"As igrejas cristãs têm um papel importante junto às
comunidades na defesa dos bens comuns, do direito à autodeterminação no
uso dos territórios e do direito intergeracional a uma relação viva e
respeitosa com a Criação inteira", escreve Pe. Dário Bossi, missionário
comboniano.
Eis o artigo:
O Fórum Social Mundial (FSM) é uma intuição dos
movimentos sociais de diversas partes do mundo que entende contrapor à
globalização econômico-financeira uma articulação daqueles que sonham,
pensam e constroem um “outro mundo possível”.
Algo que se parece, em chave cristã, à “Globalização
da Solidariedade”, que hoje papa Francisco interpreta como um urgente
compromisso da Igreja frente ao pecado social do capitalismo, que gera
desigualdades e descarta a pessoas e a criação.
Desde 2001, o FSM reúne militantes dos mais diversos
movimentos, entidades e organizações sociais para debater a conjuntura,
os desafios sociais, econômicos e políticos e as possíveis alianças
entre quem trabalha junto às comunidades afetadas por esse modelo de
desenvolvimento.
Nesse mês de março de 2015, a articulação
latino-americana Iglesias y Minería participará ao FSM apresentando sua
história e objetivos e tentando fortalecer a interação com outras forças
para denunciar as violações provocadas pelo modelo extrativista no
mundo.
Iglesias y Minería (IyM) é uma rede cristã ecumênica,
nascida em 2013 por intuição de um grupo de religiosas/os, leigas/os já
comprometidos frente à mineração, mas com a necessidade de buscar
alianças em vista de uma maior proteção frente à criminalização e de uma
maior incidência junto à hierarquia das igrejas e às instituições
internacionais de defesa dos direitos humanos e ambientais.
Em dezembro de 2014, IyM realizou um encontro
internacional em Brasília, com a participação de cerca cem pessoas dos
diversos países do continente americano. A partir desse encontro,
fortaleceram-se articulações velhas e novas, em particular uma
significativa aliança com a Red Eclesial Panamazonica e uma interação
com o Pontifício Conselho Justiça e Paz, na esperança de poder realizar
em Vaticano um encontro das comunidades latinoamericanas atingidas por
mineração.
As igrejas cristãs têm um papel importante junto às
comunidades na defesa dos bens comuns, do direito à autodeterminação no
uso dos territórios e do direito intergeracional a uma relação viva e
respeitosa com a Criação inteira.
Para assumir essa missão, urgente e por muitos
aspetos nova e desafiadora, as igrejas precisam desconstruir algumas
categorias bíblico-teológicas que, influenciadas por culturas
antropocêntricas e utilitaristas, consideram a criação como um conjunto
de recursos à disposição do desenvolvimento humano. Também, as igrejas
devem saber pedir perdão pelas violações e a cultura da exploração que
elas próprias instituíram ou legitimaram ao longo dos séculos.
Por outro lado, essas mesmas igrejas devem valorizar
sua presença capilar e permanente ao lado dos mais pobres, escolha
preferencial e inspiração profética de seus posicionamentos.
Nesse sentido, as comunidades cristãs podem
representar o elemento de proximidade e continuidade na denúncia das
violações socioambientais e no acompanhamento das reivindicações das
comunidades, bem como dos processos de construção de alternativas ou de
defesa das práticas ancestrais que preservam a Mãe Terra.
Por ocasião do FSM, haverá em particular duas
oficinas em que esses temas serão abordados, tentando gerar novas
alianças e definir estratégias conjuntas: uma analisará a conexão entre
mineração e mudanças climáticas, contribuindo ao processo preparatório
da importante Conferência sobre o clima (COP 21, Paris dezembro de
2015); outra reunirá Iglesias y Minería, o World Council of Churches e
CIDSE num debate sobre o papel das igrejas frente à mineração, que será
aberto por uma provocação do monge brasileiro Marcelo Barros.
Temos certeza que essa seja uma frente urgente e
importante para a caminhada ecumênica das igrejas e aguardamos com
ansiedade, nesse espírito, a encíclica do Papa Francesco sobre “ecologia
humana”, prestes a ser publicada.
Fonte: IHU Online
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