No tempo de Jesus, vários movimentos de renovação
buscavam uma nova maneira de viver em comunidade. Esses movimentos
tinham também seus missionários (cf. Mt 23,15). Contudo, estes não
confiavam na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Por
isso, levavam comida na sacola. Mas os discípulos e as discípulas de
Jesus recebem recomendações diferentes, que ajudam a entender aspectos
importantes da missão de anunciar a boa-nova:
1º – Deviam ir sem nada. Não podiam levar bolsa, nem
ouro, nem prata, nem dinheiro, nem bastão, nem sandálias, nem sequer
duas túnicas. Jesus pede para eles e elas confiarem na hospitalidade do
povo e acreditarem que serão bem recebidos. Com esta atitude, os
discípulos e as discípulas criticavam as leis de exclusão ensinadas
pela religião oficial e mostravam, pela nova prática, que tinham outros
critérios de vida em comunidade.
2º – Deviam comer o que o povo lhes desse e não ir
comer separado. Comendo junto com os pobres, os discípulos e as
discípulas de Jesus estavam realizando um aspecto fundamental da missão
de Jesus: criar comunhão de mesa. Para a religião do templo, comer
junto com estrangeiros, pecadores, mulheres, deficientes físicos, etc.
era um perigo. Ao comer juntos, eles se contagiariam com a impureza
dessas pessoas. Jesus os ensina a não ter medo de perder a pureza, tal
como era ensinada na época. Eles tinham outro acesso à intimidade com
Deus.
3º – Deviam ficar hospeda dos na primeira casa que
aceitasse a paz para conviver de maneira estável e não andar de casa em
casa. Ao permanecer na mesma casa, deviam participar da vida e do
trabalho das pessoas que os acolhessem, recebendo em troca casa e
comida.
Essa postura dos discípulos e das discípulas tem dois objetivos:
a) confiar na partilha do povo e
b) criar laços profundos de convivência no trabalho,
na oração e na escuta da boa-nova. Isto também explica a severidade da
crítica contra os que recusavam a mensagem (6,11), pois não recusavam
algo novo, mas, sim, o seu próprio passado, quando viviam em
comunidade.
4º – Deviam dar uma atenção especial às pessoas
doentes e fragilizadas: expulsar demônios e curar os doentes,
ungindo-os com óleo (6,13). Esta ação gratuita dos discípulos e das
discípulas era um sinal da chegada do Reino de Deus. Para demonstrar a
força de vida que a chegada amorosa de Deus estava realizando, deviam
tocar as pessoas, como fazia Jesus, que segurou a mão da sogra de Simão
(1,30); tocou no leproso (1,41); pegou a filha de Jairo pela mão
(5,41); deu a mão ao cego de Betsaida e o conduziu para fora do povoado
(8,23), com delicada atenção. Desta maneira, os discípulos e as
discípulas irão tocar os corações das pessoas para que se experimentem
acolhidas e amadas por Deus. Essa experiência resgata a vontade de
viver e realiza a cura a partir do coração.
Estes eram os quatro pontos básicos que deviam
marcar a atitude dos missionários e das missionárias que anunciavam a
boa-nova de Deus em nome de Jesus: hospitalidade, comunhão de mesa,
partilha e acolhida às pessoas excluídas. Se estas quatro exigências
fossem preenchidas, eles e elas podiam e deviam gritar aos quatro
ventos: “O Reino chegou!” (Mc 6,7-13). Pois o Reino de Deus que Jesus
nos revelou não é uma doutrina, nem um catecismo, nem uma lei. O Reino
de Deus acontece e se faz presente quando as pessoas, motivadas pela
sua fé em Jesus, decidem conviver em comunidade para, assim,
testemunhar e revelar a todos que Deus é Pai e Mãe e que, portanto, nós,
seres humanos, somos irmãos e irmãs uns dos outros.
Fonte: Discípulos e discípulas de Jesus no Evangelho de Marcos [Mercedes Lopes]
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