sexta-feira, 19 de maio de 2017

O que mais mata os jovens no Brasil e no mundo, segundo a OMS

Violência contra a juventude - iStock

A violência interpessoal é a principal razão pela qual jovens de 10 a 19 anos perdem a vida precocemente no Brasil, revelou a Organização Mundial da Saúde (OMS) à BBC Brasil.
A informação vem de um estudo global sobre óbito de adolescentes, publicado nesta terça-feira. A OMS estima que 1,2 milhão de adolescentes morrem por ano no mundo – três mil por dia.
De acordo com a entidade, as principais causas de mortes entre adolescentes brasileiros de 10 a 15 anos são, nesta ordem: violência interpessoal, acidentes de trânsito, afogamento, leucemia e infecções respiratórias.
Já jovens na faixa de 15 a 19 anos morrem em decorrência de violência interpessoal, acidentes de trânsito, suicídio, afogamento e infecções respiratórias.
A OMS repassou esse ranking estimado com exclusividade à BBC Brasil, mas não ofereceu números absolutos para ilustrar a lista, pois o estudo foi organizado por regiões.

 Mortalidade de jovens no mundo

O que mostra o levantamento da OMS: 1,2 milhão de óbitos precoces por ano:
  • 3 mil mortes por dia no ano de 2015
  • 43% de mortes em países de baixa-média renda nas Américas (incluindo Brasil) são atribuídas à violência
Global Acceleration Action for the Health of Adolescents (Ação Global Acelerada para a Saúde de Adolescentes, em tradução livre) não avalia países individualmente, mas áreas econômicas do planeta. O Brasil está inserido na categoria “países de renda baixa-média das Américas”.
A tendência observada dentro desse grupo também aponta a violência interpessoal como principal causa da morte, representando 43% dos óbitos.
“O Brasil se insere exatamente no perfil da região”, disse à BBC Brasil, por email, Kate Strong, especialista da OMS para o monitoramento de crianças e jovens.

Violência interpessoal

O conceito de violência interpessoal explorado no documento é bastante amplo, pois engloba desde a preponderante agressão relacionada às gangues e ao narcotráfico até o feminicídio.
“Inclui assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional”, descreve o documento.
De acordo com números da edição de 2016 do relatório, publicado pela iniciativa Mapadaviolência.org.br, a situação é preocupante.
“A principal vítima da violência homicida no Brasil é a juventude”, afirma o documento nacional.
Nesse levantamento, que compilou dados de 2014, foi observado que jovens de 15 a 29 anos de idade representavam aproximadamente 26% da população do país, mas a participação deles no total de homicídios por armas de fogo era desproporcionalmente superior. O peso demográfico dos jovens nos casos de mortes com armas correspondem a quase 60% dos crimes.
No resto do mundo, as cinco principais causas de morte entre jovens de ambos os sexos, de 10 e 19 anos são: acidentes de trânsito, infecções respiratórias (pneumonia), suicídio, infecções intestinais (diarreia) e afogamentos.
Mais de dois terços dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento, revelam os dados de 2015 da OMS.
Dividindo por sexo, a estimativa aponta que, no mundo todo, meninos de 10 a 19 anos morrem principalmente por acidentes de trânsito, violência interpessoal, afogamento, infecção do sistema respiratório e suicídio.
As meninas da mesma faixa-etária têm mortes atribuídas a infecções do sistema respiratório, suicídio, infecções intestinais, problemas relacionados à maternidade e acidentes de trânsito.
Essas tragédias poderiam ser evitadas se os países investissem mais em educação, serviços de saúde e apoio social, diz a OMS.
“O período da adolescência é um momento particularmente importante para a saúde, porque definirá hábitos que terão impacto na qualidade de vida pelas próximas décadas. É nessa época que a inatividade física, a má dieta e o comportamento sexual de risco têm início”, disse a OMS.
A organização critica a falta de atenção dada a essa faixa-etária da população nas políticas públicas. “Adolescentes estiveram completamente ausentes dos planejamentos de saúde nacional por décadas”, lamentou Flávia Bustreo, Diretora-Geral assistente da OMS.

Soluções

O documento aponta ainda soluções que podem ajudar a evitar essas mortes precoces. São sugestões de políticas públicas que podem ter grande impacto nas estatísticas. Um exemplo é a recomendações da implementação de leis e campanhas de conscientização pelo uso do cinto de segurança. Em 2015, acidentes de trânsito mataram 115 mil jovens de 10 a 19 anos no mundo todo.
O Brasil é citado no documento como caso bem sucedido no combate a mortes no trânsito. “Entre 1991 e 1997 o Ministério da Saúde do Brasil registrou aumento dramático na mortalidade de jovens em acidentes de trânsito”, afirma o documento.
“Em resposta, legisladores introduziram um novo código de trânsito em 1998 que tornava mais severa as punições aos infratores”. O novo código de trânsito teria ajudado a salvar 5 mil vidas no período entre 1998 e 2001 segundo a OMS.
Apesar de o trânsito ser um problema universal, há marcantes diferenças entre as regiões quanto às causas de óbito. Nos países de renda baixa-média da África, doenças transmissíveis como HIV-AIDS, infecções do sistema respiratório, meningite e diarréia são os principais vilões.
A anemia, doença causada pela deficiência de ferro no sangue, também é um mal muito comum, que atinge milhares de jovens no mundo todo em países pobres e ricos.
O suicídio, ou a morte acidental causada por atitudes auto-destrutivas, foi a terceira causa de mortalidade de adolescentes em 2015, totalizando 67 mil mortes. Em sua maioria, as vítimas são adolescentes mais velhos.
Em regiões com boas condições econômicas como a Europa, o suicídio também aparece entre as principais causas. Cortar a si mesmo é o tipo de auto-violência mais comum observado no continente.
A estimativa global da OMS é de que até 10% da população adolescente mundial cometa algum ato de violência contra si.
O documento recomenda fazer mais investimentos e dar atenção especial às pessoas nessa fase da vida, onde grandes frustrações e incertezas despontam: “jovens normalmente tomam responsabilidades de adultos como cuidar de irmãos menores, trabalhar, ter de abandonar os estudos, casar cedo, praticar sexo por dinheiro, simplesmente porque precisam dar conta das necessidades básicas de sobrevivência.
Como resultado, eles sofrem de desnutrição, acidentes, gravidez indesejada, violência sexual, doenças sexualmente transmissíveis e transtornos mentais”, resume o documento.
“Melhorar a forma como o sistema de saúde atende aos adolescentes é apenas uma parte da melhora da saúde deles”, diz Anthony Costello, médico da OMS.
“Uma família e uma comunidade que apoia os seus jovens são extremamente importantes”, completa.
Entre as políticas básicas que os países devem tentar implementar para diminuir o risco de mortes precoces estão: programas de orientação sexual na escola, aumento da idade mínima para consumo de álcool, obrigatoriedade do uso do cinto de segurança nos automóveis e de capacetes para ciclistas e motociclistas; redução do acesso a armas de fogo, aumento da qualidade da água e melhoria da infra-estrutura sanitária.
Fonte: 

Ele dará a vocês outro Advogado, para que permaneça com vocês (Jo 14,15-21) [Tomaz Hughes]

O texto dá início, dentro da primeira parte do Último Discurso de Jesus, à seção trinitária, onde o mesmo tema é aplicado ao Espírito (vv. 15-17), a Jesus (vv.18-22) e ao Pai (vv. 23-24). E o tema é este: se guardarmos os mandamentos, cada personagem divina virá e habitará conosco.
O Quarto Evangelho nos traz formulações muito bonitas referentes à Trindade, especialmente no Último Discurso de Jesus. Neste trecho, se enfatiza a necessidade de guardar os mandamentos, para que possamos receber o dom do Espírito Santo. Aqui, encontramos a primeira de duas promessas no capítulo da chegada do Paráclito, uma palavra grega que significava o que seria, em nossa linguagem, o advogado da defesa. Em diversos textos, João expressa a função do Espírito dentro da comunidade pós-ressurrecional. Aqui, o Espírito agirá como defensor dos discípulos diante dos ataques do mundo de incredulidade (lembremo-nos que na época do escrito, pelo fim do primeiro século da nossa era, a comunidade joanina estava sofrendo muitos ataques de diversas origens). Vale a pena notar aqui que o Espírito Santo será “outro Paráclito,” pois Jesus já tinha sido defensor dos discípulos durante a sua vida terrestre e continuará a sê-lo no céu. O Espírito Santo será o Espírito da Verdade, ou seja, o Espírito que revelará ao mundo a verdade sobre Jesus, tal como Jesus já tinha feito, mostrando-nos a verdade sobre o Pai.
A partir do v. 18, como fez no início do capítulo 14, Jesus volta a consolar os seus discípulos e a falar da sua volta. Só que aqui não se refere tanto à sua vinda na Parusia, ou a Segunda Vinda, mas uma volta espiritual, através de habitação divina em cada discípulo, uma presença real que fará com que os discípulos compreendam que Jesus e o Pai são um. Assim, os discípulos conhecerão a relação verdadeira entre Jesus e o Pai, e descobrirão que existe o mesmo relacionamento entre Jesus e eles próprios. De novo, põe-se a observância dos mandamentos como precondição para que aconteça essa presença espiritual, mas real. A observância dos mandamentos não é uma simples exigência legal, mas a demonstração do amor dos discípulos para Jesus.
Atrás desse texto, está o desejo do autor de fortalecer a fé da sua comunidade em tempos difíceis. Assim, esse Evangelho continua tendo muita relevância para a Igreja, a comunidade dos discípulos, hoje. Como naquele tempo, também a nossa fé pode vacilar diante de ataques, da perseguição ou até da indiferença do mundo. O texto procura renovar nos leitores a certeza da presença da Trindade no nosso meio, pois o Espírito nos dará força para que vençamos as dificuldades e sofrimentos que eventualmente poderão nos assolar, individual ou comunitariamente. Também insiste na necessidade de criarmos uma comunidade de amor e de solidariedade, para que a morada divina em cada pessoa e na comunidade possa tornar-se uma força efetiva no fortalecimento da nossa fé, da nossa caminhada. Lembremo-nos de que, no Quarto Evangelho, o Grande Mandamento era de amar-nos uns aos outros, como ele nos amou, ou seja, na doação de nós mesmos na luta de criar um mundo onde se vive o sonho de Jesus, que veio “para que todos tenham a vida e vida em abundância” (Jo 10,10).

O Espírito da Verdade defende a comunidade (João 14,15-21) [Ildo Bohn Gass]

No evangelho proposto para a liturgia deste final de semana, Jesus segue sua conversa com a comunidade de discípulos e discípulas. O contexto é a última ceia que Jesus realiza com o seu grupo na noite antes de ser preso. São as últimas horas que ele passa com o seu grupo, antes de as forças militares romanas e os guardas do templo, enviados pelos sumos sacerdotes e fariseus, e guiados por Judas Iscariotes, o prenderem no jardim do outro lado da torrente do Cedrom (18,1-3). A comunidade está sentada ao redor da mesa, partilhando o pão e participando da angústia de Jesus (13,21-30). Então, ele lhes dá um novo mandamento (13,34-35). Fala-lhes de sua intimidade amorosa com o Pai, apresentando esse amor incondicional como o caminho, a verdade e a vida. A missão das pessoas que creem em Jesus, aderindo ao seu projeto de vida, é fazer as mesmas obras que ele fez e até obras maiores (14,1-14).
O texto de hoje dá sequência a essa conversa íntima que Jesus estabelece com quem lhe é fiel. Ele quer dar esperança à sua comunidade que está preocupada em como realizar essa missão no seguimento do mestre, quando ele não estiver mais fisicamente presente. Como superar o medo, quando Jesus não estiver mais com seus seguidores e quando vierem as perseguições? E Jesus diz: “Não vos deixarei órfãos” (14,18). “Meu Pai dará para vocês outro advogado ou defensor, a fim de que ele esteja para sempre com vocês” (14,16).
Quem me ama, será amado por meu Pai (14,21)
O primeiro e o último versículo de nosso texto falam em amar a Jesus (14,15.21). Amar a Jesus é aderir incondicionalmente a ele, a seu mandamento de amor, a seu projeto de vida plena, vida em abundância (10,10). É permanecer em sua palavra que conduz à verdade que liberta (8,31-32). Amar a Jesus é acolher e aderir a seu mandamento de amor (14,15), pois é na prática do amor que se conhecerá quem é o seu discípulo (13,35). “E quem tem os meus mandamentos e os observa, é que me ama. E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu o amarei e a ele me manifestarei” (14,21). Entrar no dinamismo do amor de Jesus é fazer parte do amor do Pai, é viver como filho e como filha de Deus, revelando a sua ternura, o seu desejo de vida cidadã. Viver o seu amor é, mesmo na ausência física de Jesus, continuar sendo animado por seu dinamismo. Ele é o nosso defensor ou consolador, agora presente na força do Espírito.
Que permaneça para sempre com vocês o Espírito da Verdade (14,16-17)
Jesus vai embora, mas não nos deixa órfãos. Não nos abandona, deixando-nos sozinhos na missão de amar e de lutar por vida digna. Ele promete que vai pedir ao Pai para que envie outro advogado, consolador ou defensor. É o Espírito Santo, o Espírito da Verdade. É ele quem realizará o projeto de Jesus em cada um e cada uma de nós, a fim de trilharmos no caminho da verdade que conduz à liberdade plena.
O Espírito da Verdade vem exercer a mesma função de Deus no Antigo Israel, isto é, de defender, libertar e resgatar o seu povo do sofrimento e da perseguição (Jó 19,25; Isaías 41,14; 48,17). E esta era a situação da comunidade joanina na época em que este evangelho foi escrito no final do primeiro século (16,1-2). E, por seguir o projeto do “príncipe deste mundo” (14,30), o “mundo” não pode acolher o Espírito da Verdade (18,17).
Quando a comunidade joanina fala em “mundo”, refere-se à sociedade injusta que caluniou, perseguiu e executou Jesus na cruz. Os responsáveis principais por esta estrutura social eram os governantes do império colonialista de Roma, bem como seus governantes dependentes, isto é, os procuradores, a dinastia de Herodes e os sumos sacerdotes que eram nomeados pelos interventores romanos. Os interesses do império não eram o amor, a vida e a liberdade das pessoas e dos povos. Ao contrário, a pax romana era a dominação implacável sobre as nações conquistadas. Por isso, Jesus diz: “Deixo-vos a paz. A minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá” (14,27). É uma crítica direta à proposta de paz vinda de Roma, bem como a apresentação de outro jeito de reinar. Podemos ainda ler em João 18,36: “Meu reino não é deste mundo”. “Este mundo” é uma referência às relações injustas impostas pela sociedade de então. E Jesus afirma que o projeto de Deus não é como o reino deste mundo, mas é alternativo, é de justiça e de partilha, de solidariedade e de perdão. Este está sob a influência do Espírito da Verdade que gera vida. Aquele é conduzido pelo espírito da mentira e da violência, promovendo morte.
Com essa análise de conjuntura, Jesus identificou o pecado estrutural como a grande força de morte a ser combatida. Ele não pregou um moralismo individualista. A ética que propunha era o engajamento na transformação das estruturas “deste mundo” em estruturas conforme o projeto de Deus para a humanidade, isto  é, o Reino de Deus e a sua justiça (Mateus 6,33). Não é por acaso que Jesus se tornou uma ameaça para os poderes deste mundo.
O Espírito que Jesus nos concede é o mesmo que o animou desde o início de sua missão, quando, no batismo, foi ungido por ele para comunicar-nos a vida e o amor fiel (1,33). Junto com a Verdade, o Espírito também é o princípio da verdadeira religião, vivida no amor (4,23). Diferentemente do diabo, que é homicida e pai da mentira (8,44), o Espírito que o Pai nos envia gera vida e verdade. Não é mais a letra da lei que revela a verdade, mas o amor de Deus vivido por Jesus. Esse mesmo Espírito ensina tudo e recorda o que Jesus disse (14,26). Conduz à verdade plena (16,3), testemunha Jesus (15,26) e transforma tristeza em alegria (16,16-24).
Por fim, quando Jesus nos envia assim como o Pai o enviara (20,21), ele sopra sobre a comunidade reunida e diz: “Recebei o Espírito Santo” (20,22). Então, como pessoas recriadas com o sopro da vida (cf. Gênesis 2,7), sejamos discípulas e discípulos de Jesus, conduzidos pelo mesmo Espírito que o animava em sua missão.
“Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra” (cf. Salmo 104,30).