A
questão da juventude e da violência é debatida pela sociedade de maneira
parcial e não leva em conta aspectos estruturais, como o meio em que esses
jovens vivem; seus parâmetros sociais, econômicos e familiares. Segundo o sociólogo
e colaborador do Centro de Pesquisa e Apoio ao Trabalhador (Cepat), Jonas Jorge
da Silva, ao se discutir sobre juventude e criminalidade, deve-se levar em
conta, principalmente, a visão que o jovem tem sobre o problema. “De nada
adianta discutirmos sobre juventude e criminalidade, sem antes ouvirmos a voz
desses jovens. Daqueles que estão calados e ocultos perante a grande massa de
informação. Ouvindo-os, o debate será, enfim, verdadeiro”, afirma.
MAPA DA
VIOLÊNCIA
De 92
países participantes do ranking de homicídios entre crianças e adolescentes, o
Brasil é
o 4º colocado. Ao analisar os estados brasileiros, o Paraná ocupa a 9ª
colocação, sendo que sua capital é a 6ª mais violenta do país, com uma taxa de
55,9 homicídios para cada 100 mil habitantes. Em dez anos, mais de 526 mil
jovens foram exterminados: isso equivale à soma das populações de Piraquara,
Pinhais, Fazenda Rio Grande e Colombo, cidades da Região Metropolitana de
Curitiba. Homicídio, acidente de trânsito e suicídio. Juntos, esses três fatores
são responsáveis por 62,8% das mortes dos jovens brasileiros. Em 2010, 26.854
mil jovens entre 15 e 29 anos, foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do
total. A chance de um jovem entre 15 e 29 anos morrer é 2,5% mais alta do
que um adulto. É o que revela estudo do Ministério da Justiça feito em
colaboração com o Instituto Sangari.
Mas,
afinal, porque o jovem é visto como causador da violência, sendo que é a maior
vítima? “Falta ainda, em nossa sociedade, uma compreensão da juventude: ela não
é reconhecida como agente, nem na diversidade de seus grupos atuantes.
Precisamos apostar em ações afirmativas e de políticas públicas que contemplem
os (as) jovens. As políticas públicas de juventude buscam avançar para além de
temas, como violência ou sexualidade e combater o estereótipo que quer criminalizar a juventude”,
ressalva o articulador da Casa da Juventude do Paraná(associação sem fins
lucrativos de apoio à evangelização da juventude, promoção de vida, inserção
social, defesa dos direitos fundamentais e lutas pela efetivação das políticas
públicas para a juventude),Geraldo Paulo Pires.
A
juventude que morre hoje tem um perfil, sabe-se que sexo ela tem, de onde vem e
onde mora. O jovem exterminado hoje é negro, do sexo masculino e morador da
periferia. Em dados, 74,6% dos
jovens assassinados são negros, e 91,3% das vítimas de homicídio são do sexo
masculino. “A juventude está sendo exterminada. A maioria dos jovens não está
morrendo mais devido a fatores naturais, estão morrendo devido às drogas, as armas
e os acidentes de trânsito”, ressalta Pires.
É
difícil pensar em uma realidade comum entre os jovens, já que a juventude tem
consigo a diversidade e as diferentes formas de expressão. “Um dos fatores em
comum entre a juventude é a criminalização do jovem. Um jovem que comete
delitos é julgado como marginal, mesmo se não conhecesse sua realidade e os
fatores que o levaram a incumbir tal ato”, diz a advogada Tailaine Cristina
Costa.
“A
sociedade vive hoje uma realidade individualista, sendo que esse individualismo
leva as pessoas ao desequilíbrio”, afirma Pires. Segundo sociólogos, a cultura
da paz deve ser construída com o jovem, e não para o jovem. “A cultura do
bem-viver nada mais é do que debater questões e conhecer o lado da juventude,
sabendo suas necessidades e o que ela faz”. A cultura da paz é uma cultura
pouco debatida e é uma maneira de se viver integrado com as pessoas e com o
espaço em que se vive. Uma cultura em que não se aprenda a revidar, mas sim, a
dialogar com as pessoas, estabelecendo assim, uma relação mais harmônica com o
meio.
Creditos Rafaela Bez
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