Esta
reflexão descreve a cegueira de Pedro que não entende a proposta de
Jesus quando este fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como
messias, mas não como messias sofredor. Ele está influenciado pela
propaganda do governo da época que só falava do messias como rei
glorioso. Pedro parecia cego. Não enxergava nada e ainda queria que
Jesus fosse como ele, Pedro, o queria. Vamos conversar sobre isto!
SITUANDO
No início deste quarto bloco estão a cura de um cego -
Mc 8,22-26 -, o anúncio da cruz e a explicação do seu significado para
a vida dos discípulos - Mc 8, 27 a 9,1. A cura do cego foi difícil.
Jesus teve que realizá-la em duas etapas. Igualmente difícil foi a cura
da cegueira dos discípulos. Jesus teve que fazer uma longa explicação a
respeito do significado da cruz para ajudá-los a enxergar, pois era a
cruz que estava provocando neles a cegueira.
Nos anos 70, quando Marcos escreveu, a situação das
comunidades não era fácil. Havia muito sofrimento, muitas cruzes. Seis
anos antes, em 64, o imperador Nero tinha decretado a primeira grande
perseguição, matando muitos cristãos. Em 70, na Palestina, Jerusalém
estava sendo destruída pelos romanos. Nos outros países, estava
começando uma tensão forte entre judeus convertidos e judeus
não-convertidos. A dificuldade maior era a cruz de Jesus. Os judeus
achavam que um crucificado não podia ser o messias tão esperado pelo
povo, pois a lei afirmava que todo crucificado devia ser considerado
como um maldito de Deus (Dt 21,22-23).
COMENTANDO
Marcos 8, 27-30: VER - levantamento da realidade
Jesus perguntou: ''Quem diz o povo que eu sou?'' Eles
responderam relatando as várias opiniões do povo: ''João Batista'',
''Elias ou um dos profetas''. Depois de ouvir as opiniões dos
outros, Jesus perguntou: ''E vocês, quem dizem que eu sou?'' Pedro
respondeu: ''Tu és o Cristo, o Messias''. Isto é, és aquele que o povo
está esperando. Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre
isso ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, todos
esperavam a vinda do messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei,
outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz ou profeta. Ninguém
parecia estar esperando o messias servidor, anunciado por Isaías (Is
42,1-9).
Marcos 8,31-33: JULGAR - esclarecendo a situação - primeiro anúncio da paixão
Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e
afirma que, como o Messias Servidor anunciado por Isaías, será preso e
morto no exercício da sua missão de justiça. Pedro leva um susto,
chama Jesus de lado para desconcertá-lo. E Jesus responde a Pedro: ''Vá
embora, Satanás''. Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos
homens''. Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse a
palavra certa ''Tu és o Cristo''. Mas não lhe deu o sentido certo.
Pedro não entendeu Jesus. Era como o cego de Betsaida. Trocava gente
por árvore. A resposta de Jesus foi duríssima ''Vá embora, Satanás''.
Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta
os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que alguém o afaste da
sua missão.
Marcos 8, 34-47 - AGIR - condições para seguir
Jesus tira as conclusões que valem até hoje - Quem
quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me. Naquele tempo, a cruz era a
pena de morte que o Império Romano impunha aos marginais. Tomar a cruz
e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado
pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. A cruz não é
fatalismo, nem é exigência do Pai. A cruz é a consequência do
compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que
Deus é Pai e que, portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados
como irmãos e irmãs. Por causa deste anúncio revolucionário, ele foi
perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não
há que doar a vida pelo irmão.
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