domingo, 29 de março de 2015

Marcos 9,2-10: Este é o meu filho amado, escutai-o [Ildo Bohn Gass]



A Transfiguração de Jesus
Situando o texto na estrutura do Evangelho e na intenção de Marcos
No próximo domingo, muitas comunidades celebram, tendo como Evangelho a narrativa de Marcos que apresenta Jesus vitorioso sobre a morte e sobre os poderes que o mataram. É o texto mais conhecido como a transfiguração de Jesus no monte (Marcos 9,2-10).
Conforme o plano deste Evangelho, encontramo-nos na parte que se refere ao caminho do discipulado, do seguimento (Marcos 8,22-10,52). É o caminho em que Jesus vai abrindo os olhos, isto é, vai instruindo as pessoas que o seguem sobre quais os critérios e quais as exigências do seguimento ao projeto do Reino. Por isso, começa narrando a cura da cegueira como um processo (Marcos 8,22-26) que somente será completo, depois de todas as orientações de Jesus, quando Bartimeu, curado da cegueira, decide seguir Jesus pelo caminho (Marcos 10,46-52). Nesse caminho, estão os três anúncios da paixão (Marcos 8,31-32; 9,30-31; 10,32-34). Cada anúncio vem seguido pela incompreensão ou cegueira dos discípulos e por instruções de Jesus sobre o seguimento. O relato da transfiguração no monte faz parte das instruções após o primeiro anúncio da paixão. Sua função é contribuir na cura da cegueira, na falta de entendimento do caminho, do seguimento ontem e hoje.

Papa Francisco defende que pena de morte é inadmissível


Em reunião recente com a Comissão Internacional contra a Pena de Morte, o Papa Francisco reiterou que a pena capital é inadmissível, seja qual for a gravidade do delito cometido pelo condenado. "É uma ofensa à inviolabilidade da vida e da dignidade da pessoa humana, que contradiz o desígnio de Deus sobre o homem e a sociedade, e sua justiça misericordiosa, além de impedir o cumprimento de qualquer finalidade justa das penas. Não se faz justiça às vítimas, mas apenas fomenta a vingança'', assinala o Sumo Pontífice em uma carta entre a Federico Mayor, presidente da Comissão.
O Papa afirma ainda que, para um Estado de direito, a pena de morte representa um fracasso, porque obriga a matar em nome da justiça, mas nunca se alcançará a justiça matando um ser humano. "Com a aplicação da pena capital, é negado ao condenado a possibilidade de reparação ou emenda do dano causado; da possibilidade de confissão, pela qual o homem expressa a sua conversão interior; e da contrição, pórtico do arrependimento e da expiação, para chegar ao encontro com o amor misericordioso de Deus”. Francisco observa ainda que a pena de morte é, ademais, um recurso frequente de alguns regimes totalitários e de grupos de fanáticos para exterminar dissidentes políticos, minorias e todo o indivíduo etiquetado como ''perigoso'', o que pode ser percebido como uma ameaça ao seu poder ou à consecução de suas metas''.
Para o Papa, outras penalidades, como a prisão perpétua, devem ser vistas como penas de morte encobertas, pois impossibilitam o condenado a projetar um futuro em liberdade, "não se priva o culpado de sua liberdade, mas se tenta privá-lo da esperança”.

Fonte: Adital

Acreditar que a mídia tradicional se abrirá ao contraditório é ilusão





<br>Fonte: CC /GRAFITE: CRÂNIO
Na primeira reunião ministerial do segundo mandato, a presidenta Dilma Rousseff convocou seus auxiliares para a “batalha da comunicação”. Foi enfática: “Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente”.
Nada mais justo. A desinformação contrária ao governo campeia pelo país, orquestrada pelos grandes meios de comunicação. A reação da presidenta é justificável. Resta saber quais são as armas que ela e seus ministros possuem para essa batalha. Se esperam contar com a benevolência dos meios tradicionais, podem tirar o cavalo da chuva. A batalha estará perdida antes de ser travada.
Alguns veículos até publicam o que chamam de “outro lado”, mas sempre de forma discreta e submissa à pauta criada para fustigar o governo. A desproporção entre o ataque da mídia e a possibilidade de resposta através dela mesma é brutal. Constata-se uma grave falha da democracia ao exigir que governantes eleitos pelo voto popular sejam obrigados a se dirigir à sociedade por meios privados, controlados por minorias que os querem ver apeados do poder.
Além disso a participação do governo na batalha da comunicação não pode ser apenas reativa aos ataques da oposição midiática. É preciso tomar a iniciativa e buscar canais despoluídos para que as mensagens cheguem ao público sem ruídos.
Para ampliar a liberdade de expressão uma lei de meios é fundamental, embora não seja o único caminho. Outro, de construção mais rápida, é o da comunicação pública, indispensável para o jogo democrático. Dela, já há o embrião constituído pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com suas duas emissoras de televisão, oito de rádio, duas agências de notícias e um portal na internet. Resta tirá-la da irrelevância. Não para se tornar porta-voz do governo mas para fazer jornalismo de qualidade, livre de ingerências partidárias e comerciais.
A primeira medida é dar a esses veículos abrangência nacional, atendendo a um dos princípios básicos da comunicação pública que é o do acesso universal. Toda pessoa tem o direito, em qualquer parte do país­, de receber os sinais desses meios de forma rápida e fácil. A TV Brasil, por exemplo, deve ser sintonizada em qualquer lugar da mesma forma com que hoje sintonizamos a Globo ou a Record.
Com a digitalização e a consequente multiplicidade de canais, torna-se possível segmentá-los constituindo um conjunto formado pelo canal generalista já existente, ao lado do infantil e do noticioso. Seria o núcleo básico ao qual poderiam ser agregados canais de filmes, de música, de arte e esportes.
Quanto ao rádio, cabe lembrar que ele continua sendo a segunda fonte mais utilizada para a informação e o entretenimento no Brasil. Ao controlar um leque de emissoras que vai da histórica Rádio Nacional do Rio de Janeiro à estratégica Rádio Nacional do Alto Solimões, o serviço de rádio da EBC tem potencial para se tornar uma alternativa importante em relação ao que hoje é oferecido ao público.
Necessidade imediata nesse sentido é a constituição de emissora noticiosa 24 horas no ar, capaz de produzir uma narrativa distinta das produzidas pelas rádios comerciais que tornam homogênea a informação radiofônica em circulação pelo país.
No caso da internet, a Agência Brasil já exerce um papel importante voltado para o público leitor e para o municiamento informativo de um número expressivo de veículos em todo o território nacional. Cabe popularizar e ampliar esse serviço tendo como uma das janelas o portal da EBC, dando a ele formas de acessibilidade e fidelização semelhantes às obtidas pelos portais informativos vinculados à mídia comercial.
Com a existência de canais públicos fortes, abertos aos interesses mais gerais da sociedade, a batalha da comunicação seria travada em termos um pouco mais equilibrados, dando ao público o direito de uma escolha real.
Texto: Lalo Leal

Fonte: Rede Brasil Atual

Evangélicos pressionam deputados favoráveis à redução da maioridade penal





Em resposta a parlamentares que dizem falar em nome de Deus, mas têm defendido projetos de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, organizações ligadas a denominações evangélicas deram início a uma campanha para alertar os fiéis, a sociedade e pressionar os representantes políticos para que essa tragédia não aconteça.
Nesta semana, a Rede Evangélica Nacional de Ação Social (Renas), a Visão Mundial, a rede Fale, que reúnem milhares de ativistas em todo o país, além de pastores e líderes religiosos, começaram a distribuir um documento a parlamentares evangélicos e a igrejas.
“Nossa sociedade e o Estado têm negado o direito ao pleno desenvolvimento das nossas crianças e adolescentes, do nascimento à juventude. Nossos parlamentares e a sociedade em geral estaremos sendo hipócritas ao propor a redução da idade penal enquanto não garantimos todas as oportunidades de desenvolvimento para as nossas crianças e adolescentes'', diz a carta.
Em tom forte, o documento também conclama “os parlamentares, especialmente os que se declaram evangélicos, a se posicionarem contra a redução da maioridade penal e se envolverem na efetivação do ECA e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), cumprindo o nobre papel dessa Casa de fiscalizar e cobrar do poder público o orçamento e a efetiva implementação dos instrumentos já existentes''.
Conversei com representantes desse grupo. Eles temem que uma união entre parlamentares evangélicos e a bancada da bala ajude na aprovação dessa mudança. Trocas de favores em torno de uma agenda conservadora individual dos parlamentares que não foi discutida com sua base.
Enquanto certos parlamentares se preocupam com beijo em novela, há grupos evangélicos articulados e com peso político que chamam a atenção para a gravidade da situação da infância e da adolescência no Brasil e o risco de um retrocesso patrocinado por essa mudança na lei.
Considerando que esse pessoal consegue fazer um bom barulho nas igrejas (há uma petição online circulando sobre o tema) e que, até revogarem a Constituição, políticos precisam de votos para sobreviver, vai ter parlamentar que terá que se explicar junto à sua base porque dar as costas a crianças e adolescentes se tornou um valor cristão.
Segue o documento:
Ao tomar conhecimento do debate na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, ocorrido esta semana em Brasília, as organizações filiadas à RENAS, reunidas em assembleia na cidade do Rio de Janeiro, de 18 a 20 de março, decidiram unanimemente aprovar uma agenda de incidência política junto às igrejas evangélicas brasileiras e aos parlamentares que compõe a CCJC, especialmente aos que se declaram evangélicos.
Esperamos contar com a sensibilidade dos irmãos deputados na esperança de que este seja um momento de testemunho em favor da vida daqueles que Jesus considerou mais preciosos, as crianças e adolescentes.
Convidamos parlamentares e comunidades evangélicas a considerarem conosco os seguintes pontos:
1. A partir dos 12 anos, todo adolescente pode ser responsabilizado caso infrinja a lei. Essa responsabilização, executada por meio de medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tem o objetivo de ajudá-lo a recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta reconstruída.
2. O ECA prevê seis medidas socioeducativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. Recomenda-se que a medida seja aplicada de acordo com a capacidade de cumpri-la, as circunstâncias do fato e a gravidade da infração. Muitos adolescentes que são privados de sua liberdade não ficam em instituições preparadas para sua reeducação, mas em locais que reproduzem o ambiente de uma prisão comum. Além disso, o adolescente pode ficar até 9 anos em medidas socioeducativas, sendo três anos na internação, três em semiliberdade e três em liberdade assistida, com a responsabilidade do Estado de acompanhá-lo e ajudá-lo a se reinserir na sociedade. Não adianta, portanto, endurecer as leis se o próprio Estado não as cumpre.
3. O Brasil tem a 3ª maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado, com mais de 715 mil presos. Só fica atrás, em número de presos, de Estados Unidos (2,2 milhões) e China (1,7 milhões). O sistema penitenciário brasileiro não tem cumprido sua função de controle, reinserção e reeducação. Assim, enviar os jovens mais cedo para o sistema prisional é decretar a falência de nossa sociedade em prover oportunidades de vida digna para nossa juventude e condenar nosso futuro como nação.
4. Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado que não há relação direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência. No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade. Dados do UNICEF revelam a experiência mal-sucedida dos Estados Unidos, aplicando aos seus adolescentes penas previstas para adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.
Nossa sociedade e o Estado têm negado o direito ao pleno desenvolvimento das nossas crianças e adolescentes, do nascimento à juventude. Nossos parlamentares e a sociedade em geral estaremos sendo hipócritas ao propor a redução da idade penal enquanto não garantimos todas as oportunidades de desenvolvimento para as nossas crianças e adolescentes.
A juventude brasileira tem sido a maior vítima da grande violência que ocorre em nossas cidades e não pode ser ainda mais castigada como bode expiatório de uma sociedade e Estado negligentes com seus direitos básicos. Conclamamos os parlamentares, especialmente os que se declaram evangélicos, a se posicionarem contra a redução da maioridade penal e se envolverem na efetivação do ECA e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), cumprindo o nobre papel dessa Casa de fiscalizar e cobrar do poder público o orçamento e a efetiva implementação dos instrumentos já existentes.
Pelos motivos expostos e inspirados na vocação profética da igreja, conclamamos os parlamentares e comunidades evangélicas a se posicionarem em favor da vida de nossas crianças e adolescentes, pois o Deus da vida enviou seu filho Jesus Cristo para dar vida plena para todas as pessoas, em especial aos mais vulneráveis.
No decorrer da História, várias autoridades decretaram a morte dos mais jovens, como o faraó no Egito, no tempo de Moisés, e Herodes, no tempo do nascimento de Jesus. Conclamamos todos vocês a se posicionarem do lado de Jesus – e não do Faraó ou de Herodes. Em nome do Jesus de Nazaré, que teve sua vida ameaçada de morte ainda criança, nos despedimos na esperança de que o Espírito Santo os guiará no caminho da vida!

Fonte: Uol Noticias/Blog do Sakamoto

Marcos 11.1-11: Jesus, o empregado de todas e de todos, vem montado num animal de carga [Mesters e Lopes]




38º Romaria da terra<br>Fonte: Paulo Daniel Derensbeed
Abrir os olhos para ver
Esse texto fala da grande manifestação popular em favor de Jesus no Domingo de Ramos. Sentado num jumento, animal de carga, Jesus entra em Jerusalém, capital do seu povo. Os discípulos, as discípulas e povo romeiro, vindos da Galileia, o aclamam como messias. Mas o povo da capital não participa. Apenas assiste, e as autoridades nem aparecem. A romaria termina na praça do Templo, a praça dos poderes. Parece uma passeata que termina diante da catedral e do Palácio do Planalto. Também hoje há manifestações populares. As suas reivindicações revelam o sofrimento do povo e a sua indignação frente às injustiças. Nem todos participam, pois têm medo. A maioria apenas assiste.
Situando
 
Finalmente, após uma longa caminhada de mais de 140 quilômetros, desde a Galileia até Jerusalém, a romaria está chegando ao seu destino. A cena se passa em Jerusalém, símbolo central da religião (Sl 122,3). No início do bloco, está o gesto simbólico de Jesus: aclamado pelo povo peregrino, ele entra na cidade montado num jumentinho, animal de carga.
 
A caminhada de Jesus e seus discípulos era também a caminhada das comunidades no tempo em que os evangelistas escreviam o seu evangelho: seguir Jesus, desde a Galileia até Jerusalém, desde o lago até o calvário, com a dupla missão de denunciar os donos do poder que preparam a cruz para quem os desafia e de anunciar ao povo sofrido a certeza de que um mundo novo é possível. Esta mesma caminhada continua até hoje.
 
Comentando

A chegada em Jerusalém

Jesus vem caminhando, como romeiro no meio dos romeiros! O ponto final da romaria é o Templo, onde mora Deus! Em Betânia ele faz uma parada. Betânia significa Casa da Pobreza. Era um povoado pobre fora da cidade, do outro lado do Monte das Oliveiras. De lá, Jesus organiza e prepara a sua entrada na cidade. Ele manda os discípulos buscar um jumentinho, um jegue, animal de carga, para poder realizar um gesto simbólico.

Marcos 14.3-9: A Mulher que surpreendeu a todos e todas e ungiu Jesus [João Bartsch]




Jarro de azeite<br>Fonte: Desconhecida
O texto em questão é o relato da unção de Jesus em Betânia e é essencialmente relato de uma ação; visto que a mulher não fala uma palavra sequer - só age, faz acontecer. Olhemos mais de perto a ação desta mulher!

O texto não traz maiores informações sobre a mulher. Ela é apresentada de forma anônima. Para o evangelista parece que não é importante a identidade desta mulher e sim a sua ação.
 
A ação da mulher consistiu numa unção que provocou forte reação por parte dos presentes à ceia. Os presentes indignaram-se com a atitude da mulher de ungir Jesus com perfume. O texto traz que o principal motivo da indignação foi o desperdício nesta ação da mulher. Ela derramou perfume da melhor qualidade sobre a cabeça de Jesus. Esse perfume custava o salário de um ano de trabalho. Porém, suspeita-se que podem ter sido outros motivos que causaram a indignação dos presentes. Pode ter sido porque a mulher invadiu um lugar essencialmente de homens. As mulheres entravam na sala de refeição só para servir a refeição. E esta mulher entra sem falar nada e age! Sua ação causa grande impacto. Mas sabe-se também, que o ato de ungir era amplamente praticado no meio judaico. A unção era muitas vezes uma cortesia da dona da casa para com o visitante. Já a unção na cabeça era essencialmente um ato dos profetas e sacerdotes do povo de Israel. Com este ato proclamava-se a pessoa ungida rei. Neste texto uma mulher, sem pedir permissão, pratica um ato messiânico que era efetuado apenas por homens. Este parece ser o principal motivo da indignação dos presentes na ceia.

Brasil: Asesinatos de Jóvenes Afrodescendientes


Roda de conversa com mães de jovens negros mortos pelo estado - RJ


Brasil reconhece extermínio da juventude negra em audiência na OEA




Na sexta-feira, 20/03, em audiência temática na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre assassinato de jovens negros no Brasil, representantes do Governo brasileiro admitiram o cenário de extermínio no país.  O Secretário de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ronaldo Crispim Sena Barros, assumiu que “o Governo Federal avalia que parte da elevada taxa de homicídio dos jovens negros deve ser atribuída ao racismo”. O país registra homicídio de 30 mil jovens por ano, segundo dados do Mapa da Violência 2014, dessas mortes quase 80% das vítimas eram negras.
Embora tenha reconhecido o extermínio, durante a audiência, realizada à pedido da Anced/Seção DCI – Associação Nacional dos Centros de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente, o Estado se calou quando foram apresentadas graves denúncias de violações de direitos humanos relacionadas ao sistema socioeducativo, como os casos nos estados do Maranhão, Ceará e Pernambuco, que envolvem desde adolescentes feridos com armas de fogo dentro das unidades, incluindo maus tratos e torturas.

As igrejas, o Fórum Social Mundial e a violência da mineração


"As igrejas cristãs têm um papel importante junto às comunidades na defesa dos bens comuns, do direito à autodeterminação no uso dos territórios e do direito intergeracional a uma relação viva e respeitosa com a Criação inteira", escreve Pe. Dário Bossi, missionário comboniano.
Eis o artigo:
O Fórum Social Mundial (FSM) é uma intuição dos movimentos sociais de diversas partes do mundo que entende contrapor à globalização econômico-financeira uma articulação daqueles que sonham, pensam e constroem um “outro mundo possível”.
Algo que se parece, em chave cristã, à “Globalização da Solidariedade”, que hoje papa Francisco interpreta como um urgente compromisso da Igreja frente ao pecado social do capitalismo, que gera desigualdades e descarta a pessoas e a criação.
Desde 2001, o FSM reúne militantes dos mais diversos movimentos, entidades e organizações sociais para debater a conjuntura, os desafios sociais, econômicos e políticos e as possíveis alianças entre quem trabalha junto às comunidades afetadas por esse modelo de desenvolvimento.
Nesse mês de março de 2015, a articulação latino-americana Iglesias y Minería participará ao FSM apresentando sua história e objetivos e tentando fortalecer a interação com outras forças para denunciar as violações provocadas pelo modelo extrativista no mundo.
Iglesias y Minería (IyM) é uma rede cristã ecumênica, nascida em 2013 por intuição de um grupo de religiosas/os, leigas/os já comprometidos frente à mineração, mas com a necessidade de buscar alianças em vista de uma maior proteção frente à criminalização e de uma maior incidência junto à hierarquia das igrejas e às instituições internacionais de defesa dos direitos humanos e ambientais.
Em dezembro de 2014, IyM realizou um encontro internacional em Brasília, com a participação de cerca cem pessoas dos diversos países do continente americano. A partir desse encontro, fortaleceram-se articulações velhas e novas, em particular uma significativa aliança com a Red Eclesial Panamazonica e uma interação com o Pontifício Conselho Justiça e Paz, na esperança de poder realizar em Vaticano um encontro das comunidades latinoamericanas atingidas por mineração.
As igrejas cristãs têm um papel importante junto às comunidades na defesa dos bens comuns, do direito à autodeterminação no uso dos territórios e do direito intergeracional a uma relação viva e respeitosa com a Criação inteira.
Para assumir essa missão, urgente e por muitos aspetos nova e desafiadora, as igrejas precisam desconstruir algumas categorias bíblico-teológicas que, influenciadas por culturas antropocêntricas e utilitaristas, consideram a criação como um conjunto de recursos à disposição do desenvolvimento humano. Também, as igrejas devem saber pedir perdão pelas violações e a cultura da exploração que elas próprias instituíram ou legitimaram ao longo dos séculos.
Por outro lado, essas mesmas igrejas devem valorizar sua presença capilar e permanente ao lado dos mais pobres, escolha preferencial e inspiração profética de seus posicionamentos.
Nesse sentido, as comunidades cristãs podem representar o elemento de proximidade e continuidade na denúncia das violações socioambientais e no acompanhamento das reivindicações das comunidades, bem como dos processos de construção de alternativas ou de defesa das práticas ancestrais que preservam a Mãe Terra.
Por ocasião do FSM, haverá em particular duas oficinas em que esses temas serão abordados, tentando gerar novas alianças e definir estratégias conjuntas: uma analisará a conexão entre mineração e mudanças climáticas, contribuindo ao processo preparatório da importante Conferência sobre o clima (COP 21, Paris dezembro de 2015); outra reunirá Iglesias y Minería, o World Council of Churches e CIDSE num debate sobre o papel das igrejas frente à mineração, que será aberto por uma provocação do monge brasileiro Marcelo Barros.
Temos certeza que essa seja uma frente urgente e importante para a caminhada ecumênica das igrejas e aguardamos com ansiedade, nesse espírito, a encíclica do Papa Francesco sobre “ecologia humana”, prestes a ser publicada.

Fonte: IHU Online

Juventude e Lutas Ecumênicas


Documentário Koinonia: Juventude e Lutas Ecumênicas




Documentário Koinonia: Juventude e Lutas Ecumênicas<br>Fonte: Youtube/Reprodução
Durante o regime autoritário, com a dissolução oficial de uma série de organismos políticos, vários deles empurrados para a clandestinidade, as instituições religiosas foram de grande importância para a sobrevivência de focos de luta pela democracia.
No entanto, esta memória é rarefeita, assim como o reconhecimento da sociedade sobre o papel que as igrejas desempenharam na organização popular e resistência contra a ditadura. Um dos resultados é a predominância de uma versão da história que identifica os religiosos, sobretudo os cristãos, sumariamente com o conservadorismo e o apoio ao regime militar.
Ao contrário do que diz a versão predominante, ontem como hoje, as instituições religiosas continuam sendo espaços de disputa entre forças sociais com diferentes visões políticas sobre a prática da fé. Os filmes “Muros e Pontes: Memória Protestante na Ditadura” e “Juventude e Lutas Ecumênicas”, dirigidos por Juliana Radler, com lançamento no seminário Protestantes, Democracia e Ditadura, buscaram capturar a complexidade dessas tendências no interior do universo religioso protestante. O primeiro documentário retrata a geração pós-64 e o segundo, a experiência dos jovens protestantes ecumênicos de hoje.
A diretora dos documentários Juliana Radler se diz surpresa ao ter se deparado com um passado protestante com ideais tão progressistas. “Eu realmente não conhecia essa história da juventude protestante na resistência à ditadura. Crescemos ouvindo relatos de pessoas que desapareceram, entraram para a luta armada até, movimentos que se formaram durante a época. Agora, movimentos que envolviam de uma maneira tão profunda membros de igrejas protestantes, não tive notícia. Muito presente é o papel do ecumenismo, do respeito à fé das outras pessoas como porta para a luta pela democracia. São pessoas que deram suas juventudes por uma causa e merecem o devido reconhecimento”.
Apesar de destacarem a diferença dos contextos históricos, os jovens fazem paralelos entre os desafios da geração pós-64 e os jovens religiosos de hoje, engajados nas lutas por transformações dentro e fora das igrejas.
“Há opressões que vão se repetindo, perseguições nas igrejas acontecem. Quando temos, por exemplo, um ministro, um pastor, que traz um diálogo mais aberto, em que recebe o homossexual, o diferente, o conselho da igreja rapidamente dá um jeito de tirar esse pastor dali. E aí é olhar para essa juventude [do passado] que não teve medo, que se posicionou, que foi contra e não perdeu as esperanças”, observa a jovem Mariana Zuccarello (foto acima), da Rede Ecumênica da Juventude (Reju), em um de seus depoimentos no segundo vídeo.
Dando fim ao hiato histórico
A missionária da Igreja Metodista Unida dos EUA e assessora de KOINONIA, Marilia Schüller, foi quem coordenou o projeto “Protestantes, Democracia e Ditadura”, que dá origem aos documentários. Para ela, a iniciativa – que além dos filmes, tem como resultados um livro e a publicação de um acervo digital sobre o tema – vem preencher três lacunas importantes na memória do período militar: “A primeira lacuna é que os registros mais conhecidos se prendem aos movimentos de resistência urbanos, deixando um pouco de lado as periferias rurais e os movimentos de igrejas; a segunda, a pouca atenção dada a contribuição da teologia da justiça social para as ações de resistência; e a terceira, como conseqüência das duas anteriores é a difícil conexão entre as lutas dos religiosos do passado e as de hoje, a visibilidade de um protestantismo ecumênico”, explica.
O anglicano Daniel Souza, integrante da Reju, é um dos jovens que participa do documentário sobre as lutas ecumênicas atuais. Daniel destaca que as políticas de reconstrução da memória, não são apenas uma necessidade, mas um direito. “O direito à memória é fundamental porque faz a transição histórica da trajetória dos protestantes da geração que pega o período de 64 a 85 com a nossa geração. Há um verdadeiro hiato histórico quando olhamos a trajetória da mobilização política protestante. A memória também é importante para apontar os culpados, nomear os responsáveis, para garantir a justiça”, ressalta.
Juventude e Lutas Ecumênicas:

Discurso contra corrupção e o déficit democrático na sociedade brasileira. Entrevista especial com Márlon Reis


“Teremos um Brasil que ganhou as ruas com as bandeiras as mais diversas. Também teremos um Brasil irrequieto, inconformado, sedento por mudanças estruturais que possam recuperar a credibilidade dessa nobre missão que é a atividade política”, projeta o juiz.
Apesar do discurso contra a corrupção tomar as ruas e as discussões dos últimos dias, “a sociedade brasileira sempre foi vista como tolerante à corrupção” e “as queixas” dos brasileiros “não são dirigidas”, adverte Márlon Reis em entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail. Para ele, isso é consequência do fato de a sociedade ressentir-se de “um evidente déficit de democracia. E agora busca meios de se exprimir coletivamente”.
Conhecido por defender a lei da “Ficha Limpa”, Márlon Reis enfatiza que “não se podem ignorar os aspectos culturais que fomentam a corrupção” e frisa que o combate a essa situação depende de “mudanças institucionais”, mas também “é preciso influir positivamente sobre o ser humano a partir da construção de valores de probidade, para o que as escolas devem ser chamadas a exercer papel mais protagonista”.
Entre as soluções para resolver a corrupção no país, Reis sugere “uma reforma política abrangente, que ponha em destaque a responsabilidade coletiva dos partidos políticos. Os partidos não são devidamente evidenciados, por culpa de um sistema eleitoral que exalta os indivíduos, promovendo uma ‘fulanização’ do debate público. Os partidos devem, sim, ser responsabilizados por suas opções”.
Márlon Reis é graduado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão. É coordenador dos programas de pós-graduação a distância em Direito Eleitoral e Gestão Judiciária Eleitoral mantidos pelo grupo WEducacional. Em 2002, idealizou e fundou, juntamente com lideranças sociais, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE, rede de abrangência nacional que reúne mais de 50 organizações sociais brasileiras e que congrega 330 comitês locais espalhados por todo o país.
Confira a entrevista completa em:
Texto: João Vitor Santos e Patricia Fachin

Fonte: IHU Online

Legislação de proteção à mulher avança, mas ainda enfrenta obstáculos


Especialista afirma que redução dos homicídios domésticos de mulheres é apenas um passo na legislação. Levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constata que a Lei Maria da Penha teve impacto na diminuição de cerca de 10% da taxa de homicídios domésticos em relação à última projeção, realizada em 2006, ano em que a Lei 11.340/06 entrou em vigor. Enquanto a taxa de homicídios de homens ocorridos em casa continuou aumentando, a de mulheres permaneceu no mesmo patamar.
Para a assistente social Michelle Dias, membro da Comissão de Instrução do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP), a estatística é positiva, mas representa apenas um passo na legislação de proteção à mulher. "A Lei Maria da Penha é uma normativa completa, que abraça desde a esfera protetiva, de punição, até a reeducação dos homens que cometem agressão e a prevenção dos crimes domésticos. Ainda assim, o fenômeno da violência contra a mulher persiste, agravado pela estrutura da nossa sociedade”, comenta.
Questão social
A explicação para a persistência desse problema estaria na desigualdade social. Segundo a assistente, a própria Lei Maria da Penha encontra dificuldades de aplicação por conta do cenário brasileiro, mesmo com a redução no número de mortes. "Existe uma precarização no atendimento dessas vítimas, tanto na delegacia, na hora de preencher o boletim de ocorrência, quanto no Judiciário, que julga os processos. A própria questão dos abrigos reflete essa condição. Nesses locais, já sucateados, a mulher que sofreu violência divide espaço com outras em situação de rua ou dependentes químicas, algo fora das portarias e normativas que regem os abrigos”, conta Michelle.
Para a assistente social, a situação ainda tem o agravante da desigualdade sexual. Ela esclarece que os efeitos da ausência do Estado, que falha em fornecer/prover condições mínimas de segurança, educação e saúde, são sentidos de forma mais intensa pelas mulheres. "Os problemas sempre recaem sobre elas. Um exemplo é a questão da falta d’água, que fecha creches e escolas. Com o trabalho nas periferias da capital, podemos ver que na maioria dos casos é a mãe que precisa faltar ao trabalho nessas ocasiões”, diz.
Condições de defesa
A representante do CRESS-SP explica que o enfrentamento da violência passa obrigatoriamente pela redução da vulnerabilidade da mulher. No atendimento às vítimas, por exemplo, um trabalho em conjunto entre assistentes sociais, psicólogos e juristas busca fortalecê-las para enfrentar essa condição.
"A mulher que sofre violência doméstica acaba perdendo o vínculo com a família e muitas vezes é impedida pelo próprio companheiro de trabalhar. A ausência de um Estado protetor, que possa suprir suas necessidades básicas e ajudá-la, impede que muitas mulheres consigam se retirar dessa situação. Nosso papel é dar condições mentais e legais para que elas possam se defender de seus agressores, saindo da posição de vulnerabilidade que as encarcera”, finaliza a assistente social.

Fonte: Adital

João 12, 20-33: Só começamos a entender algo da fé quando nos sentimos amados por Deus [José Pagola]


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 12, 20-33  que corresponde ao Domingo 5º da Quaresma, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O atrativo de Jesus
Uns peregrinos gregos que vieram celebrar a Páscoa dos judeus aproximaram-se de Felipe com uma petição: "Queremos ver Jesus". Não é curiosidade. É um desejo profundo de conhecer o mistério que se encerra naquele Homem de Deus. Também a eles lhes pode fazer bem.
Jesus é  visto preocupado. Dentro de alguns dias será crucificado. Quando lhe comunicam o desejo dos peregrinos gregos, pronuncia umas palavras desconcertantes: "Chega a hora de que seja glorificado o Filho do Homem". Quando for crucificado, todos poderão ver com claridade onde está a Sua verdadeira grandeza e a Sua glória.
Provavelmente ninguém entendeu nada. Mas Jesus, pensando na forma de morte que o espera, insiste: "Quando Eu for elevado sobre a terra, atrairei todos até Mim". Que se esconde no crucificado para que tenha esse poder de atração? Apenas uma coisa: O Seu amor incrível a todos.

Redução da maioridade penal: veja o que o CONIC pensa disso


<br>Fonte: CONIC/Reprodução
A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados pode votar nesta terça-feira (17) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171/93 que reduz a responsabilidade penal de 18 para 16 anos. A proposta está na pauta e chegou a tramitar na CCJ na última legislatura, mas não foi votada. A PEC é a mais antiga das cerca de 30 propostas que tramitam na Casa pedindo a alteração na maioridade penal.
Tema polêmico, a proposta de redução da maioridade penal divide especialistas. De um lado, há a ideia de que adolescentes menores de 18 anos têm discernimento para entender que estão cometendo crimes. Portanto, segundo os defensores da redução da maioridade, esses jovens devem ser punidos de acordo com a gravidade do ato.
Por outro lado, defensores da manutenção da maioridade em 18 anos argumentam que a redução da idade para responsibilização penal é uma medida simplista, que pode gerar ainda mais problemas para a segurança pública. Para eles, é preciso ampliar políticas sociais de proteção aos jovens.
Professor da Universidade de Brasília, sociólogo e estudioso da segurança pública, Antônio Flávio Testa defende que os crimes devem ser punidos de acordo com a sua gravidade, independentemente da idade de quem cometeu. “Sempre há discussão em torno de quem cometeu crimes, mas não na família das vítimas. Dizer que, pela idade, uma pessoa é menos perigosa, é falacioso”, afirmou.

A Crise da Sociedade Civil


<br>Fonte: Revista Forum/Reprodução O ponto a que chegou a sociedade civil é resultado da perigosa combinação de uma imprensa que atua politicamente como partido de oposição e de um governo que hesita em agir e não se comunica com eficiência. O resultado é a perda da conexão entre as instituições republicanas e a população, cujas reações passam a ser comandadas pelo discurso coeso, adjetivado e perturbador da mídia
Qual o tamanho da crise política que atinge o Brasil? Essa questão não pode ser respondida pela imprensa, em seu núcleo duro, porque a mídia tradicional, como instituição corporativa, é protagonista central no desenvolvimento dos fatos que conduziram ao atual estado de conflagração que divide os brasileiros. Portanto, é parte interessada na elevação da temperatura e no processo de isolamento do governo.
O ponto de paroxismo a que foi levada a chamada sociedade civil nas últimas semanas é resultado da perigosa combinação de uma imprensa que atua politicamente como partido de oposição e de um governo que hesita em agir e não se comunica com eficiência. O resultado é a perda da conexão entre as instituições republicanas e a população, cujas reações passam a ser comandadas pelo discurso coeso, adjetivado e perturbador da mídia.
O poder central insiste em articular uma narrativa linear, racional, mas há cada vez menos ouvidos disponíveis para a racionalidade. A massa não reflete em torno de ponderações – ela apenas reage a gritos, palavras de ordem, estímulos emocionais. E a imprensa brasileira tem se especializado nesse tipo de linguagem, num esforço intenso e cotidiano para convencer o cidadão de que o país é hoje pior do que era há dez ou vinte anos.
Objetivamente, não há sintomas que comprovem essa crença – apesar dos indicadores que apontam a deterioração das contas públicas, a perda do real frente ao dólar e a oscilação de preços, as medidas anunciadas há um mês são consideradas adequadas pela maioria dos analistas e os fundamentos da economia não justificam a percepção geral de um desastre.
Os grandes bancos internacionais, ao situar o Brasil numa posição de alta vulnerabilidade entre os principais países emergentes, colocam entre as grandes causas de preocupação o aumento dos juros nos Estados Unidos, a retomada do crescimento na Europa e no Japão e a desaceleração da economia chinesa. Há, portanto, mais lógica nas explicações do governo do que no discurso predominante na mídia – e não são poucos os analistas, principalmente aqueles comprometidos com o setor produtivo, que estão preocupados com a contaminação da economia pela crise política.
A seara da irracionalidade
A crise política é, essencialmente, uma obra da mídia hegemônica, cujo objetivo de negócio é interromper a trajetória da aliança liderada pelo Partido dos Trabalhadores, que assumiu o poder central em 2002.
E por que fazer a distinção entre “sociedade civil” e “população”? Porque toda ação de comunicação, para ter eficiência, precisa definir um objeto, ou receptor, e não pode ser dirigida a um alvo difuso como a sociedade em geral ou a população como um todo.
O processo de influência por meio da comunicação de massa precisa ser dirigido a alvos específicos, que só podem ser identificados no campo a que se convencionou chamar “sociedade civil”. Foi assim, por exemplo, na Constituinte de 1988, desenhada para agradar ao que era, na época, a parte da população representada por sindicatos patronais e de empregados, conselhos profissionais e setores protegidos por lobistas. Naquele período, quase 50% da população vivia, como se diz, da mão para a boca, e não era parte da chamada “sociedade civil organizada”.
Essa é a origem dos vícios da política institucional na nossa democracia. E é esse o objeto da ação comunicacional da mídia, ao desenvolver uma campanha pelo aliciamento das classes de renda média, que naturalmente se sentem fragilizadas com o discurso apocalíptico martelado diariamente na imprensa escrita, nos telejornais e em programas de rádio.
O PT também é fruto da Constituição corporativista, e a principal causa de seus êxitos eleitorais é a inserção de grandes camadas de excluídos no campo chamado de sociedade civil. Para reverter o resultado das urnas, a imprensa partidarizada procura romper essa conexão.
As bases do PT, se não batem panelas, se manifestam pelo silêncio. O governo eleito por elas tenta agradar os setores conservadores da “sociedade civil” representados pela mídia tradicional, e pede compreensão e paciência aos que irão pagar a conta. Na massa, consolida-se a convicção de que até mesmo a falta de água ou a lotação dos ônibus depois de um jogo de futebol é culpa da presidente da República, como se ouviu de torcedores no domingo (8/3) em São Paulo.
O grande trunfo da mídia é a irresponsabilidade, a disposição de ir fundo no cultivo da irracionalidade.
Não há luz no fim desse túnel.
Texto: Luciano Martins Costa(Observatório da Imprensa)

Fonte: Revista Forum

Como desmontar o ódio social


Estamos constatando que vigora atualmente muito ódio e raiva na sociedade, seja pela situação geral de insatisfação que perpassa a humanidade, mergulhada numa profunda crise civilizacional, sem que ninguém nos possa dizer como seria a sua superação e para onde este voo cego nos poderia conduzir. O inconsciente coletivo detecta este mal-estar como já antes Freud o descrevera em seu famoso texto O mal estar na cultura (1929-1930) e que, de alguma forma, previa os sinais de uma nova guerra mundial.
O nosso mal-estar é singular e se deriva das várias vitórias do PT com suas políticas de inclusão social que beneficiaram 36 milhões de pessoas e elevaram 44 milhões à classe média. Os privilegiados históricos, a classe alta e também a classe média se assustaram com um pouco de igualdade conseguida pelos do andar de baixo.  O fato é que, por um lado vigora uma concentração espantosa de renda e, por outro, uma desigualdade social que se conta entre as maiores do mundo. Essa desigualdade, segundo Marcio Pochmann no segundo volume de seu Atlas da Exclusão social no Brasil (Cortez 2014) diminuiu significativamente nos últimos dez anos mas é ainda muito profunda, fator permanente de desestabilização social.
Como notou bem o economista e bom analista social, do partido do PSDB, Luiz Carlos Bresser Pereira, o que foi assumido em sua coluna dominical (8/3) por Verissimo, tal fato fez surgir um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos a um partido e a um presidente; não é preocupação ou medo; é ódio; a luta de classes voltou com força; não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.
Estimo correta esta interpretação que corrobora o que escrevi neste espaço com dois artigos "O que se esconde atrás do ódio ao PT". É a emergência de milhões que eram os zeros econômicos e que começaram ganhar dignidade e espaços de participação social, ocupando os lugares antes exclusivos das classes beneficiadas. Isso provocou raiva e ódio aos pobres, aos nordestinos, aos negros e aos membros da nova classe média.
O problema agora é: como desmontar este ódio? Uma sociedade que deixa esse espírito se alastrar, destrói os laços mínimos de convivência sem os quais ela não se sustenta. Corre o risco de romper o ritmo democrático e instaurar a violência social. Depois das amargas experiências que tivemos de autoritarismo e da penosa conquista da democracia, devemos, por todos os modos, evitar as condições que tornem o caminho da violência, incontrolável ou até irreversível.
Em primeiro lugar, na linha sábia de Bresser Pereira, faz-se urgente um novo pacto social que vá além daquele criado pela constituição de 1988, pacto que reuna empresários, trabalhadores, movimentos sociais, meios de comunicação, partidos e intelectuais  que distribua melhor os ônus da superação da atual crise nacional (que é global) e que, claramente convoque os rentistas e os grandes ricos, geralmente articulados com os capitais transnacionais a darem a sua contribuição.
Deve-se mudar não apenas a música mas também a letra. Em outras palavras, importa pensar mais no Brasil como nação e menos nos partidos. Estes devem dar centralidade ao bem geral e unir forças ao redor de alguns valores e princípios fundamentais, buscando convergências na diversidade, em função de um projeto-Brasil viável e que torne menos perversa a desigualdade, outro nome, para a injustiça social.
Estimo que amadurecemos para esta estratégia do ganha-ganha coletivo e que seremos capazes de evitar o pior e assim não gastar tempo histórico que nos faria ainda mais retardatários face ao processo global de desenvolvimento social e humano na fase planetária da humanidade.
Em segundo lugar, creio na força transformadora do amor como vem expresso na Oração de São Francisco: onde houver ódio que eu leve o amor. O amor aqui é mais que um afeto entre duas pessoas; ele ganha uma feição coletiva e social: o amor a uma causa comum, amor ao povo como um todo, especialmente, àqueles mais penalizados pela vida, amor à nação (precisamos de um sadio nacionalismo), amor como capacidade de escutar as razões do outro, como abertura ao diálogo e à troca.
Se não encontrarmos nem escutarmos o outro, como vamos saber o que pensa e pretende fazer? Ai começamos a imaginar e a projetar visões distorcidas, alimentar preconceitos e destruímos as pontes possíveis que ligam as margens diferentes.
Precisamos dar mais espaço à nossa cordialidade positiva (pois há também a negativa) que nos permite sermos mais generosos, capazes de olhar para frente e para cima e deixar para trás o que ficou para trás e não deixar que o ressentimento alimente a raiva, a raiva o ódio e o ódio, a violência que destrói a convivência e sacrifica vidas.
As igrejas, os caminhos espirituais, os grupos de reflexão e ação, especialmente a mídia e todas as pessoas de boa-vontade podem colaborar no desmonte desta carga negativa. E contamos para isso com a força integradora dos contrários que é o Espírito Criador que perpassa a história e a vida pessoal de cada um.
Texto: Leonardo Boff ( Teólogo, filósofo e autor de: "A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual" entre diversos outras publicações)

Fonte: Carta Maior

João 2.13-22: Jesus expulsa os comerciantes do templo [Pa. Evelyne Regina Goebel]




Para os judeus, o templo era o lugar privilegiado de encontro com Deus. Ali, colocavam-se as ofertas e sacrifícios levados pelos judeus do mundo inteiro, formando, assim, um verdadeiro tesouro, administrado pelos sacerdotes. A casa de oração tornara-se lugar de comércio e de poder, disfarçados em culto piedoso.
Expulsando os comerciantes, Jesus denuncia a opressão e a exploração dos pobres pelas autoridades religiosas. Prevendo a ruína do templo, ele mostra que essa instituição religiosa já estava falida. Doravante, o verdadeiro Templo é o corpo de Jesus, que é morto, mas ressuscita. Deus não quer habitar em edifícios, mas na própria pessoa. O apóstolo Paulo afirma que nosso corpo é templo do Espírito Santo (cf. 1Cor 3.16; 6.20).
O Evangelho de João é conhecido como “Evangelho do amor”. Nesse relato, no entanto, ele apresenta Jesus em um momento de ira, de revolta. João aponta para um Jesus humano, que também teve seus momentos de raiva e indignação. Ele estava ali para cuidar da casa de seu Pai, para mudar práticas.

Jo 3.14-21: Quem não crer já está condenado. Condenado a quê? [Edmilson Schinelo]





O texto do evangelho a ser proclamado neste domingo (Jo 3,14-21) traz uma bonita e ao mesmo tempo controversa frase: Deus amou o mundo de tal maneira que entregou seu Filho único para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3,16). Tamanho foi o amor de Deus que nos deu seu único filho! Mas por que o mesmo Deus que proibiu o sacrifício de Isaac (Gn 22) entregaria seu próprio filho? Queria o pai que seu Filho fosse morto por nós? Se não queria, por que permitiu isso? Era necessário que o Filho do Homem fosse levantado no madeiro (Jo 3,14)?
Sabemos que o quarto evangelho teve sua redação já no final do primeiro século, momento em que muita gente vinha entregando a vida pela causa do Evangelho, no serviço aos pobres, na partilha dos bens e até mesmo no enfrentamento com o Império Romano, por meio do martírio. Por outro lado, não era pequeno o grupo que contestava essa postura: para seguir Jesus bastava buscar a "iluminação", abrir-se ao conhecimento, à gnose. Para quem assim pensava, o logos era luz a ser atingida pelo esforço do intelecto, não pela prática concreta. Corrigindo esta distorção, o quarto evangelho afirma já em seu prólogo: o verbo, a luz verdadeira, fez-se carne, gente de fato, viveu acampado no nosso meio! (Jo 1, 9.14).
Procurando Jesus às escondidas
De acordo com as narrativas joaninas, havia um grupo de pessoas simpáticas ao projeto de Jesus, mas com dificuldades de assumir publicamente essa postura. Tais pessoas sempre procuravam Jesus às escondidas (Jo 3,2) e por isso a tradição os apelidou de cripto-cristãos.

De quem é a responsabilidade pela chacina em Conceição do Araguaia?




Na madrugada do último dia 17, seis pessoas de uma mesma família - o casal Washington Silva e Lidiane Souza e mais 4 crianças - foram barbaramente assassinadas, no interior da fazenda Estiva, localizada no município de Conceição do Araguaia (PA). Os autores da violência, que alegavam serem donos do lote ocupado pela família, assassinaram todos que se encontravam na casa, usando de extrema crueldade e sem dar qualquer chance de defesa para as vítimas. Até o momento, a polícia não conseguiu prender todos os envolvidos nas mortes.

Frente a uma violência tão brutal que ceifou a vida de pessoas inocentes, que chocou e revoltou a opinião pública,  a pergunta que precisa ser respondida é: de quem é a responsabilidade pelas mortes na fazenda Estiva?

Analisando as causas que resultaram no conflito, não há dúvidas, que a responsabilidade pelas mortes vai além daqueles que praticaram o ato criminoso. Recai também sob a péssima atuação do INCRA e da Justiça Federal no sul e sudeste do Pará. Em relação à atuação do  INCRA é preciso esclarecer que a inoperância do órgão e o despreparo de muitos de seus gestores para atuarem em situações de conflito, tem sido uma das principais causas da ocorrência de situações de violência contra os trabalhadores em muitas ocupações.

A ocupação da fazenda Estiva se arrasta por mais de 8 anos sem que o órgão tenha conseguido resolver o conflito e promover o assentamento das famílias. Na área de abrangência da Superintendência do INCRA de Marabá,  existe hoje, mais de 100 fazendas ocupadas por cerca de 12 mil famílias que aguardam para serem assentadas. A grande maioria dessas ocupações já se arrasta por mais de 10 anos sem que o conflito tenha sido solucionado. Essa inoperância do órgão possibilita que situações de violência como a que ocorreu na fazenda Estiva ocorra em outras áreas colocando em risco centenas de famílias sem terra.

Índice de homicídios na adolescência – embate difícil e crucial




Continuam alarmantes os índices de violência e letalidade que se abate sobre a adolescência e juventude brasileiras. Sim que se abate, porque a juventude, em especial a juventude negra é abatida diariamente por acertos entre gangues, controle das ‘bocas de tráfico’, a segurança privada – muitas vezes exercidas por policiais em suas folgas e pelo aparato policial. Isto acontece lá nas periferias, enquanto grande parte da população nem se dá conta. É o que revela a pesquisa sobre Índices de Homicídios de Adolescentes (IHA) em 2012, conforme documento oficialmente divulgado no final de janeiro pelo governo federal, em parceria com a UNICEF, Observatório de Favelas e Laboratório de Análise de Violência da Universidade do Rio de Janeiro.

Mc 1, 12-15: A Boa Nova é testada e provada no deserto. [Mesters e Lopes]


<br>Fonte: Jesus Mafa
Depois do batismo, o Espírito de Deus toma conta de Jesus e o empurra para o deserto, onde ele se prepara para a missão (Mc 1,12s). Marcos diz que Jesus esteve no deserto 40 dias e que foi tentado por Satanás. Em Mateus 4,1-11 se explicita a tentação: tentação do pão, tentação do prestígio, tantação do poder. Foram três tentações que derrubaram o povo no deserto, depois da saída do Egito (Dt 8,3; 6,16; Dt 6,13). Tentação é tudo aquilo que afasta alguém do caminho de Deus.
Orientando-se pela Palavra de Deus, Jesus enfrentava as tentações e não se deixava deviar (Mt 4,4.7.10). Ele é igual a nós em tudo, até nas tentações, menos no pecado (Hb 4,15). Inserido no meio dos pobres e unido ao Pai pela oração, fiel a ambos, ele resistia e seguia pelo caminho do Messias-Servidor, o caminho do serviço a Deus e ao povo (Mt 20,28).
ALARGANDO
A semente da Boa Notícia, o início do anúncio do Evangelho na América Latina
Marcos inicia dizendo como foi o começo. Você esperaria de Marcos uma data bem precisa. Em vez disso, recebe uma resposta aparentemente confusa. Para descrever esse começo, Marcos cita Isaías e Malaquias (Mc 1,2-3). Fala de João Batista (Mc 1,4-5). Alude ao profeta Elias (Mc 1,4). Evoca a profecia do Servo de Javé (Mc 1,11) e as tentações do povo no deserto, depois da saída do Egito (Mc 1,13). Você pergunta: "Mas afinal, o começo foi quando: na saída do Egito, no deserto, em Moisés, em Elias, em Isaías, em Malaquias, em João Batista?" O começo, a semente pode ser tudo isso ao mesmo tempo. O que Marcos quer sugerir é que olhemos a nossa história com outros olhos. O começo a semente da Boa Nova de Deus, está escondida dentro da vida da gente, dentro do nosso passado, dentro da história que vivemos.