terça-feira, 6 de maio de 2014

Grandes Projetos. O decisivo está na "grande economia"


As obras da Copa inserem-se num programa maior: o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. O programa do PAC, por sua vez, insere-se num projeto de país, o crescimento econômico. A crença do governo é de que as obras do PAC – grandes projetos de infra-estrutura - são indispensáveis para a retomada do crescimento econômico, a geração de emprego e a distribuição de renda.

Por detrás dos grandes projetos está a reedição da concepção desenvolvimentista dos governos Vargas e JK – o Estado como facilitador e indutor do crescimento econômico.  O modelo econômico em curso não rompe com as opções estratégicas de antes: exportações baseadas em commodities minerais e agrícolas, agronegócio, grandes projetos sob a hegemonia de grandes grupos econômicos e financeiros, energia mesmo que ao custo de impactos socioambientais, industrialização e consumismo individual como estratégia maior.

O modelo em curso repete até mesmo os equívocos do modelo da ditadura em que o preço a ser pago pelo desenvolvimento vitima aqueles que se interpõem no seu caminho. A ideia é de que o ‘Brasil Grande’ não pode parar.

Na opinião de Eduardo Viveiros de Castro esse modelo está preso a uma lógica economicista. Segundo ele, “a esquerda em geral, tem uma incapacidade congênita para pensar todo tipo de gente que não seja o bom operário que vai se transformar em consumidor. Uma incapacidade enorme para entender as populações que se recusaram a entrar no jogo do capitalismo”.

Nessa perspectiva, diz ele, “quem não entrou no jogo – o índio, o seringueiro, o camponês, o quilombola –, gente que quer viver em paz, que quer ficar na dela, eles não entendem. O Lula e o PT pensam o Brasil a partir de São Bernardo. Ou de Barretos. Eles têm essa concepção de produção, de que viver é produzir”, diz Viveiros.

O Brasil poderia ter optado por um modelo diferente, apostado numa economia mais plural, porém, apostou todas as suas fichas e potencialidades no modelo produtivista-fordista. Descartou o seu potencial num modelo de ‘civilização ecológica’, como sugere Bruno Latour.

Latour afirma: “Penso que deve haver uma verdadeira revolução ecológica, não somente no sentido de natureza, e o Brasil é um ator importante”. Para ele, “a esperança do mundo repousa muito sobre o Brasil, país com uma enormidade de reservas e de recursos. Se fala muito do movimento da civilização na direção da Ásia, o que não faz muito sentido do ponto de vista ecológico, pois quando se vai a estes países se vê a devastação. Não se pode imaginar uma civilização ecológica vindo da Ásia”.

De novo o que se vê é um país subsumido à lógica economicista que sequer abre-se para outras possibilidades.
 


Fonte: IHU - Unisinos

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