quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O lado B da questão O estereótipo da juventude agente da violência

A questão da juventude e da violência é debatida pela sociedade de maneira parcial e não leva em conta aspectos estruturais, como o meio em que esses jovens vivem; seus parâmetros sociais, econômicos e familiares. Segundo o sociólogo e colaborador do Centro de Pesquisa e Apoio ao Trabalhador (Cepat), Jonas Jorge da Silva, ao se discutir sobre juventude e criminalidade, deve-se levar em conta, principalmente, a visão que o jovem tem sobre o problema. “De nada adianta discutirmos sobre juventude e criminalidade, sem antes ouvirmos a voz desses jovens. Daqueles que estão calados e ocultos perante a grande massa de informação. Ouvindo-os, o debate será, enfim, verdadeiro”, afirma.

MAPA DA VIOLÊNCIA
De 92 países participantes do ranking de homicídios entre crianças e adolescentes, o Brasil é
o 4º colocado. Ao analisar os estados brasileiros, o Paraná ocupa a 9ª colocação, sendo que sua capital é a 6ª mais violenta do país, com uma taxa de 55,9 homicídios para cada 100 mil habitantes. Em dez anos, mais de 526 mil jovens foram exterminados: isso equivale à soma das populações de Piraquara, Pinhais, Fazenda Rio Grande e Colombo, cidades da Região Metropolitana de Curitiba. Homicídio, acidente de trânsito e suicídio. Juntos, esses três fatores são responsáveis por 62,8% das mortes dos jovens brasileiros. Em 2010, 26.854 mil jovens entre 15 e 29 anos, foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total. A chance de um jovem entre 15 e 29 anos morrer é 2,5% mais alta do que um adulto. É o que revela estudo do Ministério da Justiça feito em colaboração com o Instituto Sangari.
Mas, afinal, porque o jovem é visto como causador da violência, sendo que é a maior vítima? “Falta ainda, em nossa sociedade, uma compreensão da juventude: ela não é reconhecida como agente, nem na diversidade de seus grupos atuantes. Precisamos apostar em ações afirmativas e de políticas públicas que contemplem os (as) jovens. As políticas públicas de juventude buscam avançar para além de temas, como violência ou sexualidade e combater o estereótipo que quer criminalizar a juventude”, ressalva o articulador da Casa da Juventude do Paraná(associação sem fins lucrativos de apoio à evangelização da juventude, promoção de vida, inserção social, defesa dos direitos fundamentais e lutas pela efetivação das políticas públicas para a juventude),Geraldo Paulo Pires.
A juventude que morre hoje tem um perfil, sabe-se que sexo ela tem, de onde vem e onde mora. O jovem exterminado hoje é negro, do sexo masculino e morador da periferia. Em dados, 74,6% dos jovens assassinados são negros, e 91,3% das vítimas de homicídio são do sexo masculino. “A juventude está sendo exterminada. A maioria dos jovens não está morrendo mais devido a fatores naturais, estão morrendo devido às drogas, as armas e os acidentes de trânsito”, ressalta Pires.
É difícil pensar em uma realidade comum entre os jovens, já que a juventude tem consigo a diversidade e as diferentes formas de expressão. “Um dos fatores em comum entre a juventude é a criminalização do jovem. Um jovem que comete delitos é julgado como marginal, mesmo se não conhecesse sua realidade e os fatores que o levaram a incumbir tal ato”, diz a advogada Tailaine Cristina Costa.
“A sociedade vive hoje uma realidade individualista, sendo que esse individualismo leva as pessoas ao desequilíbrio”, afirma Pires. Segundo sociólogos, a cultura da paz deve ser construída com o jovem, e não para o jovem. “A cultura do bem-viver nada mais é do que debater questões e conhecer o lado da juventude, sabendo suas necessidades e o que ela faz”. A cultura da paz é uma cultura pouco debatida e é uma maneira de se viver integrado com as pessoas e com o espaço em que se vive. Uma cultura em que não se aprenda a revidar, mas sim, a dialogar com as pessoas, estabelecendo assim, uma relação mais harmônica com o meio.

                                                                        Creditos     Rafaela Bez

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