A justiça do Reino é mais exigente que a do ser humano. Por isso, “se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mateus 5,20). Escribas e fariseus também praticavam a lei por medo de Deus.
Diferentemente, Jesus propõe que o amor seja a motivação última. Se fariseus cumpriam estritamente a letra da lei, Jesus propõe a seus discípulos e a suas discípulas a irem além da letra e discernirem por onde passa o Espírito de Deus, a fim de cortarem os males pela raiz. Jesus exige que a prática da justiça seja levada à plenitude, à perfeição do próprio Deus, de modo que proporcione a todas as pessoas vida e liberdade.
Depois de uma introdução em que Jesus anuncia que veio cumprir as Escrituras (Lei e Profetas), dando-lhes pleno cumprimento e propondo uma justiça maior (Mateus 5,17-20; cf. v. 20), a comunidade de Mateus apresenta cinco situações de como levar a antiga lei à perfeição do amor do Pai:
1) O perdão e a reconciliação superam a raiva e o ódio (Mateus 5,21-26);
2) O amor fiel e a pureza de coração afastam o adultério e a cobiça (Mateus 5,27-32);
3) A coerência e a autenticidade vencem a incoerência (Mateus 5,33-37);
4) A não-violência suplanta a violência (Mateus 5,38-42);
5) O amor e a oração removem o ódio ao inimigo (Mateus 5,43-48).
O texto de hoje refere-se aos dois últimos casos, e que são o ponto alto, a justiça maior dessa reflexão de Jesus sobre a lei.
A não-violência suplanta a violência (Mateus 5,38-42)
A antiga lei do talião autorizava a vingança como forma de fazer justiça (Êxodo 21,24; Levítico 24,20; Deuteronômio 19,21), propondo um castigo proporcional ao prejuízo causado. Ao mesmo tempo, a lei do talião queria evitar uma vingança exagerada, impedindo, assim, abusos de toda ordem que gerariam uma espiral de violência sem fim.
Jesus dá um passo além e propõe uma nova atitude. A resistência proposta por Jesus ataca o mal pela raiz. Não é uma atitude violenta que corta o círculo da violência. Esta, ao contrário, alimenta o ódio, gerando ainda mais violência. A postura que Jesus apresenta é pagar o mal com o bem. Ele propõe não usar os mesmos métodos agressivos dos violentos, mas desarmá-los com atitudes que os desinstalem. Oferecer a outra face (Mateus 5,39), na verdade, é responder à violência com atitudes de gratuidade e de partilha, de generosidade e de solidariedade (Mateus 5,40-42).
Jesus propõe uma resistência digna aos ataques injustos, da mesma forma como ele mesmo fez ao ser agredido por um guarda do templo: “Se falei mal, mostre o que há de mal. Mas se falei bem, por que você bate em mim?” (João 18,22-23).
O amor e a oração removem o ódio ao inimigo (Mateus 5,43-48)
Jesus faz memória da lei antiga: “Amarás o teu próximo”. Levítico 19,18 ainda acrescenta “como a ti mesmo”. É a partir dessa antiga lei e de Deuteronômio 6,4-5 que Jesus formula o mandamento do amor, segundo os evangelhos sinóticos (Mateus 22,37-40; Marcos 12,29-31; Lucas 10,27-28).
É bom lembrar que em nenhuma parte da Bíblia se encontra “e odiarás o teu inimigo”. No entanto, há recomendações, tais como, ajudar o compassivo, o bom e o humilde, mas não acolher nem ajudar o pecador e o ímpio (Eclesiástico 12,4-7). É possível que Jesus quisesse lembrar que, diferentemente da obrigação de amar o seu irmão de fé, não era obrigação para o judeu amar os seus inimigos.
Na sequência, Jesus anuncia a novidade da justiça do Reino: “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem” (Mateus 5,44). O ódio não liberta ninguém. Pelo contrário, quebra ainda mais as relações humanas e prejudica imensamente a quem odeia, causando-lhe, inclusive, doenças. Somente um amor maior, fruto da oração, da íntima comunhão com Deus, é capaz de amar até mesmo pessoas inimigas.
Nisso está o que diferencia as pessoas seguidoras de Jesus das demais. Sua prática precisa ir além do comum, do ordinário. E Jesus cita os exemplos de publicanos, que somente amam aqueles que os amam (Mateus 5,46), e de pagãos, que somente saúdam a sua gente (Mateus 5,47). Nisso, porém, não há nada de extraordinário.
Somente vivendo uma justiça maior, seremos parecidos com o Pai, como filhas e filhos, uma vez que “ele faz nascer o sol sobre bons e maus” (Mateus 5,45) e “criou todo o ser humano à sua imagem” (cf. Gênesis 1,26-27).
Daí, o convite final, e ao mesmo tempo conclusão e chave que dá sentido à nova lei anunciada e vivida por Jesus (Mateus 5,17-47). Esse convite ainda soa forte para nós hoje: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,48). ‘Perfeito’ tem o sentido de ‘íntegro’, de ser parecido com o Pai, de ser como o próprio Pai. Lucas formula da seguinte forma esse mesmo convite da antiga lei (Levítico 19,2): “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lucas 6,36). Portanto, a comunidade de Mateus nos convoca a amarmos na mesma intensidade do amor de Deus.
O texto de hoje refere-se aos dois últimos casos, e que são o ponto alto, a justiça maior dessa reflexão de Jesus sobre a lei.
A não-violência suplanta a violência (Mateus 5,38-42)
A antiga lei do talião autorizava a vingança como forma de fazer justiça (Êxodo 21,24; Levítico 24,20; Deuteronômio 19,21), propondo um castigo proporcional ao prejuízo causado. Ao mesmo tempo, a lei do talião queria evitar uma vingança exagerada, impedindo, assim, abusos de toda ordem que gerariam uma espiral de violência sem fim.
Jesus dá um passo além e propõe uma nova atitude. A resistência proposta por Jesus ataca o mal pela raiz. Não é uma atitude violenta que corta o círculo da violência. Esta, ao contrário, alimenta o ódio, gerando ainda mais violência. A postura que Jesus apresenta é pagar o mal com o bem. Ele propõe não usar os mesmos métodos agressivos dos violentos, mas desarmá-los com atitudes que os desinstalem. Oferecer a outra face (Mateus 5,39), na verdade, é responder à violência com atitudes de gratuidade e de partilha, de generosidade e de solidariedade (Mateus 5,40-42).
Jesus propõe uma resistência digna aos ataques injustos, da mesma forma como ele mesmo fez ao ser agredido por um guarda do templo: “Se falei mal, mostre o que há de mal. Mas se falei bem, por que você bate em mim?” (João 18,22-23).
O amor e a oração removem o ódio ao inimigo (Mateus 5,43-48)
Jesus faz memória da lei antiga: “Amarás o teu próximo”. Levítico 19,18 ainda acrescenta “como a ti mesmo”. É a partir dessa antiga lei e de Deuteronômio 6,4-5 que Jesus formula o mandamento do amor, segundo os evangelhos sinóticos (Mateus 22,37-40; Marcos 12,29-31; Lucas 10,27-28).
É bom lembrar que em nenhuma parte da Bíblia se encontra “e odiarás o teu inimigo”. No entanto, há recomendações, tais como, ajudar o compassivo, o bom e o humilde, mas não acolher nem ajudar o pecador e o ímpio (Eclesiástico 12,4-7). É possível que Jesus quisesse lembrar que, diferentemente da obrigação de amar o seu irmão de fé, não era obrigação para o judeu amar os seus inimigos.
Na sequência, Jesus anuncia a novidade da justiça do Reino: “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem” (Mateus 5,44). O ódio não liberta ninguém. Pelo contrário, quebra ainda mais as relações humanas e prejudica imensamente a quem odeia, causando-lhe, inclusive, doenças. Somente um amor maior, fruto da oração, da íntima comunhão com Deus, é capaz de amar até mesmo pessoas inimigas.
Nisso está o que diferencia as pessoas seguidoras de Jesus das demais. Sua prática precisa ir além do comum, do ordinário. E Jesus cita os exemplos de publicanos, que somente amam aqueles que os amam (Mateus 5,46), e de pagãos, que somente saúdam a sua gente (Mateus 5,47). Nisso, porém, não há nada de extraordinário.
Somente vivendo uma justiça maior, seremos parecidos com o Pai, como filhas e filhos, uma vez que “ele faz nascer o sol sobre bons e maus” (Mateus 5,45) e “criou todo o ser humano à sua imagem” (cf. Gênesis 1,26-27).
Daí, o convite final, e ao mesmo tempo conclusão e chave que dá sentido à nova lei anunciada e vivida por Jesus (Mateus 5,17-47). Esse convite ainda soa forte para nós hoje: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,48). ‘Perfeito’ tem o sentido de ‘íntegro’, de ser parecido com o Pai, de ser como o próprio Pai. Lucas formula da seguinte forma esse mesmo convite da antiga lei (Levítico 19,2): “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lucas 6,36). Portanto, a comunidade de Mateus nos convoca a amarmos na mesma intensidade do amor de Deus.
“Amar como Jesus amou. Sonhar como Jesus sonhou. Pensar como Jesus pensou. Viver como Jesus viveu. Sentir o que Jesus sentia. Sorrir como Jesus sorria. E ao chegar ao fim do dia, eu sei que dormiria muito mais feliz.” (padre Zezinho)
por Ildo Bohn Gass
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