocupações onde possam ter poder sobre os demais;
- ou ficando decepcionadas, quando ninguém lhes dá o "devido lugar?"
 Na Igreja, também existe a corrida pelos primeiros lugares? 
A Igreja deve ser a comunidade onde se cultivam a humildade,
a simplicidade, o amor gratuito e desinteressado.  - Mas de fato, é assim?
Ou assistimos às vezes uma corrida desenfreada pelos primeiros lugares:
pessoas cuja ambição se sobrepõe à vontade de servir… 
Buscam títulos, honras, homenagens, lugares privilegiados,
e não o serviço humilde e o amor desinteressado. 

- Na catequese, que Lucas nos propõe hoje, fica claro que as relações
entre os membros da comunidade de Jesus não se baseiam 
em "critérios comerciais", mas sim no amor gratuito e desinteressado. 
Só assim todos, inclusive os que não têm poder, nem dinheiro para retribuir,
terão aí lugar, numa verdadeira comunidade de amor e de fraternidade. 

- Como é bonito numa Comunidade, onde há humildade... solidariedade... sintonia entre as diversas Lideranças, Pastorais e Movimentos...
Não gastaríamos então tantas energias em pequenas implicâncias
e disfarçado espírito de competição...

Na Política, existe também a corrida pelos primeiros lugares?
E essa corrida é um desejo sincero de serviço pelo bem do povo
ou uma busca de vantagens para pessoas ou grupos? 
- Para garantir os primeiros lugares, podemos fazer uso de qualquer meio? 

2. Quem são os NOSSOS convidados? 
 
- Na Sociedade de hoje, costuma-se convidar quem garanta
  lucro... recompensa... poder... fama... posição social... elogios...
- Jesus nos convida a uma atitude de GRATUIDADE... 

* Quando prestei um favor a gente simples,
   sempre gostei de ouvir de uma expressão: "Deus lhe pague!"
   Sim, o próprio Deus se torna o nosso grande FIADOR...

Dia do Catequista: 
Catequista, você é especial para Deus! 
Sua VOCAÇÃO foi gestada no coração do Pai, 
para que pudesse chegar aos corações dos seus filhos e filhas 
com a mensagem da VIDA: Jesus Cristo.  
Catequista, você é protagonista no processo 
de um NOVO JEITO DE FAZER CATEQUESE.


A todos os catequistas, o nosso reconhecimento e gratidão 
pelo belo e importante serviço que prestam à Igreja.  
São pessoas que aceitam o apelo de Jesus no evangelho de hoje:
Não ocupar os primeiros lugares e, sim, servir os irmãos 
com simplicidade, humildade e gratuidade. 
"Que Deus lhes pague".

Planeta perde 33 mil hectares de terra fértil por dia




Embora as secas ocorram em todas as partes, a África parece ser o continente mais prejudicado. Segundo a Convenção das Nações Unidas para a Luta Contra a Desertificação (UNCCD), dois terços das terras africanas são desertas ou áridas.O desafio é enorme para o segundo maior continente do planeta, com 1,2 bilhão de habitantes distribuídos em 54 países, que foi a região mais afetada em 2015-2016 pelo fenômeno climatológico El Niño.

“Em nível mundial, as secas são cada vez mais graves, mais frequentes, têm maiores duração e extensão espacial. Seu impacto é cada vez maior, e inclui o deslocamento humano em massa e a migração. A seca atual é evidência”, afirmou Daniel Tsegai, funcionário da UNCCD, na Conferência sobre a Seca na África, organizada por esse organismo e pelo governo da Namíbia, que termina hoje, em Windhoek, capital desse país.

A Conferência insiste na “resiliência diante da seca”. Tsegai destacou à IPS que “a resiliência diante da seca se define simplesmente como a capacidade de um país para sobreviver secas consecutivas e recuperar as condições prévias. Para começar, há quatro aspectos na seca, o meteorológico (clima), o hidrológico (águas superficiais), o agrícola (cultivo) e o socioeconômico (as consequências para os seres humanos)”.

Para Tsegai, os principais obstáculos para se conseguir a resiliência diante da seca na África são:

1. Falta de uma adequada base de dados que inclua clima, recursos hídricos – superficiais e subterrâneos –, umidade do solo e incidências de secas passadas e seus impactos;

2. Má coordenação entre os diversos setores e atores relevantes em um país e entre países de uma região;

3. Baixo nível de capacidade para aplicar medidas de redução do risco de seca, especialmente em nível local;

4. Falta de vontade política para implantar políticas nacionais contra a seca;

5. O elemento econômico da preparação para a seca não é bem investigado.

Quanto aos objetivos da UNCCD, Tsegai apontou que essa Convenção procura melhorar a produtividade da terra, restaurá-la ou preservá-la para estabelecer um uso mais eficiente da água e melhorar as condições de vida das populações afetadas pela seca e a desertificação, destacando algumas das estratégias que podem ser adotadas para aumentar a resiliência diante da seca.

Primeiro, uma mudança na maneira de lidar com o problema. Devemos mudar a forma de pensar sobre a seca, explicou. “A seca já não é mais um evento isolado e nem mesmo uma crise. Será mais frequente, grave e de maior duração. É um risco constante”, ressaltou.“Portanto, temos que deixar de ser reativos e ser proativos, passar do enfoque da gestão da crise para a gestão de riscos, do enfoque fragmentado para um mais coordenado e integrado. Tratar a seca como uma crise implica tratar os sintomas e não as causas”, alertou Tsegai, acrescentando que, “em resumo, o caminho a seguir é o desenvolvimento de uma política nacional contra a seca baseada nos princípios da redução do risco”.

Em segundo lugar é necessário fortalecer os sistemas de controle e de alerta das secas. Também é importante avaliar a vulnerabilidade do país diante do fenômeno e realizar perfis de risco: quem será afetado, em que áreas e quais serão os impactos.As medidas de redução do risco incluem o desenvolvimento de sistemas de irrigação sustentável para os cultivos e o gado, acompanhamento e medição do abastecimento de água e seus usos, reciclagem e reutilização das águas, possibilidade de cultivos mais tolerantes à seca e ampliação de seguros das colheitas.

Tsgai espera cinco resultados da Conferência de Windhoek:

1. Um documento de estratégia comum em nível de África para fortalecer a preparação do continente diante da seca, que possa ser aplicado e compartilhado entre os países;

2. Que leve ao desenvolvimento de políticas nacionais integradas destinadas à construção de sociedades mais resilientes à seca, baseadas no uso sustentável e na gestão dos recursos naturais (terra, floresta, biodiversidade, água, energia, etc.);

3. Espera-se que os países acordem um protocolo que seja vinculante e que será apresentado na Conferência Ministerial Africana sobre o ambiente, em 2017, para sua aprovação na Cúpula da União Africana (UA);

4. Os resultados da Conferência serão apresentados aos governantes da UA para obter seu apoio;

5. E também que a fortaleça as alianças e a cooperação Sul-Sul para apoiar o desenvolvimento de políticas nacionais e a melhora das já existentes sobre gestão da seca.
 
*Por Baher Kamal, do IPS, traduzido pelo Envolverde 

Dia da Criação [Marcelo Barros]

blog pjoteiro




Pela primeira vez na história, diversas Igrejas cristãs e até outras religiões se unirão nessa semana para orar e meditar sobre o cuidado com a Terra, a água, o ar e todo o universo no qual nós, seres humanos somos inseridos e ao qual pertencemos. Desde a década de 70, a cada ano, o patriarca de Constantinopla propõe que todas as Igrejas Orientais dediquem o 1o  de setembro como "dia de oração e cuidado com a Criação". Em agosto do ano passado, o papa Francisco enviou uma carta a todas as dioceses pedindo que a Igreja Católica também se una a essa celebração. Por sua vez, o Conselho Mundial de Igrejas convidou as Igrejas evangélicas, membros do Conselho para entrarem nessa mesma sintonia de cuidado com o ambiente. E, nesses dias, algumas notícias da internet contam que grupos hindus e budistas quiseram também unir-se a essa iniciativa ecumênica e ecológica.  

Orar e meditar sobre a natureza como criação significa contemplar nela uma presença ativa do Criador que, permanentemente, continua conduzindo o universo no rumo do seu amor. O ser humano só mudará a sua forma de relacionar-se com os seus semelhantes e com os outros seres vivos se optar por um olhar de amor sobre o universo. Ao aprofundar a relação consigo mesmo e com os outros, é fundamental pressentir uma marca divina por trás de cada ser do universo.

Atualmente, o planeta Terra abriga mais de sete bilhões de pessoas. Nos próximos 50 anos, a previsão é de que o mundo tenha entre 8, 5 a 9 bilhões de habitantes. Mas, como viverá essa população, se metade dos recursos hídricos disponíveis para consumo humano e 47% da área terrestre já são utilizados? E ainda assim mais de um bilhão de pessoas passa fome e, a cada dia, mais de 30 mil morrem por este motivo?
 
Estudos afirmam que a relação entre crescimento populacional e o uso de recursos do Planeta já ultrapassou em 20% a capacidade de reposição da biosfera e esse déficit aumenta cerca de 2,5% cada ano. Isso quer dizer que a diversidade biológica – de onde vêm novos medicamentos, novos alimentos e materiais para substituir os que se esgotam – está sendo destruída muito mais rápido do que está sendo reposta. Esse desequilíbrio está crescendo. Até 2030, 70% da biodiversidade poderá ter desaparecido...”.

Apesar de tudo, uma profunda esperança brilha sobre a Terra. Ela vem do fato de que, no mundo inteiro, a cada dia, cresce o número de pessoas e grupos que aprofundam a espiritualidade e se põem em diálogo para buscar novos caminhos. O resgate da dignidade da Terra, da Água e do Ar está na ordem do dia de grupos espirituais das mais diversas tradições. As próprias Igrejas cristãs que, durante séculos, pareciam não ligar o ato criador de Deus com sua atuação salvadora na história, nas últimas décadas têm todas aprofundado essa questão. Em maio do ano passado, o papa Francisco dirigiu a toda humanidade uma carta sobre o cuidado com a casa comum. Nessa carta, ele se une a Bartolomeu, patriarca de Constantinopla, na insistência em unir o cuidado ambiental com a preocupação pela justiça social e econômica. Ao mesmo tempo, ensina que a raiz de tudo é um novo olhar espiritual sobre o universo como criação amorosa de Deus.  
 
Na América Latina, um dos mais importantes sinais de esperança para a causa ecológica é o fortalecimento dos movimentos indígenas. Esses têm proposto como novo paradigma civilizatório o cuidado com o Bem-Viver que implica priorizar a vida comunitária, as relações humanas e a relação harmoniosa com a natureza como formas de organizar a sociedade. O cuidado com a Terra, a Água e todos os seres vivos se torna elemento central do processo social e político, assim como de uma nova sensibilidade espiritual. Todos nós somos convidados a participar ativamente dessa celebração de amor, como um casamento entre o céu e a terra.  

A prioridade e as renúncias para seguir Jesus (Lucas 14,25-33) [Ildo Bohn Gass]




O evangelho da liturgia deste final de semana apresenta Jesus colocando as condições fundamentais para quem quer segui-lo no caminho da cruz. Diante da prioridade do seguimento, todo o resto se torna relativo.

Jesus está a caminho de Jerusalém. Virando-se para a multidão que o seguia, ele deixa claro que o caminho do seguimento é exigente e demanda renúncias. É uma opção radical. Nesse sentido, a proposta do discipulado não é para a multidão, a “massa”. A militância por vida plena é uma decisão para pessoas livres de tudo o que escraviza. Jesus diria que as pessoas que optam pelo reino são como o “fermento” que transforma a massa (Lucas 13,21). A decisão pelo reino não é de facilidades. Talvez seja por isso que poucas pessoas decidam seguir pelo caminho proposto por Jesus.

1. Seguir Jesus exige renúncias

1.1 Renunciar a família (Lucas 14,26)

Uma das cláusulas que Jesus estabelece para as pessoas que o querem seguir é desapegar-se dos laços afetivos com a família, da segurança que a família proporciona. A prioridade é o seguimento. A família é secundária. Conforme a comunidade de Lucas, Jesus usa o verbo “odiar” em relação aos familiares (Lucas 14,26). É palavra forte. Aqui, no entanto, odiar quer dizer colocar em segundo plano diante de algo prioritário. Para Jesus, as relações familiares não podem impedir a adesão ao projeto do reino. Este é a prioridade.

É Jesus mesmo quem nos dá o exemplo, ao dar preferência à missão. Quando sua mãe e seus irmãos querem vê-lo, Jesus afirma ter uma família mais importante. É a família de quem, como ele, vive o projeto do Pai. “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam” (cf. Lucas 8,19-21).

1.2 Renunciar os interesses pessoais (Lucas 14,26)

Outra condição exigida por Jesus é colocar os interesses pessoais, a própria vida, em segundo lugar diante da prioridade, que é o projeto do reino e sua justiça.

Nosso mundo estimula o individualismo, os desejos egoístas e o bem-estar individual. Jesus, no entanto, propõe como critério para segui-lo no caminho da cruz a busca do bem-viver coletivo, o serviço na gratuidade, a ajuda solidária na luta por uma sociedade justa. Em outras palavras, decidir pelas relações do reino é imitar o próprio mestre.

O serviço de Cristo exige abnegação (Lucas 14.25-33) [P. Deolindo Feltz]




Quais são as condições para ser um seguidor de Jesus?
Uma resposta muito significativa para esta pergunta, nós encontramos no Evangelho de João 14.25-33, texto bíblico previsto para reflexão de hoje. O texto relata um momento onde Jesus diz para uma multidão que o seguia quais eram as condições para ser seu verdadeiro seguidor.

Observando em partes o texto, ele fala logo no início que uma multidão estava seguindo Jesus. Não é possível precisar o tamanho desta multidão, se era uma pequena ou grande, mas pode-se imaginar que se tratava de muitas pessoas.

O que estava motivando esta multidão seguir Jesus? Uma vez olhando para alguns textos bíblicos de Lucas anteriores a este que nós lemos e ouvimos, vamos encontrar alguns relatos de curas realizadas por Jesus e alguns interessantes ensinamentos sobre confiança em Deus, falsidade, humildade, hospitalidade, paz com o inimigo, riquezas no céu, e assim por diante. É natural que essas coisas devem ter mexido com as emoções e empolgado muitas pessoas e, consequentemente, as arrastado para junto de Jesus.

Não nos restam dúvidas de que a autoridade de Jesus nos momentos de cura, sua amabilidade para acolher todas as pessoas, e a sua habilidade em ensinar, fizeram com que muitas pessoas, em todos os lugares por onde ele passava, ficassem tocadas, emocionadas, empolgadas, curiosas, eufóricas...

No entanto, o fato de acompanhar Jesus de forma entusiasmada não significava que ali estava uma multidão de verdadeiros seguidores. Jesus sabia disso. E na tentativa de clarear algumas coisas para a multidão que o seguia ele então fala da radicalidade que é ser seu seguidor.

Em primeiro lugar, “quem quer ser meu seguidor, deve amar mais a mim do que as pessoas da própria família”. Naquele tempo a família era uma instituição maior do que hoje. Chamava-se clã. Um clã é composto por grande maioria dos parentes (de bisavô a bisneto, filhos, genro, nora, primos, etc). Pertencer a um clã significa status, segurança, sustentabilidade, lar. Seguir Jesus naquele tempo era ser capaz de abandonar tudo isso ou mesmo deixá-lo para segundo plano.

Em segundo lugar, “quem quer ser meu seguidor deve amar mais a mim do que a si mesmo e, se necessário, morrer por minha causa”. Jesus sabia que o seu curto tempo de Ministério acarretaria, pra si mesmo e para os seus, perseguição, prisão e morte. Segui-lo era ter que lidar com isso cedo ou tarde.

Em terceiro lugar, “quem quer ser meu seguidor deve amar mais a mim do que a seus bens, ou, deve deixar tudo o que tem”, conforme o texto. Jesus sabia que sempre esteve no coração do ser humano se apegar às muitas coisas deste mundo, em especial aos bens. Não é difícil tornar posses uma prioridade e, com isso, causadores de escravidão. Seguir Jesus significa ter um coração livre. Afinal, ninguém pode servir a dois senhores.

Impressionante é que Jesus é bem realista em seu discurso para a multidão. Ele não promete nada, não garante nada, e apresenta o desafio de ser seu seguidor como ele realmente é, com mais ônus do que bônus; pelo menos neste mundo. Por incrível que pareça, é exatamente isso que dá credibilidade às pessoas.

Quando Jesus cita em seu discurso o exemplo do construtor da torre, que senta, calcula e planeja para ver se tem todos os recursos para não acabar começando algo e não dar conta de terminar, e o exemplo do rei com seu exercito, que também deve sentar,calcular, planejar e ver se é possível ir pra guerra e vencer, ele busca mostrar para as pessoas que a decisão em ser seu seguidor não é oba-oba, emoção, empolgação, euforia. É uma decisão que deve ser pensada, calculada, medida e planejada.

É uma pena que,para a nossa curiosidade, o texto não fala nada sobre a reação de todas aquelas pessoas que seguiam Jesus diante de seu chamado. Mas dá pra imaginar que um bom percentual daquela multidão deixou suas emoções de lado e voltou pra casa.

Estimada Comunidade!

A partir deste texto vemos algumas das importantes e necessárias condições que Jesus aponta para sermos um verdadeiro seguidor dele. E sob estas condições, nós podemos nos considerar um verdadeiro seguidor? Ou somos seguidores emocionados e,apenas de vez em quando, empolgados?

Jesus sempre está nos convidando para sermos seus seguidores de verdade. Talvez o chamado nos dias de hoje não seja tão radical quanto era no passado. Não precisamos abandonar nossa família, correr o risco de sermos perseguidos, presos ou mortos, abrir mão de todos os bens. Ele apenas quer que não estas coisas, mas ele e seu projeto estejam sempre em primeiro lugar em nossa vida.

Vale lembrar ainda que existe uma grande diferença entre acompanhar Jesus, como uma multidão faz, e seguir Jesus. Resumidamente, você pode acompanhar algo ou alguém como curioso, ouvinte, levemente interessado, sem grandes envolvimentos. Enquanto que seguir Jesus é topar junto o que vem pela frente, é assumir um COM (juntos) PRO (em favor da) MISSO (missão). Seguir Jesus é assumir um compromisso com ele em sua missão.

É natural que um compromisso implica em ter que abrir mão de alguns interesses particulares, colocar muitas vezes a família em segundo plano, ter que pensar mais nas outras pessoas do que em mim mesmo. Por outro lado, quando colocamos o Reino de Deus em primeiro lugar em nossa vida, quando nos tornamos um seguidor de coração e não de emoção, todas as coisas que precisamos e buscamos nos serão, simplesmente, acrescentadas.

E que assim seja! Amém!

“A Bíblia é o grande instrumento de libertação dos leigos”. Entrevista com Francisco Orofino

blog pjoteiro




Quando se fala de Leitura Popular da Bíblia não se pode prescindir de Francisco Orofino, que, em companhia de Carlos Mesters e da equipe do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), soube encontrar o caminho para que no Brasil a Bíblia tenha chegado às pessoas e seja usada como instrumento diário do trabalho pastoral.

A validade do seu trabalho e de sua metodologia comprova-se no fato de que pouco a pouco seus trabalhos foram sendo traduzidos para as diferentes línguas e que esta forma de aproximar o texto Bíblico da vida das pessoas esteja cada vez mais presente em todos os cantos do mundo.

Nesta entrevista, o biblista brasileiro nos mostra a importância de que a Bíblia esteja nas mãos do povo, um fenômeno nascido do Vaticano II e no qual, na opinião de Orofino, não há volta atrás. Ao mesmo tempo, vai desfiando as consequências que essa Leitura Popular da Bíblia tem, ou poderia ter, para a vida da Igreja no dia a dia.

A entrevista é de Luis Miguel Modino e publicada por Religión Digital, 25-08-2016. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

Qual é a importância da Bíblia para a Igreja católica hoje?

Se há uma conquista irreversível do Vaticano II, ao menos no Brasil, é a Bíblia nas mãos do povo. Há iniciativas do Vaticano II em que houve retrocessos durante os 35 anos dos Pontificados de João Paulo II e Bento XVI, como a “reforma” da Reforma Litúrgica ou a reclericalização, a recentralização no clero. No entanto, é irreversível, ao menos na nossa perspectiva pastoral do Brasil, no aspecto da Bíblia nas mãos do povo. Pode chegar o Papa mais fechado, que não vai conseguir retroceder nessa conquista.

A Bíblia nas mãos do povo, no Brasil, é o grande gesto de libertação. Significa que o leigo tem em suas mãos aquilo que, segundo a própria Dei Verbum, é a fonte primeira da Revelação. E se o leigo tem em suas mãos a fonte primeira da Revelação e a lê a partir da sua própria realidade econômica e sociopolítica, esse leigo está fazendo teologia.

Para dizer a verdade, a Bíblia nas mãos do povo rompeu o monopólio da teologia, até então restrita ao clero. Ter a Bíblia nas mãos do povo é um gesto de libertação da teologia clerical. Por isso, a Bíblia nas mãos do povo permite o avanço em duas grandes questões do Vaticano II, que sempre vão ser foco de tensão: a questão da desclericalização e da descentralização.

Creio que Francisco, desde a sua experiência latino-americana, toca nessas duas teclas, que ele percebe que foram os pontos fracos das conquistas do Vaticano II. A descentralização, que ele traduz na sinodalidade, e a desclericalização, em relação a que aponta três grandes instrumentos pastorais para o processo de desclericalização: o poder de decisão dos conselhos pastorais paroquiais, os círculos bíblicos e as comunidades eclesiais de base. Portanto, vejo a Bíblia no contexto pastoral latino-americano como o grande instrumento de libertação dos leigos, como uma coisa necessária para que eles possam ter mais poder de decisão na caminhada da Igreja.

Isso não cria certas disputas entre o clero e os leigos?

Qualquer coisa cria disputas entre o clero e o leigo. Se você fizer um curso de liturgia em uma paróquia e começar a fazer a proposta litúrgica do Vaticano II, que é o novo enfoque dado à celebração eucarística, como ceia e não como sacrifício – o que dizia Trento e o que o clero continua pensando –, tentando recuperar como leigo a dimensão da ceia do Vaticano II, o clero vai reagir. O mesmo acontece no campo da Bíblia, pois o clero tem teologia, mas não tem Bíblia, e quando um leigo vai conhecendo a Bíblia vai enfrentar uma barreira, pois o clero sente que não está capacitado para discutir com eles.

Muitas paróquias, hoje, não admitem a realização de cursos bíblicos, nem círculos bíblicos, nem reflexão bíblica, porque percebem que a Bíblia nas mãos dos leigos é um importante instrumento de conscientização do laicato. Poder é poder e, ou eu começo a combater essas emancipações, ou eu perco meu poder; e o clero não quer perder seu poder. Portanto, sempre vai restringir as iniciativas dos leigos, seja no campo da liturgia ou da formação, principalmente catequética.

A parábola do pai com seus dois filhos



A parábola que vamos refletir fala de dois filhos e do relacionamento dos dois com o pai. Durante a leitura vamos prestar atenção no seguinte: Qual a atitude de cada um dos dois filhos para com o pai, e qual a atitude
do pai para com cada um deles? 
1. Lucas 15,11-13: A decisão do filho mais novo

O filho mais novo pede a parte da herança que lhe toca. Pedindo a herança, ele quer que o pai morra logo. Receber a herança não é mérito. É um dom gratuito. Todos, tanto cristãos como não cristãos, todos temos algo da herança do Pai. Nem todos cuidam da mesma maneira. O filho mais novo gasta tudo numa vida dissipada, esquecendo-se do Pai.

2. Lucas 15,14-19: A desilusão faz a pessoa cair em si

Com fome, no meio dos porcos, o filho mais novo cai em si, lembra a casa do Pai onde ninguém passava fome porque até os empregados co­miam do pão partilhado. Ele então decide voltar. Prepara até as palavras para dizer ao Pai: “Já não mereço ser teu filho! Trata-me como um dos teus empregados!” Empregado executa ordens, cumpre a lei da servidão. O filho mais novo quer voltar a ser cumpridor da lei, como fazia seu irmão mais velho e como queriam os fariseus e os escribas no tempo de Jesus (cf. Lc 15,1). Ele quer submeter-se de novo ao jugo da lei (cf. Gl 1,6-10).

3. Lucas 15,20-24: A alegria do Pai ao reencontrar o filho mais novo

Ele ainda estava longe de casa, e o pai já o vira, corre ao seu encon­tro e o cumula de beijos. O pai parece que ficou o tempo todo na janela olhando a estrada para ver o filho voltar! A alegria do pai parece exagerada. Não deixa o filho nem terminar as palavras que tinha preparado. Nem escu­ta! O pai não quer que o filho seja seu escravo. Quer que seja filho! Esta é a grande Boa-nova que Jesus nos trouxe! Túnica nova, sandálias novas, anel no dedo, churrasco, festa! Nesta alegria imensa do reencontro, transparece como deve ter sido grande a tristeza do pai pela perda do filho.

4. Lucas 15,25-28a: A reação do filho mais velho

O filho mais velho ficou com raiva e não quis entrar. Não entendeu a alegria do pai. Sinal de que não tinha intimidade com o pai, apesar de viver na mesma casa. Pois, se tivesse, teria notado a imensa tristeza do pai pela perda do filho mais novo e teria entendido a alegria dele pela volta do filho. Quem fica muito preocupado em observar a lei de Deus, corre o perigo de esquecer o próprio Deus! O filho mais novo, mesmo longe de casa, pare­cia conhecer o pai melhor que o filho mais velho, que morava com ele na mesma casa! Pois o mais novo teve a coragem de voltar para a casa do pai, enquanto o mais velho não quer mais entrar na casa do Pai! Ele não se dá conta de que o pai, sem ele, vai perder a alegria. Pois também ele, o mais velho, é filho do mesmo jeito que o mais novo!

5. Lucas 15,28b-30: A atitude do Pai e a resposta do filho mais velho

O pai sai de casa e suplica ao filho para entrar. Mas este responde: “Pai, tantos anos que eu sirvo ao senhor. Jamais transgredi um só dos seus mandamentos, e o senhor nunca me deu um cabrito sequer para festejar com meus amigos. E vem esse seu filho, que devorou seus bens com prosti­tutas, e o senhor manda matar até o novilho gordo!” O mais velho também quer festa, mas só com os amigos. Ele nem sequer chama o mais novo de irmão, mas “esse seu filho”, como se não fosse mais irmão dele. E é ele, o mais velho, que fala em prostitutas. É a malícia dele que interpretou assim a vida do irmão mais novo. Quantas vezes nós católicos interpretamos mal a vida e a religião dos outros! A atitude do Pai é diferente. Ele acolheu o filho mais novo, mas não quer perder o filho mais velho. Os dois fazem parte da família. Um não pode excluir o outro!

6. Lucas 15,31-32: A resposta final do Pai

Da mesma maneira como o Pai não deu atenção aos argumentos do filho mais novo, assim também não dá atenção aos argumentos do mais velho e lhe diz: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu! Mas esse teu irmão estava morto e tornou a viver. Estava perdido e foi reencontrado!” Será que o mais velho tinha realmente consciência de estar sempre com o pai e de encontrar nesta presença a causa da sua ale­gria? A expressão do pai “Tudo que é meu é teu!” inclui também o filho mais novo que voltou! O mais velho não tem o direito de fazer distinção. Se ele quer ser mesmo filho do pai, terá que aceitá-lo do jeito que ele é e não do jeito que ele gostaria que o pai fosse! A parábola não informa se o filho mais velho entrou ou não entrou na casa para participar da festa. Isso fica por conta do próprio irmão mais velho. Fica por conta de cada um de nós. Você entraria?

A Ovelha, A Moeda e O Filho, Perdidos e Achados (Lucas 15,1-32) [Thomas Hughes]

blog pjoteiro



O rosto de Deus em uma só palavra
          O Evangelho de Lucas prima pela sua ênfase na misericórdia de Deus. Se fosse para classificar numa só palavra o rosto de Deus em Lucas, poderíamos sem hesitação assinalar “misericórdia”. Talvez nenhum capítulo saliente esta convicção tanto como o capítulo 15, que hoje lemos na sua totalidade.
          As três parábolas aqui relatadas são entre as mais conhecidas da Bíblia - geralmente chamadas (com razão ou não) “A Ovelha Perdida”, “A Moeda Perdida” e “O Filho Pródigo”. Talvez devamos ter um pouco de cuidado com esses títulos - já consagrados pelo uso - pois já indicam uma possível interpretação do ponto central de cada parábola - não necessariamente a mais adequada!
          De fato, cada parábola poderia ficar independente, e ter a sua interpretação fora do contexto da sua colocação em Lucas. Mas para que sejamos fiéis à intenção do evangelista, devemos interpretá-las dentro do seu esquema teológico e literário. A Parábola da Ovelha também existe em Mateus, mas dentro de  outro contexto e com outros destinatários, tornando-se a parábola da “Ovelha Desgarrada”. Em Mt 18,12-14, a parábola é dirigida aos discípulos, enquanto em Lc é contada para os fariseus e escribas. Como os destinatários são diferentes, também a sua mensagem é diferente nos dois contextos.
Esse homem acolhe os pecadores e come com eles! 
          Para entender melhor o que Lucas quer ensinar, devemos dar muita atenção aos primeiros dois versículos do capítulo 15. Pois, estes versículos nos fornecem o motivo pelo qual Jesus contou as parábolas, e, por conseguinte, uma chave valiosa de interpretação. Funcionam como um gancho sobre o qual se pendura o resto do capítulo: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para escutá-lo. Mas, os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!” (vv.1-2). Depois, vem a chave de interpretação: “Então Jesus contou lhes esta parábola” (v . 3). Ou seja, Jesus contou estas parábolas porque os fariseus e doutores da Lei o criticavam por associar-se com gente de má fama! Então a chave de interpretação é a atitude dos fariseus e doutores, contestada pelo ensinamento de Jesus.
          Neste sentido podemos interpretar a parábola conhecida como a parábola da “Ovelha Perdida”. Jesus, diante da intransigência dos fariseus, pergunta: “Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la?” (v. 4). A resposta razoável é “não” - nenhum pastor, com a cabeça no lugar, deixaria noventa e nove ovelhas à deriva para tentar encontrar uma ovelha perdida. Seria loucura! Mas, exatamente aqui está o sentido da parábola - Deus faz loucuras por amor a nós! Ele é capaz de fazer o que nenhuma pessoa humana faria - ir atrás da ovelha perdida, custe o que custar, até achar e trazer de volta! Aqui a parábola funciona não por comparação, mas por contraste - Deus é o oposto dos homens, que só agem através de decisões calculistas. Faz loucura - e a loucura do amor consegue o que a razão jamais conseguiria, a volta da ovelha perdida! Assim, se faz contraste entre a atitude de Deus e a atitude dos fariseus e doutores da Lei! Nos questiona sobre as nossas atitudes diante das “ovelhas perdidas” das nossas comunidades e famílias! Agimos como os fariseus, com censuras e moralismos? Ou, como Deus, com a loucura do amor?
Para as/os pobres, até uma moeda pequena faz falta!
          Retoma-se a mensagem na segunda parábola - a parábola da “moeda perdida”. Não que ela fosse de tão grande valor. Mas para a pobre, até uma moeda pequena faz falta! Então, a mulher faz questão de virar a casa (as casas não tinham janelas, por isso precisava acender uma lâmpada) até achá-la. É assim com Deus - talvez a gente ache que uma pessoa não tenha grande valor, mas para Deus faz falta, e Ele é capaz de “exagerar” para recuperar a pessoa perdida, por tão insignificante que possa parecer. Mais uma vez, um contraste com a atitude elitista dos fariseus - e quem sabe, de muitos cristãos hoje!
O processo de conversão
           Por fim, chegamos à parábola do “Filho Pródigo”, ou do “Pai que perdoa”, ou dos “Dois Irmãos”, conforme a interpretação e o gosto de cada um! Fiquemos somente com o texto sagrado e não com os subtítulos! Podemos ler este texto a partir do filho perdido, ou do pai, ou do irmão mais velho. O título tradicional implica uma leitura a partir do “pródigo” (= esbanjador). Assim, ressaltaria o processo de conversão - sentir a situação perdida, decidir a pedir reconciliação, ser aceito pelo pai, reativar os relacionamentos perdidos e estragados. Sem dúvida, uma leitura válida do texto como tal - mas diante dos primeiros três versículos do capítulo, não a interpretação primária que Lucas queria dar.
          Outra possibilidade é de ler a história a partir do pai. Sem dúvida, também válido. Assim, o pai representa o próprio Deus, que em primeiro lugar, respeita a liberdade de decisão do filho, não impedindo que ele seja “sujeito” da sua vida; depois não espera a volta do “pródigo”, mas corre ao seu encontro, numa atitude não “digna” de um patriarca oriental idoso, preocupado mais com a reconciliação do que com o prejuízo, e que se alegra com a volta de quem estava morto! Mais uma vez, uma leitura mais do que aceitável!
          Mas, o contexto do capítulo quinze, à luz dos primeiros versículos, sugere uma leitura diferente - a partir do irmão mais velho. Pois, Jesus conta a parábola para contestar a atitude dos fariseus e doutores da Lei, que o reprovam porque Ele acolhe os pecadores! Então, o filho mais velho é imagem dos fariseus - “gente boa”, fiel na observância da Lei, mas cujos corações estão fechados, a ponto de serem incapazes de alegrar-se com a volta de um irmão perdido. Assim, embora observem minuciosamente todas as prescrições da Lei, a sua atitude contradiz claramente a atitude de Deus!  No fundo a questão é, em que Deus acreditamos? – um Deus que age com critérios humanos, não buscando nem acolhendo pecadores, ou o Deus de Jesus, “enlouquecido” pelo amor que faz “loucuras” para que ninguém se perca!  Aqui temos ecos de Is 55, 10-11, onde Deus afirma: “os meus caminhos não são os caminhos de vocês e os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês”.
          Aqui, Jesus questiona todos nós que somos “praticantes”. Somos capazes de reconhecer a nossa própria fraqueza e miséria espiritual, como fez o “pródigo”? Somos capazes de correr ao encontro de um irmão perdido, como fez o pai? Ou somos como o irmão mais velho - “gente boa”, gente de “observância”, mas gente incapaz de ter um coração de misericórdia, de alegrar-nos com a volta ao estado original do irmão ou irmã perdido/a?
O coração do Evangelho de Lucas        
          Podemos até dizer que o capítulo quinze de Lucas é o coração do seu Evangelho. Pois Deus, o Deus de Jesus e o Deus de Lucas, é o Deus que não se alegra com a perda de quem quer que seja, mas com a volta do pecador. É o Deus que se encarnou em Jesus de Nazaré, para salvar quem estivesse perdido. É o Deus de misericórdia e do perdão. Como traduzimos esta visão de Deus em nossas vidas?

É digno de fé o Evangelho da Miseridórdia de Deus [Itacir Brassiani]



A Palavra e a ação de Jesus trazem à tona uma divisão tão real quanto inaceitável: de um lado estão os chamados ‘publicanos e pecadores’, e, do outro, estão os considerados ‘justos’, aqueles que se dispensam de qualquer movimento de conversão. Na ideologia religiosa de Israel, os primeiros são da parte do mal, os ímpios ou impuros; os segundos são os piedosos e puros, ‘gente de bem’. Fiel à sua experiência de Deus, no horizonte da tradição profética, Jesus se aproxima e se coloca ao lado do grupo dos pecadores e impuros, e afirma que, na lógica do Reino de Deus, os últimos são os primeiros...
É isso que Jesus quer ilustrar com as três parábolas do evangelho de hoje. As pessoas tachadas de pecadoras são como a ovelha perdida, procurada com incomparável empenho pelo pastor, como uma pequena moeda extraviada e procurada incansavelmente pela dona de casa, como um filho amado que caiu no fundo do poço da degradação e da exclusão. O que importa não é o que levou ao extravio, mas a alegria do pastor, da dona de casa e do pai. “Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida... Encontrei a moeda que tinha perdido...
Meu filho estava morto e voltou a viver!”
Mas tenhamos muita atenção com a interpretação da terceira parábola! Falando de dois filhos, Jesus estabelece uma clara correspondência com os dois grupos que se dividem em relação a ele: os pecadores e excluídos, que se aproximam para escutá-lo; os fariseus, que murmuram contra ele. A parábola começa aparentemente dando razão aos fariseus e escribas. O filho mais novo pede sua parte da herança, vai embora, gasta tudo sem o menor controle e acaba empregado na criação de porcos em terra estrangeira. Aqui, a parábola ressalta mais sua situação de miséria, exploração e marginalização que sua culpa!

Uma Parábola para os nossos dias (Lucas 15,1-32) [Pe. José Antonio Pagola]




Em nenhuma outra parábola quis Jesus fazer-nos penetrar tão profundamente no mistério de Deus e no mistério da condição humana. Nenhuma outra é tão atual para nós como esta do «Pai bom».
O filho mais novo diz ao seu pai: «dá-me a parte que me toca da herança». Ao reclamar, está a pedir de alguma forma a morte do seu pai. Quer ser livre, romper obrigações. Não será feliz até que o seu pai desapareça. O pai acede ao seu desejo sem dizer palavra: o filho tem de eleger livremente o seu caminho.
Não é esta a situação atual? Muitos querem hoje ver-se livres de Deus ser felizes sem a presença de um Pai eterno no seu horizonte. Deus há-de desaparecer da sociedade e das consciências. E, o mesmo que na parábola, o Pai guarda silêncio. Deus não condiciona ninguém.
O filho parte para «um país longínquo». Necessita viver noutro país, longe do seu pai e da sua família. O pai vê-o partir, mas não o abandona; o seu coração de pai acompanha-o; em cada manhã o estará esperando. A sociedade moderna afasta-se mais e mais de Deus, da Sua autoridade, da sua memória… Não estará Deus acompanhando-nos enquanto o vamos perdendo de vista?
Prontamente se instala o filho numa «vida desordenada». O termo original não sugere apenas uma desordem moral mas também uma existência insana, demente, caótica. Ao fim de pouco tempo, a sua aventura começa a converter-se em drama. Vem uma «fome terrível» e só consegue sobreviver tratando de porcos como escravo de um desconhecido. As suas palavras revelam a sua tragédia: «Eu aqui morro de fome».
O vazio interior e a fome de amor podem ser os primeiros sinais do nosso afastamento de Deus. Não é fácil o caminho da liberdade. Que nos falta? O que nos poderia encher o nosso coração? Temos quase tudo, por que sentimos tanta fome?
O jovem «entrou dentro de si mesmo» e, afundado no seu próprio vazio, recordou o rosto do seu pai associado à abundância de pão: em casa do meu pai «têm pão» e aqui «eu morro de fome». No seu interior desperta-se o desejo de uma liberdade nova junto do seu pai. Reconhece o seu erro e toma uma decisão: «Ponho-me a caminho e voltarei ao meu pai».
Iremos pôr-nos a caminho em direção a Deus nosso Pai? Muitos o fariam se conhecessem esse Deus que, segundo a parábola de Jesus, «sai a correr ao encontro do seu filho, atira-se ao seu pescoço e beija-o efusivamente». Esses abraços e beijos falam do seu amor, melhor que todos os livros de teologia. Junto a Ele poderíamos encontrar uma liberdade mais digna e ditosa.

Parábola do Administrador Corrupto (Lucas 16,1-8) [Carlos Mesters e Francisco Orofino]




Acolhida
1.    Um canto inicial.
2.    Criar um bom ambiente. Dar as boas vindas. Colocar as pessoas
à vontade.
3.    Invocar a luz do Espírito Santo.

1.    Abrir os olhos para ver
A parábola que vamos meditar neste círculo é uma das mais estranhas. Parece que Jesus faz um elogio a um homem corrupto e desonesto. Ora, Jesus parte da realidade que ele vê! Corrupção sempre houve. Hoje mais do que nunca. Principalmente aqui no Brasil, onde parece que só vence na vida quem é desonesto. Os corruptos são mais criativos que os honestos! Todo mundo quer ganhar dinheiro sem fazer força. Vamos con- versar sobre isso:

1.    Qual sua experiência com alguém corrupto? Já sofreu alguma humilhação?
2.    Por que existe tanta corrupção no Brasil? Será que somos um povo desonesto?

2.    Despertar o ouvido para escutar
1.    Introdução à leitura do texto
Na parábola, Jesus nos conta as maneiras que um capataz encontrou para continuar vivendo bem, sem trabalhar. Durante a leitura vamos prestar atenção na esperteza deste funcionário em encontrar soluções para o seu problema.

2.    Leitura do texto: Lucas 16,1-8.

3.    Momento de silêncio.

4.    Perguntas para a reflexão:
1.    Qual o ponto que mais chamou a sua atenção? Por quê?
2.    Qual a situação do administrador? Por que ele perdeu o emprego? E que solução ele encontrou para continuar tendo uma vida boa?
3.    Por que ele mereceu um elogio de seu patrão?
4.    O que Jesus quer nos ensinar com isso? Qual a mensagem para hoje?
3.    Rezar a Palavra de Deus para transformá-la em vida
Sugestões para a celebração:
1.    Colocar em forma de prece aquilo que refletimos sobre o evange- lho e a vida.
2.    Terminar esta parte com um Pai-nosso.
3.    Rezar o Salmo 101 (100): “A oração do governante honesto”.

Ajuda para o grupo
Um primeiro sentimento em relação a esta parábola é de certa in- dignação. Afinal, ao nos contar a parábola, Jesus parece elogiar o compor- tamento de uma pessoa corrupta e desonesta. Por isso esta parábola nos incomoda. Vamos entender a proposta de Jesus:

1.    Lucas 16,1-2: Jesus descreve uma situação muito comum na Palestina daquela época.
As terras são de um proprietário que mora distante. A administração
destas terras foi confiada a um capataz que desvia os bens e o dinheiro do patrão em proveito próprio e submete os trabalhadores a duros encargos para garantir não apenas o lucro do patrão, mas também, o dinheiro des- viado por ele. Este comportamento foi denunciado ao patrão que resolve despedir o capataz.

2.    Lucas 16,3-4: O capataz reflete como continuar tendo seu alto nível
de vida sem ter que se esforçar.
Neste seu raciocínio ele conta as duas maneiras legítimas de ganhar dinheiro: trabalhar ou mendigar. Ele rejeita as duas: uma por preguiça e a outra por vergonha. Busca então uma terceira maneira: continuar roubando o patrão.

3.    Lucas 16,5-7: O administrador resolve alterar as contas das dívidas que os comerciantes tinham com o patrão, tornando-as menores e aumentando o lucro destes comerciantes.
Dessa forma, ele ganha os favores e o reconhecimentos dos comer- ciantes, mantendo a possibilidade de garantir seu nível de vida quando fosse despedido.

A parábola do capataz desonesto (Lucas 16,1-8) Francisco Orofino


Nossa primeira impressão diante deste texto é de certa indignação. Afinal, ao nos contar esta parábola (Lucas 16,1-8), Jesus elogia o comportamento de uma pessoa corrupta e desonesta. Nossa reação imediata é fugir da proposta da prática pedagógica de Jesus e procurar palavras e desvios que nos ajudem a superar o elogio ao corrupto e dar uma interpretação mais moralista às conclusões de Jesus. Sem dúvida a parábola nos incomoda. Mas temos que partir deste ponto: Jesus nos conta uma parábola e nesta parábola elogia a criatividade de alguém que faz qualquer coisa para não perder sua situação de viver e enriquecer sem precisar trabalhar. Algo que qualquer um de nós gostaria de fazer todo dia: como ganhar dinheiro sem fazer força? 
Jesus quer nos ensinar que deveríamos ter esta mesma criatividade e empenho para ganharmos o Reino de Deus!

Vamos começar buscando entender a proposta pedagógica de Jesus nesta parábola. Ele descreve uma situação muito comum na Palestina daquela época: as terras, que são de um proprietário que mora distante, foram confiadas a um capataz. Muitos proprietários confiavam a administração dos bens e a organização dos trabalhos agrícolas a um capataz. Este, evidentemente, desvia dinheiro do patrão em proveito próprio e submete os trabalhadores a duros encargos para garantir não apenas o lucro do patrão, mas também o dinheiro desviado por ele. Pelas inúmeras vezes que esta figura aparece nas parábolas de Jesus, vemos que naquela época os administradores, capatazes, intermediários e feitores eram muito odiados pelos trabalhadores diaristas. E não podia ser diferente. Afinal, infernizavam a vida dos trabalhadores e roubavam o dinheiro do patrão. Até hoje!

Ora, na parábola que nos conta hoje, Jesus narra que um destes capatazes foi descoberto em suas trapaças e vai ser despedido. Diante desta situação, o capataz elenca as três maneiras de ganhar dinheiro naquela época: trabalhar, mendigar ou roubar. Ele descarta as duas primeiras. Uma por preguiça e a outra por vergonha. Ele então fica matutando um plano para continuar vivendo do dinheiro roubado do patrão, mesmo depois de ser despedido. Ele resolve alterar as contas das dívidas, ganhando assim favores dos comerciantes que compram do patrão, garantindo seu estilo de vida mesmo depois de despedido.

Jesus conclui dizendo que o patrão elogia não o comportamento desonesto do capataz, mas sua criatividade em encontrar um caminho que o permita continuar vivendo dos produtos de seus roubos, mesmo depois de despedido. Ele foi criativo em encontrar em caminho de ganhar dinheiro sem trabalhar. É como nós hoje! Quem não gostaria de ganhar dinheiro sem ter que dar duro no seu trabalho? O que Jesus questiona e quer que a gente pense não é copiar a maneira desonesta do capataz, mas se temos o mesmo empenho e criatividade no nosso esforço em construir o Reino de Deus. Por isso mesmo, a conclusão dos ensinamentos de Jesus nesta parábola é que dá sentido ao que ele quer ressaltar e, ao mesmo tempo, nos questiona (Lucas 16,9-13).

Lucas escreve para comunidades cristãs em ambiente urbano. Neste ambiente é impossível viver sem usar dinheiro. Mas Lucas também sabe que o dinheiro traz a marca das injustiças sociais. Não precisa aprofundar muito as análises sociais para saber que numa cidade quem mais ganha dinheiro é quem menos precisa dele. Por isso mesmo, Jesus ensina que devemos usar o “dinheiro injusto”. Para Jesus, todo dinheiro traz a marca da injustiça, já que é um instrumento de acúmulo e de opressão. O dinheiro gera a lógica que move o mundo: o acúmulo, o lucro e a exploração, já que todos se empenham na busca do dinheiro querendo a segurança que apenas uma boa conta bancária pode dar. Um cristão não deveria entrar nesta lógica do acúmulo, mas sim empenhar-se nas coisas de Deus. O Reino de Deus tem outra lógica. Uma lógica que não combina com o dinheiro. É a lógica da segurança que vem através da partilha. Devemos saber usar aquilo que temos com outras pessoas, seja em casa, na comunidade, no ambiente de trabalho, no lazer de férias. O que temos deve ser usado na construção de relacionamentos sólidos e verdadeiros, relações que possam ser sinais do Reino. Jesus deixa claro que dinheiro nunca pode ser sinal do Reino!
Claro que, vivendo hoje em grandes cidades, não podemos abrir mão do uso do dinheiro. Ele ainda é o meio mais prático de realizarmos transações comerciais em nossas vidas. O problema está em saber usar o dinheiro sem cair na lógica do acúmulo. Jesus diz que temos que saber usar o dinheiro para construir amizades. Geralmente acontece o contrário. O dinheiro destrói relacionamentos familiares e as amizades. Não podemos encarar o dinheiro como um senhor ou patrão. Não podemos servir a dois senhores. Não podemos servir a Deus e ao dinheiro. Isso significa que na vida deveremos ter apenas uma única lógica. Ou permanecemos na lógica do acúmulo e assim servimos ao dinheiro. Ou entramos na lógica da partilha. E assim estaremos servindo ao verdadeiro Senhor.