sábado, 22 de março de 2014

A cultura do medo e da violência



por Elaine Tavares - ADITAL
A mídia comercial, principalmente a televisão aberta, é, sim, uma tremenda usina ideológica. Num país onde a oralidade ainda é o mais eficaz meio de comunicação - em função dos analfabetos funcionais serem milhões - é justamente esse veículo que acaba sendo o meio mais importante de informação da maioria das pessoas. No mais das vezes, se apareceu na TV, o fato assume status de verdade. Se a pessoa não vê na TV, a coisa parece que não aconteceu, daí as estratégias "espetaculares" dos movimentos sociais para poderem aparecer na telinha. Não é sem razão. A Globo já foi mais poderosa no que diz respeito à audiência, mas, mesmo hoje, dividindo espaço com outros canais, como a Record, Band e SBT, segue ditando o modelo de jornalismo e de informação. No geral, todas as emissoras divulgam os fatos com a mesma abordagem, o que, sistematicamente, só fortalece o sistema atual vigente no mundo: o capitalismo - reino do consumo, do egoísmo, do individualismo, no qual o outro é o inimigo a ser eliminado.
Como bem definiu o pensador venezuelano Ludovico Silva, a televisão é o espaço privilegiado do sistema para aprisionar as pessoas na mais-valia ideológica. O trabalhador, já consumido pelo trabalho, chega em casa, depois de uma longa e terrível jornadas nos transportes públicos, e senta-se em frente à TV, única opção de "lazer". Com um copo de água gelada ou uma cerveja, ele pensa estar descansando enquanto as imagens que saltam da tela seguem aprisionando-o no mundo do trabalho. Compre isso, compre aquilo, veja a moda da novela, observe esse costume de vida. Tudo ligado na trama da mercadoria. E a pessoa vai absorvendo, completamente amarrada a grande roda do capital, no giro interminável do consumo. Consome-se até mesmo a própria vida. É claro que a pessoa não é um quadro branco onde as coisas são gravadas. Mas, o poder desse veículo é deveras avassalador. A pedagogia da sedução - usada com maestria pela publicidade - opera no cérebro e conquista os "consumidores" para coisas que sequer necessitam. E, assim, o trabalhador, durante o dia, entrega a mais-valia para o patrão, e à noite, segue entregando a mais-valia para outros patrões. É um círculo macabro. Uma forma bem bolada de domar o "rebanho desgovernado", que era como o incensado teórico da comunicação, o estadunidense Walter Lippmann, chamava o povo.

Lc 15, 1-3.11-32 – O pai misericordioso


Preparo-me para a Leitura Orante, com todos os internautas,  fazendo uma breve oração de
 Santo Agostinho:
Senhor, 
olha para mim para que eu ame a ti.
Chama-me 
para que eu veja a ti,
e eternamente me alegre em ti. 
Amém.


1. Leitura (Verdade
- O que a Palavra diz?
Tomo um primeiro contato com a Palavra de hoje, lendo Lc 15,1-3.11-32.
Certa ocasião, muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama chegaram perto de Jesus para o ouvir. Os fariseus e os mestres da Lei criticavam Jesus, dizendo:
- Este homem se mistura com gente de má fama e toma refeições com eles.
Então Jesus contou esta parábola:
E Jesus disse ainda:
- Um homem tinha dois filhos. Certo dia o mais moço disse ao pai: "Pai, quero que o senhor me dê agora a minha parte da herança."
- E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntou tudo o que era seu e partiu para um país que ficava muito longe. Ali viveu uma vida cheia de pecado e desperdiçou tudo o que tinha.
- O rapaz já havia gastado tudo, quando houve uma grande fome naquele país, e ele começou a passar necessidade. Então procurou um dos moradores daquela terra e pediu ajuda. Este o mandou para a sua fazenda a fim de tratar dos porcos. Ali, com fome, ele tinha vontade de comer o que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. Caindo em si, ele pensou: "Quantos trabalhadores do meu pai têm comida de sobra, e eu estou aqui morrendo de fome! Vou voltar para a casa do meu pai e dizer: 'Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho. Me aceite como um dos seus trabalhadores.' " Então saiu dali e voltou para a casa do pai.

Religiões assinam acordo contra tráfico humano e escravidão


por CONIC
 
Uma coletiva de imprensa, nesta segunda-feira, 17, no Vaticano, apresentou uma nova iniciativa das confissões religiosas para erradicar a escravidão moderna e o tráfico de seres humanos. O acordo sem precedentes inaugura o Global Freedom Network, que tem como parceira principal a Walk Free Foundation.
 
O memorando de entendimento e a declaração comum, que institui o acordo, contém quatro assinaturas: o representante do Papa Francisco, chanceler das Pontifícias Academias das Ciências e Ciências Sociais, Dom  Marcelo Sánchez; o representante do Grande Imã de Al-Azhar, Egito, Dr. Mahmoud Azab; o representante do arcebispado anglicano de Canterbury, Reverendo Sir David John Moxon e por parte da Walk Free Foundation, Andrew Forrest.
 
A declaração comum evidencia a violenta capacidade destrutiva da escravidão moderna e do tráfico de seres humanos e convida outras igrejas cristãs e confissões religiosas do mundo a intervir.
 
“A escravidão moderna e o tráfico de seres humanos são um crime contra a humanidade. A exploração física, econômica e sexual de homens, mulheres e crianças condena 30 milhões de pessoas à humilhação e à degradação. A cada dia, que continuamos a tolerar esta situação, violamos a nossa humanidade comum e ofendemos a consciência de todos os povos”, lê-se na declaração comum assinada.

A samaritana encontra Jesus: Em busca da fonte de água viva João 4,1-42 [Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino]



Os samaritanos eram desprezados pelos judeus. Este desprezo vinha de longe, desde o século VIII antes de Cristo (2Rs 17,24-41), e transparece em alguns livros do Antigo Testamento. O livro do Eclesiástico, por exemplo, fala de um “povo estúpido que mora em Siquém, que nem sequer é nação” (Eclo 50,25-26). Muitos judeus da Galileia, quando viajavam para Jerusalém, não passavam pela Samaria. O Evangelho de João mostra Jesus fazendo o contrário, passando pela Samaria e acolhendo os samaritanos. Por causa disso, era criticado pelos judeus, que o xingavam de “samaritano, possesso de demônio” (Jo 8,48). Depois da ressurreição, os seguidores e as seguidoras de Jesus, seguindo o exemplo de Jesus, superaram seus preconceitos e anunciaram a Boa-nova aos samaritanos (At 8,4-8). Nas comunidades do Discípulo Amado, havia muitos samaritanos.
 


1. João 4,1-6: O palco onde se realiza o diálogo entre Jesus e a samaritana
 
Quando Jesus percebe que os fariseus poderiam irritar-se com a sua atividade batismal, ele sai da Judeia e volta para a Galileia. Desse modo, evita uma briga religiosa (Jo 4,1-3). Voltando para a Galileia, Jesus passa pela Samaria. Por volta do meio-dia, ele chega junto do poço de Jacó. Cansado da viagem, senta perto do poço, onde a samaritana o encontra. O poço era o lugar tradicional de encontros e de conversas. Hoje, seria a praça, o bar, a rodoviária, o shopping... É perto do poço que começa a longa e difícil conversa que foi de muito proveito para ambos.

Copa pra quem? Ocupemos as ruas e praças!


por Rede Jubileu Sul do Brasil
Ampliar imagem
DECLARAÇÃO DA REDE JUBILEU SUL BRASIL 
FRENTE A AGENDA DE LUTAS EM 2014[1] 
A alegria e o entusiasmo da movimentação do povo brasileiro em defesa dos seus direitos em diversas partes do país a partir das jornadas de junho de 2013 demonstraram um fenômeno que constitui um levante social em favor de mudanças estruturais na economia, na política e na prática de outras formas de desenvolvimento. A tentativa de sedimentar a inércia, fruto do processo de coerção e cooptação pelas quais passaram as organizações sociais nas últimas décadas, se transfigura com o povo ocupando os espaços públicos, desde o Congresso Nacional até as praças e avenidas centrais das grandes e médias cidades do Brasil!
O movimento das ruas apresentou suas reivindicações, entre elas:
• Contra o aumento abusivo das tarifas de transporte público e pelo passe livre (transporte público, gratuito e de qualidade, livre da ganância do mercado);
• Contra o aumento do custo de vida e contra as remoções forçadas de populações pobres nas cidades que sediarão a Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016, em prol de interesses privados;
• Contra os altos gastos e dívidas públicas geradas pelos Megaeventos, enquanto os serviços públicos seguem em péssima situação para as camadas populares que deles precisam;
• Contra a corrupção e os corruptores: contra a PEC 37 e contra a sonegação de impostos, que é quase oito vezes maior que a corrupção (levantamentos mostram que a corrupção chega a R$ 69 bilhões enquanto a sonegação a R$ 415 bilhões).

sábado, 15 de março de 2014

Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o. (Mateus 17,1-9) [Ildo Bohn Gass]



Ampliar imagem
Neste segundo domingo da quaresma, a liturgia nos propõe a reflexão sobre a transfiguração de Jesus, uma vez que está no contexto pascal. A narrativa apresenta Jesus transfigurado, sugerindo a experiência das comunidades, ali representadas por Pedro, Tiago e João, com Jesus ressuscitado.
 Felizes os que são perseguidos por causa da justiça
Segundo os evangelistas, a cena da transfiguração está em meio aos anúncios da paixão. A intenção é mostrar como a cruz faz parte da vida de quem assume o projeto do Pai e lhe é fiel até as últimas consequências. A fidelidade a Deus e ao resgate da vida dos pobres contraria interesses religiosos, econômicos e políticos. Nesse sentido, a perseguição pelos poderes que governam este mundo é inevitável na vida de quem assume a causa do Reino e de sua justiça. Não é por acaso que a comunidade de Mateus incluiu a seguinte bem aventurança para quem é perseguido e julgado injustamente: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois quando vos injuriarem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós (...), pois foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós” (Mateus 5,10-12).
 
 
A vitória de Jesus sobre a morte na cruz 

Este relato é uma leitura pós-pascal e pretende narrar antecipadamente a vitória de Jesus sobre a morte na cruz, apresentando-o como o messias glorioso. É o que indicam o "seu rosto brilhante como o sol e suas roupas brancas como a luz” (Mateus 17,2). A ressurreição, a vitória sobre todos os poderes, é a vida em toda a sua plenitude que vence a morte.

O fato se dá “seis dias” depois do acontecimento da narrativa anterior (Mateus 17,1). Essa referência aos seis dias quer mostrar que, tal como a criação em seis dias e o descanso de Deus no sétimo (Gênesis 1,1-2,4a), Jesus é a nova criatura, a vida nova. Ele vem trazer essa vida recriada para todas as pessoas que acolhem e aderem ao seu projeto. É por isso que Paulo escreve: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas. Eis que se faz uma realidade nova” (2 Coríntios 5,17).

"Moisés e Elias falavam com ele" (Mateus 17,3). Elias é o representante da profecia. Moisés faz lembrar não somente o êxodo, mas também todo Pentateuco, toda lei, que a tradição judaica atribuía a ele. Por um lado, a lei e os profetas, isto é as Escrituras todas, se cumprem em Jesus. Ou seja, o Nazareno dá continuidade à primeira aliança, levando-a a sua plenitude. Por outro lado, a comunidade de Mateus apresenta Jesus como um profeta que, tal como os profetas Elias (1 Reis 17,1) e Moisés (Deuteronômio 18,15), veio anunciar um novo êxodo de liberdade para seu povo. Jesus torna histórica a antiga esperança profética. Portanto, ele está em continuidade com as tradições do seu povo.

O fato de Jesus subir, acompanhado por Pedro, Tiago e João, “no alto de uma montanha” (Mateus 17,1), confirma esta perspectiva, pois é uma referência ao monte Sinai, no qual Deus deu a conhecer ao povo o seu projeto de vida e de liberdade, que Moisés registrou no decálogo (Êxodo 19-20). A tradição identificou a montanha da transfiguração com o monte Tabor. E Jesus é apresentado ao mundo como o novo Moisés que vem para resgatar a essência da lei, isto é, o amor que liberta e promove a vida de todos igualmente. 

Ao propor ficar na montanha e construir “três tendas” (Mateus 17,4), Pedro revela sua cegueira e dureza de coração. Fazia pouco tempo que Jesus já tinha chamado a atenção para sua cegueira, acusando-o de cumprir a função de Satanás como pedra de tropeço no projeto de Deus (Mateus 16,22-23). No entanto, Pedro ainda não compreendera que a construção da justiça do Reino não permite privilégios, nem acomodação. Ser discípulo não é somente participar da glória de Jesus, mas é também carregar a sua cruz nas cruzes de tantos crucificados, gerando e defendendo a vida.

A “nuvem” (Mateus 17,5) é um dos símbolos privilegiados na Bíblia para falar da presença de Deus (Êxodo 13,21; 16,10; 34,5; 40,34-38; Números 12,5). E, tal como em Lucas o anjo dissera a Maria “o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra” (Lucas 1,35), agora desceu uma nuvem sobre a montanha, “cobrindo-os com a sua sombra”. É o Pai confirmando a missão do Filho. Da nuvem saiu uma voz que disse: “Este é meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o”, da mesma forma como já havia anunciado por ocasião do batismo (Mateus 3,17; cf. Isaías 42,1). Jesus é o Emanuel, presença libertadora de Deus entre nós (Mateus 1,23).
 
Descer para junto do povo sofrido 
 
Não é possível acomodar-se no alto da montanha. Ouvir a sua voz desinstala e leva a descer para junto do povo sofrido e tornar o Reino de Deus presente, sem ufanismo ou triunfalismo (Mateus 17,9). Mas ciente de que o seguimento humilde da prática libertadora de Jesus significa estar disposto a também sofrer as consequências da cruz.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Não só de pão viverá o ser humano (Mateus 4,1-11)


No próximo domingo, o primeiro da quaresma, queremos aprender de Jesus como enfrentar as tentações de satanás. Tentações que, como nunca, ainda hoje nos encantam e tentam desviar-nos do caminho de Deus, o caminho da vida.

Da oração diária de Jesus, e que ele pediu que também nós rezássemos, faz parte o seguinte pedido: “Pai, não nos conduzas à tentação, mas livra-nos do Maligno” (cf. Mateus 6,13). Isso revela que Jesus teve que enfrentar muitas tentações diariamente, a fim de se manter fiel à vontade do Pai, fiel à realização do seu reinado de partilha e de justiça. Movido por essa fidelidade, Jesus não sucumbiu diante das tentações de quem neste mundo tenta impor a injustiça e manter os seus privilégios. Tentações que seduzem ainda muitos hoje.
 
Tal como em Marcos e em Lucas, também em Mateus o relato das tentações de Jesus no deserto vem depois que João Batista preparou o caminho do Messias (Mateus 3,1-12). Agora, é Jesus mesmo que se prepara (Mateus 3,13-4,11) para assumir publicamente o projeto do Reino (Mateus 4,12-17).
 

Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida


por Adital e Sempre Viva Organização Feminista (SOF)
 
A referência histórica principal das origens do Dia Internacional da Mulher é a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em 1910, em Copenhague, na Dinamarca, quando Clara Zetkin propôs uma resolução de instaurar oficialmente um dia internacional das mulheres. Nessa resolução, não se faz nenhuma alusão ao dia 8 de março. Clara apenas menciona seguir o exemplo das socialistas americanas. É certo que a partir daí, as comemorações começaram a ter um caráter internacional, expandindo-se pela Europa, a partir da organização e iniciativa das mulheres socialistas.
 
Essa e outras fontes históricas intrigaram a pesquisadora Renée Coté, que publicou em 1984, no Canadá, sua instigante pesquisa em busca do elo ou dos elos perdidos da história do dia internacional das mulheres.
 
Renée, em sua trajetória de pesquisa, se deparou com a história das feministas socialistas americanas que tentavam resgatar do turbilhão da história de lutas dos trabalhadores no final do século XIX e início do século XX, a intensa participação das mulheres trabalhadoras, mostrar suas manifestações, suas greves, sua capacidade de organização autônoma de lutas, destacando-se a batalha pelo direito ao voto para as mulheres, ou seja, pelo sufrágio universal. A partir daí, levanta hipóteses sobre o por quê de tal registro histórico ter sido negligenciado ou se perdido no tempo.

Projeto que institui nova lei contra o racismo já pode ser votado na Câmara


por Ana Raquel Macedo, Brasil de Fato
Ampliar imagem
Há 25 anos, o país definiu o crime de racismo, indicado na Constituição como inafiançável e imprescritível (Lei 7716/89). Ao longo dos anos, a norma passou por modificações, ampliando as possibilidades de enquadramento na prática criminosa, caracterizada, por exemplo, pelo impedimento de acesso de alguém a algum serviço ou estabelecimento ou, ainda, pela incitação à discriminação por raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Na Câmara dos Deputados, está pronta para votação em Plenário proposta que pretende instituir uma nova lei contra o racismo, mais severa (PL 6418/05 e apensados). Pelo relatório da Comissão de Direitos Humanos, ficaria revogado também artigo do Código Penal sobre injúria racial, cuja prática, diferentemente do crime de racismo, não é inafiançável e imprescritível.